segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Voltando ao Leste em Varsóvia

Há muitos, muitos, anos passei uns meses de Verão magníficos para lá da Cortina de Ferro, quando era mesmo isso: de ferro ferrugento e difícil de transpor. Vivi esse período, nos anos 80, na maravilhosa (mas triste) Praga da então Checoslováquia. Já nessa altura, tanto para os Checos como para os camaradas Alemães Democratas que eu "invadi" num fim de semana relâmpago a Berlim Leste (uma história de muro para cá, muro para lá que talvez conte um dia destes), a Polónia era uma espécie de patinho feio do Leste Comunista. Portanto a minha primeira viagem à Polónia na semana passada foi com esse estereótipo bem presente: se a RDA e a Checoslováquia eram tão tristes, pobres e paradas no tempo naquela altura, como seria a Polónia??? Esta antecipação do País não melhorou em 1990, quando de volta a uma Berlim já de muro caído assisti à invasão de polacos com ar maltrapilho, a maior parte para jogar à vermelhinha nas strasses de Berlim Oeste.


Foram apenas três dias (duas noites) em Varsóvia. A missão que me levou ao frio Polaco só me deixou disponível para explorar a cidade uns breves momentos: uma noite passeando sob a neve na Cidade Velha, onde cheguei de taxi, e uma noite e uma parte da derradeira manhã, antes de voltar ao aeroporto, na área do Centro, nas imediações do hotel. Deu para notar uma cidade que seguramente já deixou para trás a ferrugem do Regime Soviético e que apresenta todos os indícios de um cosmopolitismo e conforto crescentes. Cadê o meu estereótipo anterior? Nada... Viva a União Europeia! Do passado modesto restam apenas indícios subreptícios, como as lojecas de minúsculo comércio na zona do centro, sobrevivendo por enquanto aos arranha céus e grandes centros comerciais, e a proverbial antipatia dos polacos. Bem, não quero ser injusto, mas apesar de uma primeira reacção polida a qualquer pergunta, qualquer tentativa de conversa mais prolongada esbarra logo numas trombas defensivas... Também têm de fazer progressos na aprendizagem do Inglês. Quanto ao taxista que na primeira noite me trouxe ao hotel após a minha volta turística e que me queria levar 90 zlotys em vez dos cerca de 15 que paguei na ida, bem, não levo isso ao facto de ser polaco mas sim... fogareiro! São todos iguais, em todos o mundo... Para saberem mais vejam mas é as fotos no Picasa, sem deixar de ler as legendas!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Fumar confortávelmente é em Zurique...


Após longas horas de voo em ressaca de nicotina, qualquer fumador em trânsito desembarca num aeroporto de passagem com um só pensamento: encontrar um canto reservado para fumadores, acender um cigarro e inalar umas passas até ficar tonto... Quando se passaram 13 horas de abstinência atravessando meio planeta, estes minutos de intoxicação ainda possível na maior parte dos aeroportos do mundo (na América é que é mau, uma vez no JFK tive de fumar à socapa num canto...) sabem a ginjas, entre um voo e o próximo. Com um senão: os barracos dos fumadores nos aeroportos internacionais são normalmente sítios infectos, onde uma data de gente cadavérica com ar alucinado enche o ar de fumo e o pivete a cigarro esmagado incomoda até o fumador mais inveterado. Assim é em Frankfurt, por exemplo, por onde passo muito. Em Singapura, no Changi Airport, a coisa é mais decente, havendo até um jardinzinho exterior para a função, num dos terminais. Sabem que mais? Na realidade já não quero nem saber, pois já não fumo um cigarro há mais de um ano e portanto já não sofro das agonias dos fumadores voadores. E a conversa leva-nos a esta foto, tirada a semana passada no aeroporto de Zurique, que me fez relembrar esses tempos de agarrado à nicotina: pela primeira vez vi um sítio onde os fumadores são de facto tratados gentilmente! Não se trata do "barraco para esfumaçar" mas sim de um "Smoking Lounge", ou seja, está-se mais confortável na área de fumadores, com espaço e bons sofás, do que fora dela! Afinal ser fumador já não é tão mau assim...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O que não vi em Hamburgo


A resposta ao título é simples: não vi nada... Nem esta semana, em que tenho estado por estas bandas, nem das outras vezes nos últimos anos, a caminho do mar Báltico ou em visitas flash para reuniões apressadas ou jantares relâmpago.

Estou num hotel mais retirado, e a chuva do primeiro dia não me deu vontade de nada mais que não enfrascar-me com uns amigos no "portuguese quarter", uma zona cheia de animados restaurantes, ao jantar. Jantámos num rodízio brasileiro e fomos servidos por um total de uns seis meninos e meninas. A última era gorducha e quando lhe perguntei de onde era disse, estranhamente: Berlim! De facto curioso, porque todos os outros, malta nova, eram... portugueses! Bom, tinha de haver uma razão para as vizinhanças se chamarem "portuguese quarter"...

Apesar da primeira noite chuvosa, ontem e hoje tem estado um sol radioso. E mais uma vez verifiquei, no breve trajecto de taxi matinal e no regresso ao hotel ao fim da tarde (para me encafuar a escrever emails e a trabalhar afanosamente...), que a cidade é decerto encantadora. Achei piada à foto que podem ver, porque é parecida com uma recentemente tirada em Londres e igualmente improvável devido ao céu azul! Nem vale a pena dizer que sítio da cidade estava a atravessar e que góticos pináculos vislumbrava ao fundo, pois estaria a papaguear coisas de mapas e de guias em vez de as sentir. Talvez um dia possa ver Hamburgo com olhos de gente e então voltarei aqui ao Asteróide com algo mais interessante para dizer.

Entretanto já me irritei: este é o primeiro hotel no mundo em que deixo a camisa para lavar, dentro do saquinho próprio e com o papel preenchido, em cima da cama, de manhã, e chegado ao final do dia vejo que... a camisa suja continua lá, dentro do mesmo saco e ninguém tratou dela! Entrou em acção o melhor e o pior dos alemães: a recepcionista, ao telefone, informou que "teria de ter entregue a camisa na recepção"... E eu, cortante e agreste, dei ordem para se desenrascarem, pois o acontecimento era rídiculo! Resultou, os alemães são excelentes a obedecer a ordens: dentro de 5 minutos tinha a mestra da lavandaria a bater à porta, e passados 30 minutos tinha a camisa lavada e engomada de volta! Mas tive de ouvir primeiro a recepcionista a cumprir o dever solene de me informar que não tinham seguro, pelo que se a máquina de lavar ardesse eles não me pagariam uma camisa nova... Por amor de Deus!

domingo, 7 de setembro de 2008

Sobre expats, foreign workers e Ferraris

De volta à Cidade do Leão e prestes a voar para o Vietname de novo. O silêncio ensurdecedor do Asteróide teria que ser quebrado, e parece-me adequado fazê-lo estando aqui em Singapura, que é uma espécie de segunda casa para mim. Tem sido estranho, por estar num hotel em vez de estar em minha casa...Mas foi óptimo revêr amigos, voltar a guiar nesta bem organizadinha Legolândia, apanhar a AYE de manhã direito a Tuas, visitar clientes, ler o Straits Times, ir ás compras na Orchard Road (por exemplo para me lambuzar de livros na épica livraria Kinokuniya no Takashimaya...). Aqui parece que o tempo estica: trabalha-se afanosamente, eu ao ritmo de dois fusos horários diferentes, a modos que trabalhando dois turnos, mas ainda sobra tempo para os pequenos prazeres.

Singapura vive estes dias sob o signo da Fórmula 1. Nota-se nas muitas obras barulhentas que ladeiam a Orchard e a zona do Marina Square e da Esplanade onde os bólides vão rugir já no dia 28 deste mês, pela primeira vez aqui. Também será a primeira corrida de Fórmula 1 que decorrerá à noite, na história da modalidade. As avenidas ao longo das quais se fará o percurso da corrida já estão em grande parte ladeadas com as familiares vedações que ainda recentemente vira no Mónaco, no rescaldo do último GP aí disputado. Já estarei em Lisboa por essa altura. Quanto aos Singapurianos, não parecem muito entusiasmados. Só os Ang Mo (os brancolas...) parecem mais interessados. 

Os jornais e as rádios continuam a transmitir doses interessantes de acontecimentos locais. É o caso de vinte amigos de Singapura que foram passear de carro pela autoestrada Norte-Sul, que liga aqui o burgo a Kuala Lumpur ao longo de trezentos e tal quilómetros. Foram alvos de tentativas de abalroamento e um acabou mesmo por ser parado, levar um estalo, ficar a sangrar do nariz e sem a carteira... Mas que raio de notícia mais estúpida, dirão vocês! Acontece que os ladrões usaram um bruto Mercedes de alta cilindrada. E os tais amigos, na sua maioria,  iam cada um montado num Ferrari! Enquanto lia este fait-divers a beber o meu expresso num Starbucks da Orchard, hoje de manhã, passaram por mim uns cinco minutos, três Lamborginis e dois Class S... 

A mais recente polémica que tem invadido as notícias nas rádios e jornais nasceu com os planos para a criação de novos dormitórios para "foreign workers" num de muitos bairros de classe média aqui de Singapura. Vale a pena notar que existem aqui duas expressões para imigrantes: “foreign workers” e “expats” (esta última expressão é a abreviatura para “expatriates”). A distância entre ambas as expressões é de dois mundos, ou seja, a que vai do terceiro mundo ao primeiro mundo. Eu, por exemplo: fui um expat durante dois anos aqui em Singapura. O indiano que está a cozer dentro de um navio a soldar uma chapa é um “foreign worker”.

Os “expats” são normalmente esbranquiçados, ganham altos salários e beneficiam Singapura (nem que seja a esturrar dinheiro nas compras…). Toda a gente quer ter um expat como vizinho! Tão sorridentes, simpáticos, com ar próspero! Na realidade o som “expat” define tudo: é um nobre ser que com grande sacrifício foi “expatriado” para cumprir a sua função longe da família. Vêm de Londres, Paris, Melbourne, Olivais Sul…

O “foreign worker” é um elemento completamente diferente e indesejado. São muito mais escuros (normalmente…) e vêm de sítios chamados Narayanganj, Tiruvadanai ou Mantanao… Mas sem eles a Lyon City pararia e morria! Quem arranjaria os jardins, morejaria nas obras, suaria nos estaleiros, limparia o lixo? Os "foreign workers" já ultrapassam os 700,000 aqui em Singapura, para uma população de singapurianos aí pelos 4,5 milhões! Em Portugal, a mesma proporção resultaria em quase dois milhões de "foreign workers"...

Singapura tem tido algum sucesso a esconder os dormitórios aí pelos pedaços de selva que ainda restam, ou nas zonas industriais. Conheço quem se tenha dedicado com ferocidade a este nicho de negócio, engavetando milhares de trabalhadores no mínimo espaço possível (mas cumprindo requisitos mínimos impostos pelo governo) e cobrando pelo alojamento e refeições às entidades empregadoras. Mas o espaço não estica, principalmente em Singapura, e zonas mais urbanas passaram a ter vizinhos diferentes do que estavam habituados. Apesar de estes não terem muito dinheiro para se mostrarem muito, nem tempo para além de dormir e descansar devidamente, são vistos a fazer aquilo que todos aqui faziam abundantemente à 50 anos e agora acham impossível de testemunhar: cuspir para o chão, mijar nas esquinas escuras, embebedarem-se na rua… E as famílias respeitáveis? O que acontecerá quando forem de fim-de-semana e deixarem para trás a “made” filipina? É mais que certo que algum bangladeshi acabará a conspurcar os lençóis de cetim do quarto do casal!

Mas sabem que mais: estes clamores locais, a malta com “medo”, e “pruridos olfactivos”, é tudo uma grande treta! Na realidade o que preocupa o pessoal é o bago, a massa, o pilim! É que nos últimos 2 anos a febre imobiliária tem sido total, os locais compraram apartamentos para vender passado meses com 50% de lucro e foram viver para cochichos sub-alugados em arrabaldes como Jurong para poderem alugar o seu apartamento num condomínio chic a Ang Mos como eu, recebendo fortunas em rendas que duplicam cada ano e meio! E o que acontece àquela magnífica casa de dois milhões de dólares singapurianos (cerca de um milhão de euros) se lhe espetarem com 3000 bangladeshis a 50 metros de distância? Passa a ser um pardieiro a evitar, que talvez alguém mais distraído compre por uns 800,000 dólares… É que apesar de qualquer comparação ser mera coincidência, os locais sentem um dormitório para "foreign workers" como em Portugal se sente a Quinta da Fonte!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Namoro em Porto Galinhas


No Brasil é assim tudo a modos que aceso. Até as borboletas passam a vida nisto. Este par de lepidópteros foram apanhados pela lente do Asteróide, rabo no rabo, enquanto eu passeava por momentos fora do buggy em Porto Galinhas, em Maio. Tal como na foto de praia do post anterior, vale a pena clicar na foto para ver em detalhe.

Tailândia? Malásia? Bali? Nããã...

Comporta, Portugal! Está cada vez melhor, assim como a praia do Carvalhal e a do Pêgo: um luxo! E como são boas as arrozadas que se comem para aquelas bandas! E mais não digo, não tenho tempo nem para dormir como deve de ser, quanto mais para blogar... Mas vou ainda hoje colocar uma imagem bonita captada em Porto Galinhas em Maio, só para o Asteróide não cair por falta de força centrifuga.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Uma rapidinha Catalã


Já é costume, passo nos sítios sempre a correr... Desta vez foi Barcelona, por onde passei muitas vezes anteriormente, mas quase sempre em trabalho. A excepção foi há 21 anos, um par de dias e umas quantas fotos de mochila às costas, no regresso de comboio de sítios distantes (para a época...). E desta vez, de Domingo último a Terça-feira 10 de Junho, também não estive a trabalhar! O meu grupo de amigos estava apostado em beber alegremente e comer melhor durante o fim de semana prolongado, no âmbito de uma comemoração que não vem ao caso. Mas o físico já não aguenta como dantes e os meus companheiros já tinham gasto metade das baterias no Sábado, estando eu ausente, a berrar pela nossa selecção antes de desaguarem num bar turco lá para baixo para o porto de Barcelona. Resultado: uma rapidinha mais turística do que eu esperaria, que até Gaudhi permitiu rever (na foto uma imagem da maravilhosa Casa Batló). O mercado de La Boqueria recomenda-se, o Palau de la Musica Catalana maravilhou (até acabámos por voltar à noite para ver a Carmina Burana) e a Cidade Velha está agora inofensiva (há muitos anos só lá entrava depois de treinar um ar gingão...) e mais bela. As Ramblas estão como me lembro, embora não tão bas-fond lá mais para baixo. Comer em Espanha continua um dos meus desportos favoritos: desde as tapas ao balcão na La Boqueria até aos pinchos nos sítios próprios, lambuzei-me todo, a qualquer hora que me desse a fome...

Fotos há muitas, claro, tempo para as escolher e publicar online no Picasa é que escasseia... Tal como para as fotos do Rio, Coreia, Mónaco, Nice, Olinda, Recife, etc, etc... Para não falar de muito mais que está para trás. Um dia prometo recuperar o atraso!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Passando no Mónaco, mais rápido que um fórmula 1


Se no Domingo à noite fiquei em Nice foi porque tinha que fazer no Mónaco. Em Nice o Asteróide já tinha passado, de mochila às costas, coisa de 20 anos atrás. Mas no Mónaco nunca tinha passado as vistas! Portanto é bom poder apresentar uma prémiére. A foto apresenta-vos o Palácio do Príncipe Rainier e sua prole, sobre o Port de Fontvieille, perto do hotel onde me quedei na última noite. Tenho umas fotos de ontem à noite, tristes e sem nada de charmante (o desmontar do circo da Fórmula 1, na sequência do Grande Prémio do último fim de semana) mas que não deixam de ser uma visão do Mónaco. Agora ciao, mais logo regresso a Lisboa e espero poder descansar por aí uns tempos!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

De Copacabana para a Promenade des Anglais...


Vida de Asteróide é assim mesmo, fugaz sob cada bocadinho de céu... Ainda no último feriado do Corpo de Deus estava a banhos na Praia do Pêpê, mergulhando nas águas um pouco frias do Rio e fazendo safaris pelo areal atrás de um amigo local estudioso de bundas femininas. Ontem o sol já desaparecera (embora o frio se mantivesse afastado aqui da Côte d'Azur) e de repente a areia meridional foi substituída pelos calhaus rolados de Nice, os carochas pelos 2 CV e a noite de Niterói pela da Vieille Ville de Nice com os seus bares perto do mercado das flores. Em vez dos táxis do Rio, tinha à minha espera no aeroporto uma fila de táxis que começava no Class S e terminava no A6 3L, passando pelo X5... Bom, foi um final de Domingo fugaz mas que ainda proporcionou um belo jantarinho no Lou Nissart ("spécialiés Niçoises", 1 Rue d'Opera), recomendável a todos os títulos, principalmente pela verdadeira "salade niçoise" e por uns magníficos "testicules de mouton panés". A "Merda de Can" é que já não tive coragem de provar...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pairando sobre São Conrado, Rio de Janeiro


Pois foi assim, desta forma que a foto não consegue descrever devidamente dado o adiantado da hora, que este enviado do Asteróide fez jus ao título do post.

Trinta segundos antes da imagem captar o último sol Carioca do dia 20 de Maio do ano da graça de 2008, estava a correr pela rampa de voo livre da Pedra Bonita, um íngreme acidente rochoso coberto de selva que faz parte do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, mesmo ao lado da Pedra da Gávea (800 metros de rocha arraçada de Pão de Açúcar subindo directamente da margem do mar). Para lá chegar tinha trepado pelo morro num buggy negro, o pedaço de carro mais barulhento do hemisfério Sul, carregando as minhas asas e mergulhando na Favelinha e na selva do Parque. Encomendando a minha alma ao criador enquanto corria apontado para Sudeste, olhava só em frente enquanto dava à perna, só em frente, para a lua nascente no mar sobre o arquipélago das Ilhas Cagarras, os tons alaranjados do fim do dia, a praia de São Conrado e os blocos de apartamentos encostados à mesma, um quilómetro adiante. Nunca para baixo, seiscentos metros mais abaixo, onde à selva do morro se sucediam depois as luzes do trânsito fluindo do final da Niémeier e na autoestrada Lagoa-Barra, a caminho do Elevado do Joá, um dos pedaços de estrada mais bonitos do mundo, com as suas faixas sobrepostas penduradas sobre a ravina à beira-mar...

Passados uns intermináveis e palpitantes 1000 milisegundos correndo, precipitava-me no espaço, precariamente pendurado numa asa delta junto com um voador encartado. Foram doze minutos de voo planado soberbo, com uma vista de cortar a respiração, até dar a volta sobre o mar e aterrar suavemente na praia. As fotos tiradas com a máquina de comando remoto fixada na ponta da asa não estão grande coisa mas o filme, com outra câmera e acompanhando todo o voo, reflecte mais honestamente uma experiência recomendável a todo o tipo de passeante no Rio, mesmo aos que como eu, com roupa de Ver-A-Deus (que é como quem diz de visitar clientes...), se limitou a ceder a um impulso de fim de dia.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Maria Bonita no cimo da ladeira



Não sei o nome da senhora da foto, com quem me cruzei no cimo de uma das principais ladeiras de Olinda, Pernambuco. No entanto, olhei para ela como uma aparição fruto de uma anomalia do espaço-tempo algures em 1938 que tivesse permitido a uma versão de Maria Bonita escapar do cerco que a polícia montou aos canganceiros de Lampião em 1938 (se não perceberem de que estou a falar leiam o post anterior...). De facto a Maria Bonita poderia bem aparecer assim na foto, em 2008, mostrando o único dente que teria sobrevivido à acidez inclemente da vida no Nordeste para a população mais desfavorecida. Apesar de Maria Bonita me ter sobressaltado um pouco quando, ainda sem sorrir, se aproximou silenciosamente como uma sombra a sair do escuro da Olinda antiga, quando tirava fotos do cimo da ladeira, o sorriso que aqui apresento foi, apesar de toda a destruição em volta, uma espécie de sol que revelou tudo o que de feliz se possa ter passado na sua vida. Com o sorriso até a ladeira se iluminou e relembrou a sua fama: sim, porque estamos no exacto local onde todos os anos se festeja aquele que é considerado o melhor Carnaval do Brasil (e portanto do mundo...), com multidões sorrindo como Maria Bonita e descendo esta mesma ladeira em frenéticas ondas de côr, alegria e ritmo, esquecendo por um dia as suas dores...

domingo, 18 de maio de 2008

José Augusto "Lampião", cordelista encartado

Apresento-vos José Augusto, apelidado de Lampião pela polícia (segundo o próprio fez mesmo muita maldade no passado...). Vale a pena relembrar que Lampião foi bandido famoso por estas bandas do Nordeste: ele e a sua garota, Maria Bonita, ambos mortos a tiro pela Polícia em 1938, estão para o Brasil como Bonnie & Clyde estão para a América.

Mas o Lampião aqui apanhado pelo enviado do Asteróide em Olinda, 6 Km a Norte do Recife, parece deveras inofensivo. E é membro orgulhoso da União dos Cordelistas de Pernanbuco, vendedores ambulantes de literatura de cordel! Bebendo uma cerveja bem fresca perto da Sé desta cidadezinha Património Mundial da UNESCO, escolhi uns quatro pasquins vendidos pelo Lampião enquanto o personagem relatava as suas aventuras na América, contratado por um famoso realizador gringo que se tornara fã dos dotes do Lampião como figurante. Desde que fora principescamente pago com 8000 dólares para figurar num filme rodado aqui no Brasil não mais parara, tendo na América passado pelos sítios mais incríveis, como a Arábia e o Benfica (momentos antes tinha eu explicado qual o outro significado do Lampião...).

Fica para a posteridade um par de versos no início da obra "A Moça Que Foi Vender o Piriquito em Piancó", do poeta Paraíbano José Costa Leite. Se quiserem saber a história toda convidem-me para uma cerveja ou venham a Olinda procurar o Lampião!
Leitor leia este cordel / Que vai ser do bom-só-só /E quem escutar também / Vai sorrir de fazer dó / Aqui eu vou descrever / A Moça Que Foi Vender / O Periquito em Piançó.
(...)
Do casal houve uma filha / Com o nome de Alzira / Que tinha os olhos azuis / E os dentes de safira / Duma beleza divina / E é sobre essa menina / Que minha pena se inspira.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Mais um quarto com uma vista...



Talvez um dia publique um álbum de fotos no Picasa só com vistas dos quartos dos hotéis e apartamentos por onde o Asteróide vai passando. Esta é a mais recente, tirada um minuto atrás no Recife, Estado de Pernambuco, Brasil. Infelizmente não tem vista mar, mas a praia está aqui bem pertinho... Infelizmente chove muito nesta época, as obras do Porto de Suape (uma mega infraestrutura em construção aqui perto) estão a desassossegar os tubarões (parece que não aconselham os banhos...) e o Recife continua a acordar os moradores pelas 6 da manhã com o romântico estralejar de tiros ao longe. Pelo menos a mim acordou-me! Até breve.

PS: Será que inventei a palavra estralejar? Tou no sítio certo para tomar tal liberdade, né?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Até parece que está sempre sol em Londres...


Palavra, não sei se é sorte ou se os Deuses me protegem muito justamente por ser bom rapaz. Mas a verdade é que sempre que passo em Londres apanho um sol maravilhoso. Esta foto foi tirada hoje e, como há umas semanas atrás, a imagem é tudo. Os indígenas de manga curta, felizes da vida... Até num solene evento de um organismo pertencente à ONU, com sede em Londres, onde delegados de todos os países, bem enfarpelados nos seus fatos caros, buliam como formigas e conspiravam como cigarras, o ambiente era sorridente e brilhante como o sol. Qual nevoeiro, qual frio, qual chuva: quando for velhinho reformo-me e vou viver debaixo do sol Londrino!

Vem um gajo à terra para isto?


Podem crer que chego a sonhar com os Pasteis de Belém quando ando lá por fora. É portanto com grande desgosto que recorrentemente me apercebo que os ditos cujos só podem ser adquiridos nas grutas de Belém, aquele sítio onde sala após sala foi sendo adquirida aos vizinhos. Infelizmente, para os donos da chafarica, a ideia de expansão do negócio não vai além do quarteirão... Resultado: passo eu pela terra num fim de semana de sol, babando-me de antecipação, conseguindo até arranjar lugar para estacionar bem pertinho (eu a pensar que era um bom augúrio...), tudo para desistir de concretizar o sonho ao deparar com uma fila interminável de gulosos, a maioria estrangeiros, que se prolongava dezenas de metros pela rua. Acho que os Pasteis de Belém deviam ser nacionalizados e a receita distríbuida pelas pastelarias de todo Portugal. E já agora em Singapura, Macau e Rio de Janeiro também. Éta se as Brasileiras não adoram os Pasteís de Belém! Tenho dito.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Na Coreia, maribando-me para o turismo...


Ainda hoje, onze dias após a mãe desta menina me ter pedido para tirar uma fotografia comigo lado a lado com a filha, ainda não percebi qual era a ideia... Aconteceu em Seoul, na Coreia, e aproveitei para lhe pedir para tirar a foto pela segunda vez, desta feita usado a minha camera. Claro que me recortei para fora da imagem... Enquanto estávamos nisto, a menina ia-me perguntando em bom inglês mas com voz de autómato: de onde vem? O que é que faz? Como se chama? Bom, quando por sua vez a mãe me começa a perguntar qual a minha cor favorita e o meu número da sorte comecei a afastar-me com um sorriso, já a pensar que não tardava nada estava a ser cravado para me poderem proteger do mau olhado...

Infelizmente não tenho muito para vos contar da Coreia: cheguei na manhã de um Sábado vindo de Saigão, muito mal dormido no avião, e no Domingo voei de novo de Seoul para Ulsan, no Sul. Na segunda feira já estava a voar de volta para Singapura. E o corpinho já não aguenta tanta andança: de facto o meu Sábado turístico em Seoul limitou-se a umas horas de passeio a pé nas imediações do hotel, bem central (em Gwanghwamun). O passeio levou-me a uma das zonas mais animadas de pequeno comércio e restauração, Myeong-Dong, onde esta foto (e a maioria das que tirei em Seoul...) foi tirada. Infelizmente já não visitei um dos mais cobiçados destinos túristicos em Seoul, o complexo do palácio Gyeongbokgung, o Palácio da Felicidade Rebrilhando, mandado erigir pelo Rei Taejo na sua nova capital Seoul quando para aí se mudou no século XV. Ficava a apenas dez minutos de táxi do meu hotel... Mas após o meu passeio e almoço estava esgotado, ainda com uma semana de Vietname no lombo, pelo que acostei nas saunas do hotel, onde fiquei rebrilhando de suor, mergulhando em água quente, sendo macerado por um gajo tipo Buda que me arrancou a pele e me deixou cheio de nódoas negras com umas ventosas supliciantes que me aplicou, ahh, tudo isto para acabar nas mãos duma jovem massagista coreana que me fez esquecer o torturador anterior. Foram 3 horas, desde os primeiros banhos até à última massagem, que finalmente me recuperaram para a vida. Que se lixe a Felicidade Rebrilhante do Rei Taejo... Das poucas fotos de Seoul, e algumas de Ulsan, que foram tiradas, o Asteróide há de dar notícias um dia destes. Eventualmente.


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Saigão 2008: é ver, é ver, não fica assim muito mais tempo!


Na terceira visita a Saigão, depois de lá ter estado em 2006 e 2007, a mudança em curso é notória: mais carros, mais motas, e algop parecido com uma ordem a emergir (mas ainda muito ténue...). O barulho infernal da apitadela compulsiva continua mas começa a ver-se o esforço de alargamento das ruas e da disciplina que se tenta impor no trânsito. Arranha céus modernos começaram entretanto a brotar, lojas mais decentes surgem, Saigão faz finalmente juz ao excelente café apresentando um número crescente de agradabilissimos ciber-cafés sofisticados... A travessia das inúmeras pontes da cidade já não dá sempre a sensação de se estar a passar um esgoto a vau, ao contrário do que acontecia num passado recente. Enfim, o mundo pula e avança, ao ritmo de 100 novos carros e 300 novas motas registadas em Saigão... POR DIA! O governo em dois meses já aumentou o imposto sobre importação de carros por duas vezes (é agora de 85% do valor da importação), a inflação galopa para a casa dos 20%, o imobiliário em Saigão atinge preços do mais caro da Ásia, mas a febre não pára. Vejam as fotos da cidade tal como está hoje: não vai ficar assim muito tempo! Também já podem ver online o habitual álbum de fotos dedicado às pessoas e suas vidas, mais que aos lugares: a não perder os últimos apanhados do povo mais fotogénico do mundo! Desta vez comecei em Ho Chi Min (Saigão), passei para Nha Trang e Cam Ranh a cerca de 400 Km a Norte, depois voei para Danang (ainda mais a Norte, talvez a uns 800 Km de Ho Chi Min, já no Vietname Central), de onde dei um salto a Dung Quat, isto antes de regressar voando a Saigão onde passei ainda dois dias. Muita gente fotografada à pressa pelo caminho e também fotos dessas paragens, que colocarei online em breve.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Regresso à Cochinchina


De novo na terra do melhor café do mundo (qual bica, qual Itália, nem mesmo o Nespresso lá de casa se aproxima ...), das massagens sumptuosas, de um mundo a mudar rápidamente, do paraíso dos fotógrafos mal jeitosos como eu. Estou a falar-vos, claro, do Vietname. Onde nem tudo é bom: a cacofonia constante das apitadelas do trânsito, a mania de espetar com um pedregulho de gelo dentro dos copos de cerveja, enfim...

Desta vez o asteróide tem singrado mais para Norte: começou em Ho Chi Min (Saigão), passou para Nha Trang, de praias excelentes e com uma das baías mais belas do mundo, agora paira sobre Danang, para onde voei esta manhã.

A moça da foto foi surpreendida através do vidro do restaurante onde almoçava, pelas 11 da manhã. Ela vendia jornais, eu comia galinha, apresentada na travessa com cabeça e tudo, acompanhada por umas saborosas flores cozinhadas a modos como se fossem grelos.

Fotos não faltam (falta é tempo para as publicar...), principalmente dos autóctones, espantosamente fotogénicos nas suas exóticas lides. Hoje consegui um par de horas disfarçado de turista, subindo a ladeira dos pagodes de Ngu Hahn Son e bebendo cerveja e petiscando na praia de Non Nuoc, quilómetros de areia branca em tempos apelidados de China Beach por um grupo de marines fazendo wind surf enquanto eram espiados pelos Viet Congs... Quanto a Hahn Son é a capital dos mármores, orgulhosa de ter fornecido o material para o mausoléu de Ho Chi Min em Hanói e onde estátuas de todos os tipos e dimensões se aninham no sopé de colinas verdejante, esperando pelos turistas para as comprar.


Até à próxima

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A gente da terra dos gerúndios

De facto “está faltando” relatar muita coisa sobre a minha foguetória passagem recente pelo Brasil, em duas semanas demasiado aceleradas entre final de Fevereiro e início de Março últimos. Foi uma semana no Rio, com base na Barra, e outra semana rodopiando por parte do país, com São Paulo a servir de dormitório e os seus aeroportos (usei os dois...) no papel de placa giratória. Dormir quatro horas em São Paulo entre o avião de regresso de Ipatinga, a Capital do Aço de Minas Gerais, e o pássaro que me levou no outro dia antes da alvorada para Camaçari, Bahia, não é propriamente fazer turismo... Ainda deu para passar de carro na Avenida Paulista há noite e nada mais. Do Estado de São Paulo acabei por conhecer, a 100 Km da grande cidade, a bucólica Quiririm, o maior contraste possível com a megapólis...

Como eventualmente já leram mais abaixo, estou em Singapura, agora como visitante apenas, mas sinto um certo remorso por ainda não ter declarado alto e bom som que SIM, é VERDADE, e só peca por defeito: o Rio de Janeiro é de facto a Cidade Maravilhosa! Que dizer do Rio? Vou guardar comentários para um post mais tarde, quando publicar no Picasa as fotos da cidade.

Ficam para já a estranheza desse país de uma força estonteante que é o Brasil, onde tudo é violento, ou belo, ou arrebatador, ou louco, ou uma mistura de tudo isto ao mesmo tempo. Este turbilhão é depois temperado pela exótica pitada do português falado já em conformidade com o Acordo Ortográfico que será assinado no ano de 2124... Quem se poderia lembrar de chamar a uma pen-drive USB de “chupa-cabra” se não os brasileiros?! E que dizer do “camelódromo”, que ao contrário do que possam pensar não é um sítio para corridas de camelos como no Dubai? No Brasil um “camelódromo” é um mercado de venda ambulante, sendo os vendedores itinerantes alcunhados de “camelos”.

O Brasil não consegue ser descrito, então por um falta de jeito como eu. Não sabendo como o descrever, vou dizendo que é o sítio onde por exemplo uma propaganda do Estado clama “O Candidato que Você Elegeu é Você Lá. Olho nele!”. Poxa vida... E que dizer das estatísticas? Dezassete assassinados por dia no Rio, quatro dos quais na Barra da Tijuca, supostamente um canto mais calmo, a 500 metros do meu hotel numa manhã em que devia estar a dar o mergulho das seis da manhã: bandidos mandaram granadas, abalroaram carro da polícia e finalmente foram feitos em picado, os quatro, a tiro de metralhadora. Outra estatística: uma média de dois moto-boys morrem diariamente no Rio (os moto-boy são os estafetas que compõem o sistema circulatório documental da cidade, porque correio não é fiável para os negócios). E as praias que nunca mais acabam, a praia omnipresente do Rio? Na realidade não se sabe bem o que é PRAIA antes de ter ido ao Rio... Tudo isto com um certo ar de familiaridade, como quando dei comigo, no único dia que parei para um chôp de fim de tarde na Praia do Pêpê, a cumprimentar um conhecido actor de novela que me foi apresentado enquanto passava de calção de banho e prancha debaixo do braço.

Para lá do Rio, nas minhas voltas, ficou a constatação que as línguas de raiz índia (Tupí-Guarani) se mantiveram fortíssimas na toponímia dos lugares. Estive em Quiririm e Caçapava no estado de São Paulo, em Camaçari na Bahia, em Ipatinga em Minas Gerais...

Bom, por hoje chega de Brasil... para lerem mais esperem que eu volte a ter tempo. Talvez em Maio, quando estiver de novo por aquelas bandas, desta vez apontado ao Recife. Entretanto já podem ver online um álbum de fotos da Bahia (desta vez pouco vi da Bahia, as fotos são de 2005 quando estive em Salvador) e outro de fotos à traição no Brasil desta última viagem: pessoas, animais e coisas apanhadas enquanto passava a correr...

Já com a consciência mais tranquila, deixarei agora o Asteróide subir para Norte, até ao Vietname que desta vez vou conhecer em maior extensão durante a próxima semana. Depois, uma saltada mais a Oriente, o meu recorde em teremos de deslocação para Leste: a Coreia. Não prometo quando voltarei a dar notícias!

Crime, crime, crime: o caso do terrível chihuahua malaio

Enquanto a crónica das escaldantes noites de Singapura (dark side...) se faz esperar, acho adequado mitigar-lhes a impaciência (já que tenho estado aqui por Singapura desde a última semana, de passagem) com um parente, embora pobre, do sexo: CRIME!

É assim que vos apresento o criminoso Liu Liangwu, que escapou por um triz a ser engavetado por 12 meses por ter sido apanhado a entrar na República de Singapura com uma arma proibida, na fronteira rodoviária com a Malásia. Safou-se pagando uma multa de 10,000 SGD (cerca de 4650 EUR ao câmbio de hoje), o que eu acho uma prova da doçura com que Singapura trata este tipo de empedernido facínora. Na imagem acima exponho-vos o Criminoso e a Arma do Crime (um Chihuaha de aspecto nitidamente letal, capaz de provocar uma mortandade na população local de pitons, iguanas ou coreanos por atentado à digestão).

À parte o Caso do Vil Chihuahua de Johor Bahru, ali do outro lado da ponte (de lá só vem desgraça, desde que o Sultão de Johor se aliou aos Holandeses para correr com os portugueses de Malaca) ficam as 10 acusações de maus tratos que recaem sobre uma senhora local. A pobre senhora está em risco de pagar 1500.00 SGD (700 EUR) de multa por ter repetidamente esmurrado, puxado os cabelos e dado com a colher de pau à sua empregada indonésia.

De resto, crime à parte, a vida é boa aqui em Singapura (excepto para mim, que trabalho como um cão – mas com gosto - deixando o Asteróide à deriva). Os preços de compra e aluguer de casas começam finalmente a travar a subida. Chegado o fim do prazo de entrega do IRS só 15% ainda não entregaram a declaração (ainda o podem fazer na net, como já fizeram cerca de um milhão de contribuintes, de um total de 1,5 milhões de pagantes). O Cristiano Ronaldo aparece todos os dias em pelo menos um jornal. O Singapore Flyer, a maior roda gigante panorâmica do mundo (165 metros de diâmetro deu finalmente a sua volta inaugural para fazer inveja ao London Eye. Os indonésios aqui do lado são gozados por um Presidente da Câmara estar a ameaçar uma dançarina-cantora de dangdut com uma proibição de actuar se não aceitar tornar o seu espectáculo menos sexy. “Jovens do sexo masculino disseram-me que ficavam sexualmente excitados quando vêem Dewi Persik actuar”, acusou uma líder religiosa indonésia, o que levou Dada Rosada (!) o Presidente da Câmara de Bandung, a proferir que “o que desperta o apetite sexual não é arte...”. Alamah! Fiquei com vontade de apanhar o ferry para Java...

segunda-feira, 31 de março de 2008

Último da espécie?


Primeiro não queria acreditar no que ouvia. Um silvo agudo subia e descia de tom, levando-me consigo muitos anos (décadas!) atrás, aos tempos em que no meu bairro se ouvia o mesmo assobio com frequência. Depois, para além de ouvir, vi, incrédulo, algo que pensava já estar extinto à uma eternidade: o Amolador! Com esta foto, que por incrível que me parecesse foi tirada numa manhã de um Sábado de Março do ano do senhor de 2008, ali para as bandas da estação de comboio do Areeiro em Lisboa, faço uma homenagem a estes bravos exploradores de "niche markets" da cidade, verdadeiros heróis da mais antiga das publicidades: o assobio aos quatro ventos!

Nota: eu sei que o Asteróide anda preguiçoso, apesar do muito que tem para publicar sobre as voltas recentes nas terras de Vera Cruz, mais as voltas passadas em muitos outros sítios. Lentamente, no entanto, espero que se ponha em movimento de novo... Agora em órbita geostacionária na Europa do Sul (que é como quem diz lá para as bandas dos Olivais...), estará em breve de regresso à Ásia para mais um périplo errático. Até já.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Crónicas do Rio: porque se come um bom rodízio em Singapura


Olhando vocês para a foto do mítico Copacabana Palace, auto intitulado “o mais famoso hotel da América do Sul, hospedando ricos e famosos desde 1923” perguntarão: o que tem o título deste post a ver com a foto? Tudo, garanto-vos! Dias atrás, estando eu no Rio de Janeiro a tirar apressadamente a foto enquanto o carro parava por segundos entre a praia de Copacabana e a branca beleza que aqui ilustro, veio-me à memória uma estória que me foi contada por dois manos brasileiros do Paraíba há cerca de um ano atrás. Estava nessa altura a ser servido de um belo pedaço de picanha no Mamma Lucia, em Robertson Walk, zona medianamente animada da noite de Singapura.

Não custa pensar que há 508 anos atrás um qualquer obscuro grumete da frota de Cabral, depois de escala retemperadora nas terras de Vera Cruz, se tenha feito à vida em Calecute para mais tarde chegar a Malaca pela mão de Afonso de Albuquerque. Não deixa de ser plausível também que o mesmo moço possa ter acabado por desaguar nos pântanos da Singapura de então, caso se tivesse deixado aprisionar por algum nefasto pirata javanês do Estreito. Terá sido, o dito grumete, o primeiro ser humano a fazer a rota Brasil-Singapura! Não custará portanto muito fazê-los acreditar que, passados vários séculos de evolução dos meios de transporte, um empreendedor Singapurense tenha decidido tirar um ano sabático para viajar pelo mundo nos anos 90. O Mr. T. (chamemos-lhe assim...) acabou por passar pelo Rio de Janeiro e, encantado por aquelas paragens, por ali ficou uns tempos. Um modelo de negócio particularmente inovador (para ele) chamou-lhe a atenção: o rodízio brasileiro, em particular aquele que via diariamente ser principescamente servido na churrascaria do Copacabana Palace. Homem de meter a mão na massa, arranjou trabalho a servir à mesa nessa mesma casa, anotando cuidadosamente todos os detalhes de um filão que contava poder reproduzir em Singapura. Até o dia em que foi apanhado...

Aconteceu quando Mr. T. foi visto por um colega recolhendo ao lar após uma jornada de árduo trabalho... num quarto do Copacabana Palace, o mais caro hotel do Rio! Informado, o gerente da churrascaria não descansou enquanto não se sentou com Mr. T. para pôr tudo em “pratos limpos”. Dessa conversa saiu algo que ainda hoje eu e os meus amigos Tugas em Singapura podemos usufruir: as várias churrascarias brasileiras de nível entre o aceitável e o bom que pululam na Lyon City. De facto Mr. T. regressou a Singapura para fundar a churrascaria “Brasil” da 6th Avenue e com ele trouxe uma selecção brasileira de excelentes funcionários brazucas, cedidos pelo novo sócio de Mr. T: o gerente do Copacabana. Foi o começo da saga. O primeiro assador-mor, tio dos meus amigos Paraíbas do Mamma Lucia, foi trazendo cada vez mais família, fulano traz sicrano, o novo modelo de restaurante pegou de estaca, os imitadores surgiram (o Carnivor do Chijmes e do Vivo City até já virou “franchise”...), mais Brasileiros vieram. Enfim, uma multidão de dignos herdeiros do grumete quinhentista, todos ao espeto!

Um bom epílogo para esta saga: um dia estava um amigo meu, Tuga dos sete costados com raízes no Vale de Alcântara, a confraternizar com um empregado de um restaurante em Saigão, Vietname, quando ao falar sobre o Mamma Lucia de Singapura (o restaurante, tal como o empregado, eram Brasileiros...) o seu interlocutor se deixa surpreender com os olhos marejados de lágrimas. Pois o nosso Paraíba em Ho Chi Min era, nem mais nem menos, que um irmão há muito não noticiado dos nossos amigos do Mamma Lucia! Mas que cadela de caipirinha, quando para Singapura se trouxeram as notícias deste afastado mano...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Um quarto com uma vista: Rio de Janeiro, seis da manhã


Depois de ler o post anterior alguém se preocupou que eu estivesse a ficar com os pés frios, abandonadas as paragens exóticas da Ásia (pelo menos não tão visitadas). Não se preocupem, já estou a aquecê-los de novo, desta vez para Oeste, na "Cidade Maravilhosa". Fiquem por enquanto com esta vista do meu quarto, na Barra da Tijuca, tirada há pouco. Uma "Glorious Morning" como deve de ser, em que antes de tomar o pequeno almoço pelas 7.30 já vi e enviei emails e dei dois mergulhos na praia do Pepê... Até breve!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A glorious morning


No seu início, nada neste dia de 18 de Fevereiro de 2008 deixava adivinhar a foto que aqui apresento. O dia começara às 5 da manhã em Lisboa, com a cidade sob um dilúvio apocalíptico e eu de sapatos na mão, descalço e com água pelos joelhos para conseguir alcançar o meu carro, na garagem inundada do meu prédio. No par de quilómetros até ao aeroporto vi o caos que se formava, com carros bloqueados por grandes lençóis de água aqui e ali. No entanto, umas horas depois, estava no quentinho de um táxi londrino a fotografar esta imagem solarenga do Big Ben em Londres. Os bifes passavam sorridentes nas ruas, até os condutores dos carros a passo de caracol na M4 pareciam descontraídos e afáveis. Enfim, quando regressei a Lisboa, ao fim do mesmo dia, pensava como é sensato refrear a confiança em estereótipos... Este post é dedicado aos meus amigos que vivem ou já viveram em Londres. Para os primeiros é uma mensagem de esperança: nem sempre Londres é cinzenta, escura e molhada, e nem sempre o regresso à Pátria resolve a falta de sol! Cliquem aqui para verem mais fotos de sol Londrino.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Bienvenidos a Houston, Texas!


Estou siderado: os Estados Unidos da América são, hoje, um país completamente bilingue (inglês e espanhol). Escrevo-lhes de Houston, de onde daqui a poucas horas voltarei a embarcar de volta a Newark e daí para Lisboa. Foi uma visita relâmpago: saí de Lisboa Domingo e depois de muitas peripécias consegui ter ontem em Houston a reunião de uma hora e meia para a qual me desloquei ao Oeste. Como tal não tive tempo para fazer de turista, mas foi o suficiente para me aperceber que o espanhol se ouve na rua, no hotel, no aeroporto tanto ou mais do que o inglês e que todas (mas TODAS) as indicações que vejo, desde o aeroporto de Newark até às vias rápidas de Houston no Texas surgem dobradas, em espanhol e em inglês. Até a vida selvagem, neste caso os abutres dos advogados, se faz anunciar em Espanhol, como se pode ver na foto tirada em Houston.
Á parte o omnipresente espanhol (a pressão demográfica é de facto algo esmagador, só na cidade de Houston, 4 milhões de habitantes, estima-se que vivam 400,000 imigrantes Mexicanos ilegais...) e a confirmação dos hábitos necrofágicos dos abutres, pouco mais recolhi neste pulo-vou-num-pé-venho-noutro. Tenho umas fotos dos arranha céus de “down town Houston” (tiradas da “highway”), umas fotos dos principais monumentos do Texas, ou seja, as refinarias a perder de vista (tiradas da “highway”...) e também um sortido de semáforos, cartazes orientativos, camiões titânicos e pick-ups gigantes com condutores gordos: tudo tirado na “highway”! Talvez ponha o album no Picasa um dia destes, o mundo real também é feio e monótono de vez em quando... (nota posterior: já podem espreitar algumas fotos no Picasa)
Ah, ia-me esquecendo: abaixo a TAP! O voo Lisboa-Newark foi cancelado, embarquei com duas horas de atraso no voo seguinte, um avião raptado no Porto (era para ter ido directo e teve de apanhar as sobras de Lisboa...), perdi mais uma hora na pista da Portela encolhido no assento enquando arranjavam uma avaria na porta do porão, finalmente chegado a Newark já tinha perdido a ligação da Continental para Houston mas ia a tempo de apanhar o último voo do dia ainda disponível, não, seria bom demais, era um avião da TAP, amocha aí, mais uma hora parados na pista, desta vez em Newark, até nos darem uma porta para desembarcar... De cortar a respiraçã, hem? Tudo isto foi péssimo, não acham? Ainda não viram nada... Eu e a minha dor de costas já espumava quando os serviços da TAP em Newark me informaram que eu tinha mesmo acabado de perder o último voo para Houston, devido ao atraso no desembarque... Despejaram-me num hotel ranhoso no aeroporto, onde dormi 3 horas para apanhar o voo das 5:30 que a TAP me reservara. Reservara? Nãããooo, claro que o código de reserva que eu tinha no papel que a TAP me dera não era válida, a menina da Continental não me podia pôr no dito voo, nem no seguinte que também estava cheio, só no das 8:50 que já chegava tarde para a minha reunião em Houston! Inenarrável... Bem acabei por ter a sorte de, em lista de espera, conseguir arranjar um lugar no das 5:30, devido à desistência de outros passageiros. Agora ala, vou para o aeroporto de novo, até me arrepio a pensar que aventuras me esperam agora no regresso! Até breve.

O mico da Sentosa



Já vos tinha falado (quando vos apresentei o Louro de Bukit Timah) sobre a relativa riqueza da vida selvagem de Singapura, tendo em conta que é um território essencialmente urbano. Esta é uma oportunidade de mostrar mais um cromo. A foto tirei-a em Sentosa, a ilha que faz de Costa da Caparica para os singapureanos. Estava numa das praias, neste caso a Tanjong Beach, no único dia de Janeiro passado em que me permiti ir a banhos. Claro que entretanto, regressado ao frio de Lisboa no Inverno, já estou com saudades do calor... De qualquer forma escrevo este post não para falar de praia mas sim para expor mais um troféu na minha colecção de vida selvagem. O mico que aparece na foto (na realidade não é um mico, é maior) visitou a praia e estava nesta altura a fugir pelos telhados do bar que abastece os banhistas. Entretanto, através de uma notícia no Straits Times, fiquei a saber que em Singapura também há pangolins, um exemplar dos quais foi visto e fotografado em cima de uma árvore na cidade à vista de todos. Para quem não sabe, o pangolim é um bicho esquisito, assim a modos que um papa formigas escamudo com uma costela de preguiça. Até eu fiquei espantado com a sua existência naquelas bandas!
Já agora um aparte para os meus amigos de Singapura: na foto do macaco podem ver, mais à esquerda, o que parece ser uma camera de vigilância video. Será? Alguém que passe na Tanjong Beach nos próximos tempos poderá tentar verificar antes de fazer figuras indecentes na praia... ;-)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

"Joga bonito" leva seis na pá...


Acho que foram seis-a-zero, mas como a foto que acima documenta ninguém nessa noite de 31 de Outubro do ano passado ficou deprimido. Éramos seis tugas, um sérvio, um equatoriano e, claro, uma maioria de Singapurenhos, jogando futebol 11 contra outra equipe de jovens jogadores locais. Relembro este episódio um pouco por saudosismo, pois embora esteja a escrever-vos de Singapura vou no final da semana voltar à base. E apercebo-me que me fartei de escrever sobre os arredores Asiáticos aqui da Lion City e nem por isso sobre Singapura, onde tenho vivido. Vou fazer por recuperar terreno neste capítulo.

Infelizmente não houve arte futebolística que nos safasse... Os adversários jogavam todas as semanas, eu por mim já não jogava desde que o Reagan era Presidente dos EUA (acho...) e todos os tugas apesar de darem uns toques jeitosos não estavam rotinados na coisa. Verdade se diga que quando entrei, para fazer miséria a lateral esquerdo, já havia 4 - 0, nada de histórias, por mim os putos adversários nunca passaram (acho que tiveram pena...). Bem, a verdade é que o campo, ali para os lados de Ang Mo Kio Ave 3, mais parecia um batatal. E não tinha balneários, nem um buraquinho para fazer uma mijinha, nem um bebedouro... Desde o Euro 2004 com os seus magníficos estádios que nós os tugas não papamos disto, falta de condições assim não, por favor! Bem, ficou a foto. Um dos que está na foto arriscou-se a ser preso e vergastado por em desespero de causa se ter aliviado, de cócoras e por uma nesga da perna do calção enquanto assobiava para o lado, quando estava no banco. Outro sorri alegremente, longe de saber que um par de meses mais tarde havia de partir uma perna noutro jogito deste tipo... E eu, bem, acho que posso tirar férias da bola durante mais umas décadas...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A surpresa Persa


Já tinha saudades do Asteróide... A verdade é que não tenho tido tempo de cá vir. Neste momento estou de volta a Singapura, desta vez em visita mais fugaz. Apercebo-me agora que o Asteróide tem estado em órbita Geostacionária sobre o Extremo Oriente. Acho que é tempo de começar a rebuscar o meu arquivo para o enriquecer com outras paragens.

Em Maio de 2003 fiz uma visita relâmpago de duas noites a Teerão. Foi o tempo de me surpreender q.b. e arrumar com alguns estereótipos... Voei do Dubai, onde também ia frequentemente em trabalho na altura, e aterrei já de noite. O meu passaporte exibia um magnífico visto colado numa página inteira, cheio de cores e marcas de água, do tipo que mais tarde havia de experimentar em países igualmente desenvolvidos como a Indonésia e o Vietname. Para minha surpresa tinha à minha espera uma beldade persa de 28 anos, super descontraída e falando fluentemente Inglês. Era a Shadi, da agência que tinha contratado para me conduzir durante a estadia, junto com um rapaz dado a motorista mais o seu carrito. Passada uma hora já tinha transitado pelo hotel a tomar um duche e estava com a Shadi a beber cerveja (sem álcool!) num parque a Norte de Teerão, já passava da meia-noite. E esta, hem? Bom, a verdade é que o seu marido, um jovem engenheiro trabalhando numa empresa de produção de electricidade, se juntou a nós mais tarde... O parque está alcandorado nas faldas dos nevados picos no sopé dos quais a cidade se aninha e do bar tinha-se uma magnífica vista sobre a cidade.
A cidade é dominada pelas montanhas Alborz, que ocupam todo o horizonte virado a Norte. Fiquei albergado num decadente hotel de 5 estrelas com cheiro a mofo e uma patine a-la-anos-setenta feita de alcatifas, brilho de cromados, padrões com bolas vermelhas e candeeiros de globo pendurados do tecto. Visa? Népias, só em cash... O trânsito é infernal. A cidade, a espaços, tinha algo da Lisboa da minha meninice. Não sei explicar o porquê deste sentimento... Desde o hotel com o espírito dos anos setenta até aos bairros mais calmos onde até nas ruas estreitas havia árvores, passando pelos cafézinhos ou tascas abertos prodigamente um pouco por todo o lado, debaixo das varandas.... enfim, não sei explicar, mas cheirou-me a Lisboa!

Bom, espreitem mas é as fotos. Desculpem serem de má qualidade, naquela altura usei uma camera que pouco mais era que uma webcam !