segunda-feira, 31 de março de 2008

Último da espécie?


Primeiro não queria acreditar no que ouvia. Um silvo agudo subia e descia de tom, levando-me consigo muitos anos (décadas!) atrás, aos tempos em que no meu bairro se ouvia o mesmo assobio com frequência. Depois, para além de ouvir, vi, incrédulo, algo que pensava já estar extinto à uma eternidade: o Amolador! Com esta foto, que por incrível que me parecesse foi tirada numa manhã de um Sábado de Março do ano do senhor de 2008, ali para as bandas da estação de comboio do Areeiro em Lisboa, faço uma homenagem a estes bravos exploradores de "niche markets" da cidade, verdadeiros heróis da mais antiga das publicidades: o assobio aos quatro ventos!

Nota: eu sei que o Asteróide anda preguiçoso, apesar do muito que tem para publicar sobre as voltas recentes nas terras de Vera Cruz, mais as voltas passadas em muitos outros sítios. Lentamente, no entanto, espero que se ponha em movimento de novo... Agora em órbita geostacionária na Europa do Sul (que é como quem diz lá para as bandas dos Olivais...), estará em breve de regresso à Ásia para mais um périplo errático. Até já.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Crónicas do Rio: porque se come um bom rodízio em Singapura


Olhando vocês para a foto do mítico Copacabana Palace, auto intitulado “o mais famoso hotel da América do Sul, hospedando ricos e famosos desde 1923” perguntarão: o que tem o título deste post a ver com a foto? Tudo, garanto-vos! Dias atrás, estando eu no Rio de Janeiro a tirar apressadamente a foto enquanto o carro parava por segundos entre a praia de Copacabana e a branca beleza que aqui ilustro, veio-me à memória uma estória que me foi contada por dois manos brasileiros do Paraíba há cerca de um ano atrás. Estava nessa altura a ser servido de um belo pedaço de picanha no Mamma Lucia, em Robertson Walk, zona medianamente animada da noite de Singapura.

Não custa pensar que há 508 anos atrás um qualquer obscuro grumete da frota de Cabral, depois de escala retemperadora nas terras de Vera Cruz, se tenha feito à vida em Calecute para mais tarde chegar a Malaca pela mão de Afonso de Albuquerque. Não deixa de ser plausível também que o mesmo moço possa ter acabado por desaguar nos pântanos da Singapura de então, caso se tivesse deixado aprisionar por algum nefasto pirata javanês do Estreito. Terá sido, o dito grumete, o primeiro ser humano a fazer a rota Brasil-Singapura! Não custará portanto muito fazê-los acreditar que, passados vários séculos de evolução dos meios de transporte, um empreendedor Singapurense tenha decidido tirar um ano sabático para viajar pelo mundo nos anos 90. O Mr. T. (chamemos-lhe assim...) acabou por passar pelo Rio de Janeiro e, encantado por aquelas paragens, por ali ficou uns tempos. Um modelo de negócio particularmente inovador (para ele) chamou-lhe a atenção: o rodízio brasileiro, em particular aquele que via diariamente ser principescamente servido na churrascaria do Copacabana Palace. Homem de meter a mão na massa, arranjou trabalho a servir à mesa nessa mesma casa, anotando cuidadosamente todos os detalhes de um filão que contava poder reproduzir em Singapura. Até o dia em que foi apanhado...

Aconteceu quando Mr. T. foi visto por um colega recolhendo ao lar após uma jornada de árduo trabalho... num quarto do Copacabana Palace, o mais caro hotel do Rio! Informado, o gerente da churrascaria não descansou enquanto não se sentou com Mr. T. para pôr tudo em “pratos limpos”. Dessa conversa saiu algo que ainda hoje eu e os meus amigos Tugas em Singapura podemos usufruir: as várias churrascarias brasileiras de nível entre o aceitável e o bom que pululam na Lyon City. De facto Mr. T. regressou a Singapura para fundar a churrascaria “Brasil” da 6th Avenue e com ele trouxe uma selecção brasileira de excelentes funcionários brazucas, cedidos pelo novo sócio de Mr. T: o gerente do Copacabana. Foi o começo da saga. O primeiro assador-mor, tio dos meus amigos Paraíbas do Mamma Lucia, foi trazendo cada vez mais família, fulano traz sicrano, o novo modelo de restaurante pegou de estaca, os imitadores surgiram (o Carnivor do Chijmes e do Vivo City até já virou “franchise”...), mais Brasileiros vieram. Enfim, uma multidão de dignos herdeiros do grumete quinhentista, todos ao espeto!

Um bom epílogo para esta saga: um dia estava um amigo meu, Tuga dos sete costados com raízes no Vale de Alcântara, a confraternizar com um empregado de um restaurante em Saigão, Vietname, quando ao falar sobre o Mamma Lucia de Singapura (o restaurante, tal como o empregado, eram Brasileiros...) o seu interlocutor se deixa surpreender com os olhos marejados de lágrimas. Pois o nosso Paraíba em Ho Chi Min era, nem mais nem menos, que um irmão há muito não noticiado dos nossos amigos do Mamma Lucia! Mas que cadela de caipirinha, quando para Singapura se trouxeram as notícias deste afastado mano...