sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Comprar até cair para o lado

Ion. É com este nome com sabor a Matrix cinematográfica que mais um super flash shopping foi inaugurado em Singapura. Tal como mais uns 523 shoppings que deve haver por aqui, todos bem flashie e metade deles na Orchard Road, este também tem lojas das marcas mais queques: Prada, Dior, Gucci, Louis Vuitton, Armani... E não se trata das imitações de Bangkok! O que tem de mais diferente (partilhado apenas com outros 3 shoppings, por uma questão geométrica...) é que se encontra exactamente num dos cantos do cruzamento da Orchard Road com a Scotts Road, o mais disputado espaço comercial aqui do burgo. Uma chatice este mundo só ter 3 dimensões, o que faz com que os cruzamentos apenas disponham de quatro esquinas, por mais valiosos que sejam... No entanto eu ainda sou do tempo em que em vez do Ion se encontrava um jardinzinho bem engraçado, que se enchia de "mades" filipinas na sua folga de domingo, a vender calças de ganga da candonga e a comer bolos embrulhados em guardanapos, enquanto os bangladeshis pairavam por ali com ar guloso, saidos dos estaleiros com o seu fato domingueiro e as sandálias a dar e dar. Agora para comprar uma porra dumas calças no mesmo sitio teria de pagar umas cem vezes mais!

O mercado montanha russa

A euforia voltou à bolsa. Aqui na Ásia, e em Singapura em particular, os ciclos de "boom-and-bust" ocorrem de forma mais cavada mas também mais rápida. Quando aqui cheguei em 2006 aluguei um apartamento por 2500,00 SGD (cerca de 1250 euros) com contrato de arrendamento para dois anos. Nesse período de dois anos que terminou em meados de 2008 ocorreu um grande crescimento da economia local, que o meu senhorio aguentou estóicamente, roendo as unhas e rezando para que me fosse embora quanto antes. No final do contrato eu teria de passar a pagar o dobro (5000,00 SGD) se o quisesse renovar de novo! O pobre senhorio teve azar, porque entretanto eu estava de volta a Portugal... Mais tarde veio a crise de 2008/2009 e as rendas caíram a pique de novo. Agora estão outra vez em alta, o que é fácil de explicar se atentarmos à forma como a bolsa, depois de bater no fundo em Março passado já está agora de novo em grande, com o máximo anual a quase duplicar os indíces de Março, um par de semanas atrás! Singapura é uma economia completamente exposta aos ventos da economia global, para o mal e para o bem: assim como o PIB caiu mais que em qualquer lado das economias Ocidentais, está agora a crescer de novo nos dois dígitos...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Algarve no Algarve

Foi preciso chegar o Outono para me escapulir aos aviões e à gravidade intensa que a minha recém-nascida costela de lavrador tem exercido no Asteróide, pregando-o a uma piscina com vinha ali para os lados de Palmela quando não está a voar para o outro lado do planeta. Apetecia-me algo como o Algarve no Verão, que este ano me tinha escapado inteiramente. E que melhor sítio para nos reencontrarmos com o Algarve que o próprio "Ocidente da Andaluzia" moura, Al-Gharb dos nossos antepassados? E assim passei o fim de semana prolongado do 5 de Outubro no meu Algarve de menino, a dois e com os miúdos empandeirados para outras paragens. Ficámo-nos ali para os lados do Carvoeiro e arredores, a banhos entre a Praia da Marinha e a da Sra. da Rocha, passando por Benagil ou comprando vasos em Porches enquanto evitava colocar a t-shirt para não me arranhar com o sal, ouvindo as cigarras, comendo um marisco na praia ou mergulhando na àgua mais quente do ano. Delicioso, sem par. Por mais que se tenha estragado ao longo das últimas décadas e mesmo raiando o insuportável em muitas zonas durante o pico de Agosto, o Algarve ainda se deixa cheirar e sentir da mesma maneira que o fazia para este menino nos idos da década de 70. Pelo menos nos fins de semana de Outono...


Deixo-vos com uma foto da Senhora da Rocha, um dos cheirinhos a Algarve que resistem ao tempo. Desta vez até Singapura, de onde vos escrevo, parece mais enfadonha ao relembrar o nosso sol...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A terra do Fado do Queixo Espetado

Buenos Aires é de facto uma bela cidade, mesmo no Inverno, pelo pouco que pude ver. Única nas paixões pelo tango e futebol, que não são de facto meros cartazes turísticos… Para além do trabalho, esta estadia de 4ª feira a Sábado da semana passada pouco tempo me deixou para turismo, mas entre o hotel perto do monumento aos caídos na Guerra das Malvinas, perto da Plaza San Martin, e jantares na zona “in” do Madero (uma mistura de Expo – pelos apartamentos ditos chiques ao redor de uma marina, nas margens do Rio da Prata – com as Docas – pelos restaurantes impecáveis e bares noctívagos) sempre fui vislumbrando algo da cidade. Na 6ª feira acabei por roubar um par de horas ao afã habitual para dar um pulo de táxi ao bairro mais castiço: La Boca, onde o tango (tal como a foto acima) nasceu e o famoso estádio da Bombonera , casa do Boca Juniores, se instalou. Na volta fui deixado na rua pedonal chique de La Florida, com as suas loja de couros, livrarias, jóias e, claro, o Harrods (onde decorriam aulas públicas de tango).

Os Argentinos esforçam-se, ao primeiro contacto, para fazer jus ao gozo dos Brasileiros, que entre milhentas anedotas preferem aquela que revela qual o melhor negócio do mundo: comprar um Argentino pelo que ele vale e vendê-lo pelo que ele pensa que vale… No entanto não será bem assim, e como sempre quanto mais tempo se passa com quem quer que seja mais os estereótipos se esbatem. Em algo os Argentinos serão parecidos com os Lusitanos: ambos parecem ser autocríticos em excesso, ao nível da falta de autoestima. Nós sublimamo-lo com o Fado e refugiamo-nos em Sebastianismos, os Argentinos escudam-se numa falsa soberba e sublimam a coisa com o Tango, uma espécie de Fado de queixo espetado para disfarçar a tristeza.

A famosa Praça de Maio, conhecida pelas suas mães (aquelas cujos filhos desapareceram durante a longa noite da ditadura militar nos anos 70) só a vi de raspão, não longe da Casa Rosa, toca da Presidenta actual. Esta faz o turno pelo marido Kirschner, que atingiu o limite de dois mandatos e passou a mulher ao cargo, para o qual foi eleita nas últimas eleições presidenciais. Aqui o Presidente é que manda e o maridão da actual “chefa” deve voltar a votos e ao poder, fintando a Constituição, na próxima eleição. Entretanto a “chefa” adopta um estilo de Pão e Circo, “nacionalizando” as transmissões televisivas de futebol: os contratos com os canais de cabo pagos ou de “pay-per-view” foram cancelados e os canais abertos nacionais passam a transmitir os jogos mais importantes. O povão rejubila, a Presidenta justifica dizendo atoardas (“o sequestro do futebol pelos canais privados era comparável ao dos filhos das Mães da Plaza de Mayo”…) e a caravana passa. Bom, às vezes não passa. Buenos Aires com as suas longas avenidas, parques e edifícios sumptuosos de uma dignidade parisiense engana-nos com facilidade. Principalmente quando pelo meio destas vistas o trânsito flui facilmente, dando-nos a ilusão de estar numa Europa organizada e respeitosa.

O encanto quebra-se quando por exemplo um polícia tenta chegar à cidade, no meio do trânsito infernal de uma via rápida de acesso à metropole, e a isso se soma um qualquer protesto absurdo como por aqui há muito, transtornando ainda mais o caudal de metal impaciente que todos os dias vai e vem, como uma maré. Este polícia naval em particular (um “Perfecto”), dias atrás, tentou escapar-se do viaduto precipitando-se por um acesso local menos recomendável, para os lados do bairro de lata entalado entre o porto e as vias férreas que bordejam o La Plata, em frente às zona mais fina de Belgrano e Recoleta. Saíram-lhe ao caminho dois vultos de armas em punho, que foram corridos a tiro. Resultado: duas garotas de 17 anos atingidas, caídas com as suas pistolas de plástico na mão (esse era pelo menos o rumor inicial), uma delas acabando por morrer. O bairro levantou-se em peso, mais tarde cortou a autoestrada, e eu que não tinha culpa nenhuma vi-me enterrado no carro que me trazia de volta ao hotel, já muito perto do destino, a gastar uma hora para dar a volta à Plaza 28 de Mayo, inundada de camions e autocarros caídos dos viadutos da autoestrada, como dejectos de um esgoto que se parte. Apitos, gritos, e veículos de todos os tamanhos e formatos a misturarem-se uns com outros, em contramão, por cima de passeios, em trajectórias que nem se percebia para onde iam, todos sem dar um milímetro de espaço para qualquer outro passar. A imagem Europeia foi assim soterrada pelo espírito liberto das Pampa, com autocarros, carros e camions com portando-se como corcéis tentando fugir do cercado…

À laia de “até breve”, deixem-me dizer que é minha intenção colocar online os álbuns de fotos desta semana passada no “Cono Sur”, saltitando do Chile para a Argentina. Não prometo é quando…

Um chick já gasto: Vina del Mar, a Quarteira no Pacífico

Muito perto de Valparaíso está Vina del Mar, onde me dirigi mais tarde, no mesmo dia em que vim de Santiago. Ligada a Valparaíso por uma marginal que, mesmo sob chuva, me lembrou de alguma maneira a estrada homónima da linha de Cascais, Vina del Mar deve ter sido em tempos uma espécie de Estoril que se vê agora reduzida a ser uma Quarteira chilena, submergida no Verão por uma massa de turistas de Santiago que se distribuem pelas inúmeras torres de apartamentos mesmo em cima da linha de praia. Bom, fica a foto do Pacífico, mesmo à chuva, fazendo de conta que o cimento não espreitava sobre o meu ombro...

Valparaíso dos funiculares, vítima do Panamá

Condenado a disparar a câmera através de um vidro encharcado, com a falta de luz a provocar fotos desfocadas ao mínimo movimento (e, como sempre, normalmente disparo em movimento...), assim viajei de carro, sorumbático, de Santiago do Chile para Valparaíso. Foram pouco mais de 100 Km dirigindo-me para Oeste através da cordilheira que as separa, até chegar de novo (nos últimos tempos aconteceu-me bastante) às águas do Pacífico. Apesar desta outra barreira também apresentar picos nevados, não chega aos calcanhares dos Andes, que do lado oposto ladeiam o vale onde se aninha Santiago. Durante a viagem nem sequer se dá muito por se atravessar terreno montanhoso.

À medida que nos chegamos a Valparaíso os vinhedos multiplicam-se. Deve ser lindo, mas através da chuva não dá para notar... Deu no entanto para ver o cuidado com que as propriedades promovem a cultura do vinho, com as casas principais das quintas com grandes letreiros anunciando uma preparação para o turismo que a nós ainda nos falta, nesta vertente vinícola. Este turismo baseado no vinho já eu vi bem desenvolvido há mais de 15 anos na África do Sul dos últimos anos de apartheid, na região de Paarl perto do Cabo, mas em Portugal tenho ideia (também não ando muito por cá...) que não se aproveita o tema à mesma escala.

Em Valparaíso mais do mesmo: chuva, com a agravante de me ter deslocado muito a pé depois de largarmos o carro num parque subterrâneo. Valparaíso deve ter o seu quê, com as suas casas de madeira coloridas alcandoradas na falésia, com a primeira linha com vista para o Pacífico ocupada pelas mais luxuosas, numa das quais o famoso poeta Pablo Neruda morou. Pouco se nota já das riquezas passadas, quando Valparaíso era um dos principais portos da costa Oeste das Américas, paragem obrigatória para os navios que ligavam o rico Leste Norte-Americano ao Oeste do continente. Em 1914 o canal do Panamá mudou tudo, e só agora, captando navios de cruzeiro, Valparaíso tenta recuperar algo do seu brilho de outrora.

A costa do Pacífico nesta zona está entalada entre a cordilheira e o mar, sem apresentar sequer grande plataforma continental (logo ao primeiro passo deve perder-se o pé e dois metros à frente devemos ter um abismo aquático). Não é portanto de estranhar que a Valparaíso original, mais antiga, pareça "pendurada" nas alturas, enquanto que a zona mais moderna do centro se espraia em terrenos conquistados ao mar. Não tive tempo para explorar essa área, considerada Património da Humanidade, mas ainda deu para apanhar um dos ex-libris da cidade: um funicular (há vários), cujo ar vetusto não era só uma patine chic: a coisa estava mesmo com ar decrépito e dei-me feliz por subir e descer a salvo! Já agora, vi de novo em Valparaíso algo que não via desde a juventude, uma espécie que penso estar extinta em Portugal: trolleys, iguaizinhos aos do Porto de h+a muitos anos. Destes já não há mais...

Para que não seja só chuva e sombras desfocadas, deixo-vos o único sorriso dessa tristonha passagem por Valparaíso, captado de raspão como sempre.

Santiago, a Teerão dos Andes


Nos dias que passei em Santiago do Chile na semana passada uma chuva fria e desoladora decidiu assombrar a minha augusta presença quase todo o tempo. E se o próprio guia (em francês, o único sobre o Chile que consegui comprar em Portugal antes de voar para lá dos Andes) que me acompanhava já não prometia grande coisa sobre a cidade, então com o clima verdadeiramente invernoso desta altura no hemisfério Sul o resultado é uma colheita pouco brilhante de material aqui para o Asteróide. Sim, sim, lá dizia o Geógrafo que este é um planeta de boa reputação, mas Santiago do Chile sob chuva e frio (recentemente nevara) não é dos melhores exemplos. Estou provavelmente a ser injusto, mas não gosto mesmo de chuva com frio...

Sempre tive uma curiosidade especial pelo Chile, e penso que a vou manter, pois esta passagem de pouco mais de 3 dias não contribuiu para matar tal desejo. Das imagens de Santiago que revejo agora,´muito poucas se destacam: uma foto mais da vista de um quarto de hotel para juntar à colecção, uma única piscadela insólita da objectiva ao ultrapassar uma carroça numa autoestrada, com o seu cão "gitano" saltitando ao lado da pileca de serviço, umas fotos de umas esquinas do tristemente famoso La Moneda, o palácio presidencial onde Salvador Allende encontrou a morte, nesse outro 11 de Setembro (o de 1973) que viu Pinochet chegar ao poder e, finalmente, a foto que que ilustra este post, e que mais me maravilhou: os albos gigantes que ladeiam Santiado a Leste, nada menos que os Andes, parcendo esmagados sob o peso das neves eternas mais as próprias do Inverno que passa. A menos de 45 minutos de carro de Santiago podemos chegar a estancias de esqui, mas não é por isso que escolhi esta foto. A razão é a maneira como a maneira como Santiago se aninha sob os Andes me fez lembrar a cidade de Teerão, outra visita de há uns anos largis que está por aqui noutro post. Santiago está para os Andes como Teerão está para as montanhas Alborz que lhe protegem o flanco Norte.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

De raspão pelo Bronx...

Ena, ena, o Asteróide já se pode gabar de ter passado por New York! O GPS foi amigo e mandou-me pela Interstate 95 direitinho à ponte George Washington, umas valentes toneladas de aço sobre o Rio Hudson que me fizeram entrar com o meu Chevy em Manhathan, e das quais deixo aqui esta imagem artística, desfocada de propósito, pois então. Não fui aterrar em qualquer pedaço de New York, claro, havia logo de ser no Bronx... Castiço, sem dúvida, apesar da minha passagem não se ter arrastado mais de 5 minutos, com cuidados extremos a seguir a voz e a imagem do GPS, "keep left, then left", ou "exit right", tudo com muito respeitinho para evitar ouvir a voz começando a grasnar "recalculating", "recalculating"... Já vos digo, "recalculating" também é sinónimo de "bad news", ou "get your ass out of there", ou "porra que já me baralhei com a gaita do GPS e até os satélites estão chateados agora". Se tivesse tido mais tempo, muito teria gostado de mergulhar em Manhattan ao sabor dos sinais do trânsito, como fiz em Cuba há uma duzia de anos (mas aí era ao sabor dos buracos nas estradas e das boleias que ia dando, e tive duas semanas para me perder por lá como se não houvesse amanhã...). Nesse cenário idílico em que eu teria tempo para passear em Nova Iorque, bem que o GPS se podia esganiçar a "recalcular" a rota, só lhe voltaria a ligar quando estivesse de papo (e camera) cheios. Mas não foi o caso: de chuva e à noite, só não queria mesmo era deixar-me cair dos ramos da autoestrada no cimento frio e escuro das ruas do Bronx, para chegar antes da meia noite ao poiso de onde vos escrevo, Meridien, Connecticut. Mas de qualquer maneira serviu esta minúscula aventura na Big Apple para vos escrever este bocado de prosa e poder dizer, com ar ufano, sim, já estive em Nova Iorque!


Vi-me grego todo o caminho, desde os engarrafamentos na passagem por Baltimore até aos diluvios que apanhei ao passar perto de Philadelphia, e mais tarde o escuro sinuoso dos nós de autoestrada sobre o Bronx. Mais de seis horas de condução com umas paragens pelo meio para cafés, doces e um hamburguer, além de atestar o depósito do Chevy. Nada de divertido, à excepção de um cartaz das autoridades, com um certo sentido de humor (que infelizmente não fui a tempo para fotografar): "bumper benders park the cars in the shoulders". A expressão era mais ou menos esta, e sorri em particular com o "bumper benders". Traduzido como deve ser, com a subtileza de tentar perceber o que querem dizer com tal frase, saíria algo como "se for só chapa não fiquem a empatar o trânsito e estacionem os carros na porra da berma!". Mas uma tradução literal é mais engraçada: "se são uns amolgadores de para-choques estacionem os carros na berma". Bem pimba!

Já agora deixem-me dizer-vos que de facto o carro tinha razão em me avisar para verificar a pressão do pneu traseiro direito... Mas não era por estar a esvaziar, pelo contrário, em vez das 30 libras de pressão que devia, os artolas do car rental tinham-lhe espetado com 60libras!

Tou KO. Vou xonar...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

On the road again

De ontem para hoje separam-nos umas seis horas de carro, com o Chevy a regressar do Ohio de volta à Pensylvania ontem à tarde, atravessando esse estado sempre nas Interstates (ou seja, pelas despachadas autoestradas gringas, algumas das quais já com portagens e até algo parecido com via verde!) até desembocar aqui em Maryland pela I70, até às portas de Washington DC. Devem ter sido umas 300 milhas, mais de 400 quilómetros de passagem pouco aventurosa. Estou agora algures a norte da capital do Império, não muito longe de Baltimore. O tempo tristonho, sempre de chuva (ou trovoada), não me animou a deixar as interstates em nenhum momento, isso e o alarme de pressão baixa num pneu traseiro que me atormentou, aparentemente sem razão... Portanto apenas temos mais do mesmo: o Asteróide a tirar fotos enquanto conduz, como a que se apresenta agora (em movimento, e sem olhar!), sem tempo para nada mas a blogar como se fosse um Stanley dos tempos modernos... De qualquer forma fica o exemplo do que é a paisagem típica da Pensylvania, campos infindos de florestas entremeadas com quintas como esta, um filme que eu já tinha visto algumas vezes do ar e que agora apreciei rente ao chão. Tudo o resto é normal, parar numa área de serviço e atestar ou beber um café é tão igual ao dia a dia como o poderia ser na A2 em Portugal ou algures em Singapura.

As coisas só esparvoam um pouco no detalhe, como o do aviso pespegado no elevador aqui do hotel: "Smoking or carrying of lighted tobacco products in these elevators is illegal and subject to penalty not exceeding $25.00"... Como? Não tarda nada o tabaco é uma perigosa droga cuja posse é considerada crime!

Logo ao fim do dia ala para Connecticut, com passagem ao largo de New York. Ainda não é desta que vou conhecer a Big Apple...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Na Cidade das Pontes

A foto ilustra bem dois aspectos, um local outro nacional, da minha primeira paragem esta semana. A magnífica ponte de aço da 16th Street em Pittsburgh, segunda maior cidade da Pensilvânia, a meio caminho entre a Costa Leste dos EUA e os Grandes Lagos, é bem ilustrativa da cidade, também conhecida por "Cidade das Pontes". Nada mais que 446 pontes (Wikipedia dixit...), metálicas quase todas, e que encantam um apreciador de obras de arte antigas deste tipo, como eu. Fácilmente se entende o porquê de tanta ponte pelo facto de Pittsburgh estar encravada em cunha na confluência de três rios (o Allegheny e o Monongahela juntam-se para formar o Ohio River).

Quanto ao cartaz, também diz muito sobre o fascínio americano pelos seus heróis... Bom, antes a nadar no Hudson River do que afundado ao largo de Fernando de Noronha, à vertical da qual passei 48 horas antes do malogrado voo AF447, de regresso do Rio de Janeiro. Nem quero falar nisto, dá-me um pouco de azia, como ontem num teco-teco turbo hélice da Colgan a fazer a ligação Continental entre Newark e Pittsburgh. Pois não é que o piloto teve que andar aos zigue zagues para contornar as grandes nuvens de trovoada que se espalhavam pelo caminho? Ainda levámos uns abanões valentes mas não nos espetámos numa casa como há semanas os outros que iam para Buffalo... Lá estou eu outra vez!

Voltando ao que interessa, a feliz amaragem no Hudson é agora capa para promover o site http://www.values.com/, onde eu já naveguei sem perceber bem ao que vêm, embora sem dúvida não tenham fins lucrativos e transbordem de boas intenções. O site parece um pouco lamecha, mas se algum de vocês tiver paciência dê por lá uma passeata. Já agora, numa das secções, tém uma lista imensa de Valores desejáveis. Um deles é... a Ingenuidade! Pois, tinha de ser...

Espero bem poder juntar mais umas bocas esta semana, uma vez que vou estar montado num feíssimo Chevrolet Impala de seis cilindros, estradas afora aqui por este lindo país da Gringolândia, até 6a feira. Para já o Impala trouxe-me esta tarde de Pittsburgh até os arrebaldes de Cleveland, já nas margens do Lago Erie, umas 3 horas de condução pelas "Interstates" rodeadas de verde pontilhado de celeiros e pacíficas casas de madeira. Ainda deu no entanto para almoçar em Pittsburgh depois de terminar a minha missão por lá . Foi nesse espaço de uma horita e meia de passeio pelo "Strip" (um bairro "downtown" constituído por uma faixa contida entre a Penn Ave e a Smallman Street, junto ao Rio Allegheni, que com os seus bares, mercados e restaurantes me lembrou o French Quartier de New Orleans) que acabei por tirar a foto de hoje.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Pluff!


O óptimo de viajar é apreciar melhor os regressos... Agora já não regresso aos Olivais, mas continuo pela Estremadura. Há pouco lavei a alma depois de um dia de trabalho ao conduzir para casa pelo meio das vinhas, não mais de 20 minutos sem trânsito algum. Nem Olivais para Cascais pela 2a circular, nem Bukit Timah para Tuas pela PIE, muito menos a M4 para entrar em Londres, ou a Niemeyer parada para ir da Barra para o Centro. Só casta Castelão a perder de vista até chegar aqui ao meu refugio, onde alimentei as tartarugas, salvei uma rã já meio intoxicada com o cloro da piscina, reguei os vasos e... cachapum na piscina! Confesso: o Asteróide gostaria mesmo era de se transformar em meteorito e despenhar-se aqui neste pedaço ocioso, sem mais aviões pela frente. Viva Portugal (antecipo-me ao 10 de Junho, que comemorarei devidamente com mais uns quantos mergulhos...). Mais voltas só lá para meados do mês.

Finalmente, um pouco de turismo...


Neste corropio infernal de órbitas em que o Asteróide caiu raramente há tempo para turismo. No entanto no Rio de Janeiro na semana passada consegui roubar uns minutos ao trabalho, num final de tarde bem bonito, um par de horas apenas antes do tempo descambar (no dia seguinte a Cidade já não estava Maravilhosa, no meio de nuvens baixas e chuva). Fica para a posteridade este momento em que o Asteróide 330 parou por momentos para subir ao topo do famoso Pão de Açucar, algo que recomendo vivamente. A foto diz tudo (e aqui foi tirada ainda a meio caminho, na passagem pela Pedra da Urca, entre duas passagens do teleférico). O sol punha-se gloriosamente para as bandas do Corcovado e banhava o Botafogo e o Flamengo. Poxa vida...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Abominável Homem do Leblon

Nem sempre há coragem para abrir o vidro fosco do carro, já noite, aqui no Rio de Janeiro. Nem aqui nem em muitos outros sítios em que o Asteróide se cruza com este tipo de cromos, no seu périplo de Saigão à Cidade do México, passando por Kuala Lumpur ou Teerão. Muito menos quando a tentação é fazê-lo quando se está parado num semáforo no Leblon, para mandar com o flash na cara de personagem tão assustador... Mas a verdade é que por 3 Reais tudo se compôs e ainda recebi uma garrafa de água como troco! O resultado, para lá de poder manter a primeira foto, tirada "à traição", foi ter direito suplementar a esta pose do... Abominável Homem do Leblon!


De resto, mais do mesmo. Aqui no Rio fico sempre na Barra, no extremo oposto do Centro, onde normalmente agendo as minhas reuniões. A Via Sacra para o trabalho é portanto maravilhosamente composta por uma colagem de trajectos quase sempre junto ao mar. Desde o "Elevado", um viaduto empoleirado na escarpa que passa da Barra para São Conrado, até às praias do Botafogo e do Flamengo já bem próximo do Centro, apanho normalmente a ziguezagueante Niemeyer no meio do arvoredo (passando bem junto de uma favela...), que me leva ao Leblon e ao Ipanema, transpostas sempre paralelamente ao areal, atalho antes do Arpoador para desembocar na Av. Atlântica em plena Praia de Copacabana, onde olho "bunda" em contra luz durante um par de quilómetros, até passar para o Botafogo.
Trabalho de Asteróide é duro, mas tem de ser feito... E lá estou eu contaminado com o sotaque daqui!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Do lado de lá do Atlântico

Deixei-os na costa Norte Americana do Pacífico, em Los Angeles, duas semanas atrás, reencontro-vos agora de volta ao Atlântico Sul e à Cidade Maravilhosa. Entretanto ainda dei um pulo a Portland, também perto da costa do Pacífico mas lá no Norte perto do Canadá. Regressei a Lisboa sobrevoando os Grandes Lagos (que são mesmo autenticos mares interiores!), e acho que essa passagem foi mesmo o mais emocionante momento da última fase desta última passagem pela Gringolândia, em que me arrastava já pelos aeroportos. Passei a semana passada na maior, em Portugal e sem necessidade de voar... E agora partilho convosco mais uma foto de quarto de hotel, esta das menos más dos últimos tempos, aqui na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, com vista para a piscina e para os morros (ali do lado está a Pedra da Gávea, que não podem ver...). Achei curiosa a vista, pois lembrou-me muito a vista de um quarto de hotel de Hong Kong, ano e meio atrás (grande prédios de apartamentos com a terra a erguer-se por trás).

São cinco e meia da tarde e já é escuro. De qualquer forma, apesar da praia ser linda e estarem 28ºC, a água é geladinha e o mar está revolto... A boa notícia é que amanhã pelas 5 da manhã tanto eu como o sol já estaremos de pé, muito antes da jornada de trabalho começar! Até já.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pacifico visto do lado de cá


LA, California, desde ontem. Ou seja, o Oceano Pacífico "comme il faut", porque do lado oposto do mesmo, quando apanhava em Singapura o barquito para ir à Indonésia, não creio que se pudesse dizer que já tinha largado o Indíco e entrado no Pacífico.
Para variar é só trabalho... De Malibu, Hollywood, Santa Monica, Long Beach, e outros nomes apelativos só consegui mesmo ver as placas nas "highways"... Mulholland Drive, Sunset Boulevard, bem, estes passeios que tanto gostaria de ter feito (e já cheguei aqui ontem pelas 9 da noite) ficam limitados a passar o dedinho pelo mapa. Nada de foto das letras garrafais no cimo da colina... Quedei-me aqui mais do lado Sudeste na área de Anahein e Orange County. Ainda deu no entanto para capturar um pouco do luxo desta paragens, na menos conhecida mas não menos milionária área de Newport Beach. Na foto estou empoleirado algures na opulenta área de vivendas de Corona del Mar, já perto de Laguna Beach, a apontar para Newport Bay. Acho que não é um sitío mau para viver... Agora, cerveja comigo, junto com uns indigenas locais que mais logo farão o favor de ir ver um jogo de baseball e graças a Deus não me arranjaram bilhete! Amanhã pelas 7h da manhã já tenho de estar a voar de novo, dispenso passar parte das horas disponíveis para dormir a olhar para um desporto chato e imcompreensível...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pessegueiro ao Alto

Os porcos deixaram de espirrar, o que resultou imediatamente em espetarem comigo dentro de um avião. Ou dois, neste caso, para chegar ontem aqui à terra do Pessegueiro ao Alto, como (vagamente) se chamava a povoação india Cherokee que existiu neste canto do Sul dos Estados Unidos da América até 1822. Depois foi o que se viu: os indios venderam as terras a colonos brancos e, mais tarde, acabaram corridos de todo o lado, incluindo dos sitios que nunca tinham vendido... Hoje o sitio chama-se Atlanta, Georgia, uma cidade que se tivesse tempo para visitar seria concerteza mais interessante do que Dallas ou Houston. Cerca de meio milhão de habitantes numa área metropolitana de 5 milhões, vegetação exuberante, "highways" serpenteantes, "downtown" com uns arranha céus, taxistas gatunos (ontem foi um com ar de etíope a dar-me música étnica em altos berros "a la Prestes João", até me conseguir arrastar durante 62,00 USD de trajecto para - à segunda tentativa - me descarregar no hotel correcto). Tudo normal. Até o hotel, sempre de grandes camas e fofas almofadas em profusão. Gosto. Só para não passar a vida só a dizer mal dos Gringos...


Ainda sem precisar de recorrer à Wikipedia para ilustrar a minha não-visita a Atlanta, recordo que Tudo o Vento Levou se passou nestas paragens. Recorrendo à Wikipedia posso ainda afirmar ufanamente que Atlanta é a sede da Coca-Cola. E foi uma das principais bases de Martin Luther King. Em 1996 albergou os Jogos Olímpicos (já não me lembrava desta...).

Logo à noite volto a voar...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Cena de riso pernanbucano


Ia a passar de carro (por vezes de autocarro, comboio, avião ou mesmo parapente ou paraquedas, mas neste caso de carro algures no Brasil, ontem, perto do Recife). Vou disparando alegremente, até produzir uma quantidade prodigiosa de fotos desfocadas ou falhando o alvo. Por vezes tenho sorte (se o Dirty Harry me perguntasse "do you feel lucky today, punk?", eu responderia jovialmente que sim, pelo menos ontem...). Ficam estes sorrisos pernanbucanos na berma da estrada...

Publicidade franca


Vai um gajo para o trabalho de manhã e fica a pensar como ele há freguesia para tudo, até para uma rapidinha num motel durante o horário laboral... Neste caso ir para o trabalho significa fazer-nos à estrada saindo do Recife, na direcção da zona de Suape, a uns 45 minutos de distância, no Estado de Pernanbuco (perto de Porto Galinhas). Entre muitas outras possibilidades de foto, fica esta como exemplo de "direct marketing"...

Campinas dos contrastes


Mais um quarto de hotel, com a sua foto correspondente. Neste caso tirada de manhã no meu poiso em Campinas. Tirada no início desta semana, ficou acima da média no concurso de poisos do Asteróide nestas duas semanas, perdendo apenas para o hotel na praia em Veracruz, no México alguns dias antes, onde acabei de me esquecer de tirar a costumeira foto da janela do quarto...

A virtude desta foto é dar um bom exemplo de Campinas: uma urbe com mais de um milhão de habitantes com PIB de nível Europeu, no interior do Estado de São Paulo (a uns 90 Km desta cidade), que no entanto conserva um (bom) aspecto de cidadezinha feliz (embora as vivendas exibam com frequência vedações electrificadas que seriam inpensáveis em Portugal...). O contraste entre edifícios de escritórios ou hoteis modernos espetados no meio de colinas verdejantes pontilhadas de casinhas é a imagem que trago de Campinas.

Acordada pelo petróleo


Este pôr do sol foi roubado sexta-feira passada à Ciudad del Carmen, a Macaé do México, ou seja (para quem não souber nada sobre petróleo), uma cidadezinha arrancada à sonolência do calor dos trópicos pelo bulício da exploração de petróleo offshore, neste caso subtraído por uma multidão de empresas do ramo às profundezas do Golfo do México. Com Macaé, no Brasil, passa-se o mesmo, com o cenário a ser o nesse caso o mar do Estado do Rio de Janeiro.

Del Carmen é na realidade uma ilha, uma fatia de terra paralela à costa com pontes em casa extremo ligando a terra firme. Apesar da sua enorme praia de areia, a frequência é miníma e o turismo não parece atraído pelo azul turquesa da sua água. O areal apresenta-se desolado e sujo.

No momento em que tirei esta foto já saía de Carmen pela ponte do extremo Norte, rumo a Villa Hermosa. A luz era mágica e pelicanos sobrevoavam o meu carro. Há momentos assim.

domingo, 26 de abril de 2009

Suína e perigosa...


Quem me ler em cima do acontecimento estará a par da muito badalada gripe suína que alastra no México, de onde vim a noite passada para aterrar em Guarulhos, São Paulo, esta manhã. Com potencial pandémico, este surto levou o Mèxico a fechar as escolas e até jogos de futebol foram realizados à porta fechada no fim de semana. No que me diz respeito tirei esta foto à chegada ontem de manhã à Cidade do México, voando de Villa Hermosa, no Sudeste mexicano, para ilustrat o efeito da gripe na moda local. Toda a gente de boca tapada, pareciam as senhoras de Saigão no meio do smog...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Teotihuacan

Não é todos os dias que o Asteróide desagua em novas paragens, mas ainda acontece. Ei-lo na moderna Teotihuacan (que data de antes de Cristo e no século VII já tinha 125,000 habitantes...), agora a imensa Cidade do México, 20 milhões de almas bem Mexicanas, ferverosos adeptos da Virgem (Índia) de Guadalupe. Estarei por estas bandas até Sábado, mas como de costume não sobra muito tempo para turismo... Logo à noite sigo por estrada (quatro horas...) até Veracruz, onde amanhã tenho de bulir. No dia seguinte esperam-me Ciudad del Carmen e Villahermosa, no Golfo do México.

Surpreende-me o pouco que vejo da Cidade do México, que no centro se parece com qualquer outra urbe bem organizada e rica em monumentos e edifícios clássicos que possamos visitar pelo mundo. Claro que navegando de um lado ao outro de carro se passa por uma multitude de estradas, ruas e edifícios bem menos cuidados, a lembrar o que se vê em redor de São Paulo, Rio, ou qualquer outra cidade Latino Americana. Mesmo assim prefiro este caos bulicioso à deserta Dallas... O smog não tem chateado muito e já vi o céu azul várias vezes!

Até breve...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Vislumbre da Big Apple


Foi só isso mesmo, um vislumbre. Mas como nunca estive em Nova Iorque e não sei quando o farei (provávelmente um destes dias perco a ligação em Newark, como quase aconteceu ontem à noite ao vir de Dallas, e ganho um dia para dar um salto à Maçã), cá vai este pobre sucedâneo para o meu album de viagens, a vista da janela do meu avião. O momento foi ontem ao fim do dia, quando aquele se preparava para aterrar em Newark, do outro lado do Hudson, onde apanhei o voo de volta a Lisboa, de onde agora vos escrevo. Já agora, mais uma "gringuisse" que me foi contada por uma Luso-Americana a bordo: nos EUA as seguradoras cobram um prémio de seguro automóvel superior caso o veículo seja... vermelho! Não, não é nada contra os benfiquistas, é que partem do princípio que quem tem um carro vermelho é porque quer guiar como se tivesse um Ferrari!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Crónicas da Gringolândia 3: AK47 e Focas

Circunstancias várias têm-me feito voltar com frequência a terras do Tio Sam. E a procissão ainda vai no adro... Mais vale portanto não puxar muito pela cabeça para inventar um título para cada passagem por estas paragens, porque vão ser muitos. Depois do Bienvenidos a Houston de há um ano atrás e do trautear do genérico do Dallas (a série...) de há um par de meses atrás, fico-me portanto agora pelo singelo Crónicas da Gringolândia 3. Ou talvez não, pois acabei por não resistir em retocar a coisa com um sub-título guerreiro.


Estou mais uma vez pelo Texas, e apercebo-me agora que talvez não tenha sido por acaso que Bush O Jovem tenha sido gerado por aqui. Tentar fazer um filho rodeado destes horizontes poeirentos e de gente que não diz coisa com coisa... A pobre Laura decerto não conseguiu melhor que o dito cujo. Mais valia ter tomado precauções, o que por aqui é fácil: elas (as precauções) até já se compram em Take Aways sem sair do carro! Bom, pelo menos é o que esta foto tirada ao virar da esquina do hotel sugere.

Estou para aqui a escrever e não digo nada... Mais uma vez é quase só trabalho, mas desta feita com mais conversas de corredor com colegas Texanos. Os temas de conversa derramam-se em direcções que nos levam a pensar que afinal o que vemos nos filmes americanos de pancadaria são meras aproximações da realidade. Vejamos...

Take 1: um filme publicitário mostra uma boazona em casa, falando com os filhos por telefone, mandando beijinhos aos papás, desejando ao marido que volte da sua viagem de negócio. Entretanto vê-se um gajo meio marreco com todo o ar de serial killer de pilinha pequenina a aproximar-se da casa, espreitando pelas janelas, sorrateiramente a chegar-se à porta com faca na mão. A singela Dama, por artes de quem filma, parece um autêntico carneirinho pronto a imolar. O manganão baba-se sobre a barba mal feita, lança a mão à porta e força a fechadura com a facalhona. Último take: a loiraça vislumbra o meliante pelo canto do olho, saca de uma metralhadora AK47 da gaveta do móvel do telefone e rajá-tá-tá-tá que aqui vai disto! Disto é a porta, o vaso da entrada e o Lobo Mau, tudo pulverizado numa fracção de segundo. Moral da história: não fique à espera que a sua vida acabe como um filme de terror, vá já ao virar da esquina comprar uma AK47. Ou uma bazuca. Ou um tanque.

Take 2: ainda a rir-se depois de ver o Lobo Mau a ir pelo ar, outro colega, à vista da AK47, informou que também possuia uma destas maravilhosas ferramentas de costurar botões de chumbo nos costados do próximo. E logo se queixou do Obama. Pois não é que as ameaças do Presidente em limitar o acesso a armas e munições provocaram uma autêntica corrida às balas??? O nosso amigo está nervoso pois não consegue dar de comer à AK47, ainda no outro dia uma loja próxima recebeu um camião de munições que se esgotaram em 4 horas, antes de ele ter tempo de lá chegar...

Take 3: como a conversa ia para o lado do tiro neles, um outro colega relata orgulhosamente a ligeira amizade com um vizinho de rua, um Seal reformado. Literalmente traduzido, "seal" é uma "foca", mas Seal é na Gringolândia a designação de uma tropa especial que gosta de chegar ao campo de batalha a nadar. Ora este cinquentão ex-Seal pôde reformar-se por algo que considero dever ficar no topo da lista do Livro dos Records das razões mais estúpidas para viver à conta dos contribuintes: um joelho da foca começou a fazer barulho. Tric-trac, tric-trac, isto enquanto se desloca em bicos de pés, como quando se aproxima por trás de um Taliban para lhe cortar a garganta, acção cujo sucesso depende naturalmente do mais sepulcral silêncio. Terrível destino o do Foca, carimbado como inepto para degolar inimigos pela calada da noite. O pobre homem descreveu presurosamente ao meu colega como tal facto o impedia assim, para todo o sempre, de praticar o cerebral desporto de fazer guerra psicológica ao inimigo: entrar-lhe no acampamento com lua nova, penetrar numa grande tenda onde todos os valorosos guerreiros inimigos ressonam sem sentinelas, verdadeiro Grendel dos tempos modernos só que sem o Bewoulf à perna, cortar a garganta silenciosamente ao que dorme no centro e sair sem que ninguém note. Na manhã seguinte todos os (mais de 30, seguramente) Talibans se arrepiam com o sangue derramado e não mais conseguem dormir com a perspectiva de não acordarem na manhã seguinte. Passadas duas noites já nem conseguem rezar e à terceira noite começam a matar-se uns aos outros, acusando-se mutuamente da primeira morte.

Minha nossa senhora... Mais Crónicas da Gringolândia são esperadas lá para o início de Maio. Mas antes disso espero voltar com relatos de novas paragens. Fiquem por aí.

domingo, 8 de março de 2009

Bye bye Olivais


Como o refrão do Asteróide diz, "é aos Olivais que gosto de voltar sempre que regresso a Portugal". Parece que tenho de substituir o "gosto de voltar" do filho pródigo pelo "gostaria de voltar " lacrimejante de quem se desliga do seu canto para assentar arraiais noutras paragens... Os meus Olivais... Onde ia comprar o benzovaque nas imediações do café do Gordo, com um olho no burro e outro no cigano para que não me gamassem os trocos. O das correrias a fugir dos Pimenta, dos namoricos pelas sombras do Vale do Silêncio, das futeboladas no Maracangalha e dos barcos piratas em que transformávamos os choupos. Das bombinhas vermelhas de tostão, e das verdadeiras bombas de um escudo com as quais fazíamos voar garrafas vazias de Camilo Alves... Do cão da amiga que morreu atropelado a cruzar a nossa rua. No tempo em que a fronteira proibida que dava para o mundo exterior era essa mesma rua. E que fazer quando um chuto desmiolado levava a bola para o outro lado da rua? Quem se atrevia a afrontar a Lei da colher de pau?! Os meus Olivais... Das correrias pelo Largo das Mamas, do acertar com um chuto nos postes de básquete ao pé dos correios para marcar três pontos, do rabo a arder com duas palmadas depois de um dia a brincar na rua a fazer orelhas moucas à voz que nos chamava lá da janela... Do Café do Tó dos amigos chegando nos dias soberbos de férias escolares. Do primeiro cigarro lá para baixo nos Viveiros e dos que se lhe seguiram às escondidas na cave do prédio. Das hortas e veredas transformadas em campos de batalha e de aventuras, agora para sempre cobertas pelo cimento do Shopping... Tempo de mudar!

terça-feira, 3 de março de 2009

Cantos infectos, raios incríveis e crise nos mares do Sul da china


Ainda não inventaram fotos com cheiro, se não esta decerto teria um impacto maior e mais merecido... Não há nada como voltar a um sítio seguro e organizado como a "minha" Singapura para encontrar estas pérolas. Neste caso, um vão de umas escadas de acesso a um parque de estacionamento subterrâneo, não longe da mui "chick" Orchard Road. Reconfortante (mas intrigante) deparar com tal aviso num sítio onde não é suposto esperar que alguém se atreva a urinar pelos cantos! A Singapura onde nem pastilhas elásticas são toleradas? Nããã... Bom, foi intigrante um par de dias antes desta foto, mas no Sábado passado, quando estacionei de novo no mesmo sitío e subia as escadas para a rua: voilá! Fez-se luz! Aliás, fez-se cheiro... Tudo pintadinho de fresco, incluindo o aviso na parede, e á vossa direita uma monumental poça de mijo tresandando... a isso mesmo.

É bom ver que apesar de toda a civilização imposta ainda há alguma fraqueza humana por aqui. Sendo "aqui" a Singapura que mais uma vez visito durante uma breve semana e onde com muito prazer volto de quando em vez. A rotina habitual: trabalho a potes, rever os amigos, cuscar nos jornais as notícias únicas deste canto do mundo. Hoje, por exemplo, um estudante universitário indonésio apunhalou até à morte um seu professor, pelas costas e inopinadamente (o agressor acabou por morrer pouco depois ao cair pelas escadas a baixo, ao que parece). Tudo muito limpo, desde o uso cirúrgico da faca até à quebra do pescoço sem derrame de sangue... Muito mais fantástico (e agourento...) é o facto de ontem um raio ter atingido o simbolo da cidade, a estátua do Merlion, esse ser mítico que podemos ver com a sua cabeça de leão a cuspir um jacto de água para a baía, sob os arranha céus da "City". Bom, o Merlion jaz agora com um buraco na cabeça, todo entaipado com andaimes, e já não cospe nada... E eu, que consegui fugir aos muitos raios que cairam por aqui Domingo á tarde, não evitei uma molha a correr para o carro quando quis sair de East Coast Park, onde tinha acabado de desgustar uma bela mariscada.

E a crise? Bom, ao deambular pelos bares de Clarke Quay, pelos restaurantes de Dempsey, ou nos passeios ao redor das Orchard Towers (o maior ninho de meninas da vida que já vi a borbulhar, e eu já vi muita coisa...), não vejo sinais da crise... Talvez a malta esteja por aqui a beber, a comer e, enfim, mais algumas coisas como se não houvesse amanhã! Que é o que se espera de uma crise, não nos trazer nenhum amanhã... Olhando mais de perto a crise está de facto aí: o PIB de Singapura vai baixar 5% em 2009. Mas há números que me deixam ainda mais boquiaberto e são sinais de algo ainda pior do que estamos á espera: os fretes marítimos no Mar do Sul da China para um cargueiro típico de 20,000 ton cairam a pique, de 70,000 dólares diários há dois anos para algo em redor de 5,000 dólares neste momento!

Tenho mais umas bocas curiosas para vos transmitir sobre o burgo, mas estou deveras cansado... Até breve!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Tã-Nã, Nã-Nã, Tã-Nã Nã-Nã-Nã; Tã-Tã-Nã-Nã, TáNãNã...


Até dava um doce a quem adivinhasse o genérico que o título está a trotear... Mas como sou forreta não vos darei a oportunidade de o fazerem e desvendo a coisa já. A foto é da semana passada, estava o Asteróide de volta ao Texas, a assestar a câmera a partir do 38º andar do Sheraton de uma populosa metrópole capital do Big Oil. E que vêem? Algo parecido com a vista aérea que surgia no genérico inicial duma pré-histórica série gringa que nos invadiu os lares durante vários anos, a partir dos finais dos anos 70 e ao longo dos anos 80. "Dallas", claro, a Dallas do patife do JR, da boazona da Pamela, da calculista Sue Ellen e do tanso do Bobby Ewing...


Mais uma vez, apesar de por lá ter estado vários dias (estranhamente bem frios, chegando abaixo de zero...), as oportunidades de ver o sitio com olhos de ver escassearam... De qualquer forma, o que deu para espreitar não foi de todo animador, acho que não perdi muito. Como em Houston, temos um "downtown" pejado de arranha-céus, deserto ao fim de semana e com pouca gente na rua durante a semana (os sinais de vida fora das horas de ponta resumem-se aos parques de estacionamento cheios, ocupando cada m2 existente entre os arranha céus). A toda a volta, "highways" labirinticas, estradas passando umas por cima das outras a caminho de inúmeras direcções que ninguém entende bem quais sejam. Para lá desse novelo de circulares, uma imensidão plana em todas as direcções, a perder de vista, "até ao horizonte e mais além", por onde se espalha o resto da cidade, ao que dizem vários milhões de pessoas que não se prercebe bem por onde andam. Pelo menos na perpectiva de quem está encafuado no Sheraton, bem no meio da "downtown"...


E mais não consigo dizer. Tenho para aí umas fotos, que ainda tenho de decidir se publico no Picasa ou não: uma colecção artística de grandes arranha céus, uns grandes planos urbanos congelados e pouco mais. Gente: quase nada... E nem consegui comprar um chapéu à JR!