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domingo, 6 de janeiro de 2019

Adeus strogonoff

A nossa carruagem-restaurante russa deixou-nos. O ‘portal’ Siberiano, mítica passagem gelada para o restaurante (que era a última carruagem) já não existe: agora é uma janela para o exterior, a linha correndo para o passado. Não desesperámos muito tempo...

sábado, 5 de janeiro de 2019

Fronteira

Que saudades de fronteiras a sério... Desde as minhas aventuras pelo Leste da Europa nos anos 80 que não me divertia tanto. Finalmente, dão-me importância! Não é como a treta do Espaço Schengen para mariquinhas, que exterminou os carimbos. Por enquanto, a alfândega e controle de passaporte do lado Russo. Mais tarde virá a Mongólia. Ficamos na carruagem e não me atrevo a tirar fotos, claro. Mas tirei antes, e acho que a matrona que ao longe aguardava dentro deste edifício contíguo à plataforma faz parte da tropa que nos invadiu. Não admira que esperasse no abrigo: lá fora o frio aperta: -28C.


Primeiro uma matrona russa inspeciona os compartimentos. Mais tarde, um sorridente russo de etnia mongol voltará a inspeccionar, mais pela rama. Pelo meio dois garbosamente fardados jovens fazem uma primeira inspeção aos passaportes. Segue-se outra matrona, esta de traços mongois e rechonchudinha, equipada com um equipamento cheio de detetores, luzes e leitor de banda magnética que nos despe os passaportes inteiramente até os deixar na sua nudez mais honesta, sem nada porque pegar estes dois tugas. Durante o processo ia recitando uma litania, onde íamos reconhecendo os nossos nomes aqui e ali, da frente para trás e de trás para a frente. Terminou com a ansiada consagração, repimpando dois carimbos em cada passaporte.  Viva! Mas o momento melhor estava para vir. Interessado no meu livro ‘As Rotas da Seda’, um militar russo mais velho e de uniforme verde claro literalmente acocorou-se no nosso compartimento para ficar ao nosso nível (sentados) e, com muita dificuldades no inglês, explicou como a apenas 50 Km daqui um túmulo Huno merecia uma visita. Um momento marcante, interrompido pela matrona senior, que o chamou a outros deveres. Sem foto, infelizmente - oficiais russos não devem gostar de ser fotografados de cócoras quando estão a falar de história.

Munique entre a Russia e a Mongólia, com sabor a pampas e aroma tailandês

Deixem-me apresentar-lhes o Jo, um ex-informático de uma grande multinacional asiática de confeção de roupa. Fica aqui a foto tirada na carruagem restaurante há pouco, sorridente como sempre nesta viagem, deste reformado tailandês de pai chinês. Graças a ele, fiquei a saber o significado das mesas de madeira num Biergarten de Munique: nelas se pode abancar com a comidinha trazida de casa ou de onde quer que seja, e só se tem de comprar a cerveja. Foi preciso jantar com um sino-tailandês num comboio chinês a passar a fronteira entre a russia e a mongólia para obter esta preciosa informação que secretamente lhe foi confiada por uma professora de liceu alemã, que um destes Outubros espero que venha a ser útil. Para o Jo foi seguramente, pois é um grande garfo. Ao ponto de se ter candidatado - e ter sido aceite - como voluntário nos jogos olímpicos da juventude de Buenos Aires (o ano passado?), onde comeu bifes de chorizo do principio ao fim da sua estadia. Um espírito (e estômago) jovens!

A flor do Baikal

Depois de uma paragem em Irkutsk, o nosso comboio zarpu para Sul até chegar ao lago Baikal. Na costa Norte o Baikal ainda apresentava ondas a bater nas praias geladas. Entretanto contornámos o seu extremo Oeste e começámos a contornar o lago pelo lado Sul em direção a Leste. A paisagem mudou: as águas aqui renderam-se ao frio siberiano. Entre uma e outra paisagem, um parque de merendas na margem, com um banco para gozar a primavera quando ela vier e um sinal: proibido  apanhar flores. Devem ser raras e preciosas neste sítio, tal como uma certa flor que praticamente iniciou este Asteróide, lembrando a rosa do Principesinho. Flor...


quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Miguel Strogoff

Tinha uns nove anos quando comecei a devorar o Julio Verne. Um dos romances de Verne que mais me marcou foi o Miguel Strogoff. É com alguma emoção que chego a Omsk, terra natal do herói imaginário que povoou a minha infância. Como ele, também me dirijo de seguida para Leste, para Irkutsk. Mas não espero encontrar nenhuma Nádia no caminho, nem ser apanhado pelos Tártaros porque o Ivan Ogareff a mim não me conhece, nem ser cego por uma lâmina em brasa - nem miraculosamente salvar a vista graças a lágrimas à prova de lume. No entanto farei o que posso, com as aventuras que conseguir arranjar, aqui no Gulag-Express para Pequim via Sibéria d Mongólia.



quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Verão eterno

Zlatina and Giorgi, os nossos vizinhos búlgaros no transiberiano, aqui em foto. Agora sabemos porque vão para a Austrália. O Giorgi é viticultor e vai trabalhar no seu metier. Já o fez no Chile. E na Nova Zelândia. Tem 28 anos (a namorada tem 32 e é linguista). O negócio de família do Giorgi são equipamentos para pequenos produtores de vinho ‘do it your self’. É uma venda sazonal, que permite ao jovem casal passar a vida num verão eterno, migrando seis meses para o Verão meridional, outros seis meses no Verão setentrional, com aventurosas viagens pelo meio. Na Patagónia vendo os glaciares desmoronarem-se como aperitivo para o ganha-pão nas vinhas do Chile. Aqui no transiberiano a caminho da Austrália via sudeste asiático para mais negócio e aprendizagem na Oceania. A Zlatina por enquanto adapta-se: emprega-se por 6 ou 7 meses na Bulgária no Verão, em empresas de apoio técnico por telefone (ainda vou investigar melhor), depois desemprega-se e zarpa com o Giorgi atrás do Verão. Mas primeiro têm de atravessar o inverno connosco...


Trains crossing in the night

Balezin, -8C. O nosso é o da direita, o Transiberiano para Pequim via Mongólia. Também conhecido pelo ‘lowsy train’. O da esquerda é o irmão flausino, o Transiberiano que partiu de Moscovo com poucos minutos de diferença de nós e que vai para Vladivostok. Na ponte está o Asteróide e a sua lua, o meu filho, com um casal de Australianos que está no combóio flausino. Aproveitamos para pescar umas ideias para quando chegarmos a Hanói. Trains crossing in the night...

Bebedeiras de branco

E assim veio mais Leste. Embarcado em Moscovo no comboio N.4 com destino a Pequim, o Asteróide voltou à realidade das viagens como devem ser: pitorescamente desconfortáveis. O comboio é chinês com ar de ter sido usado pelo Chang Kai Chek para fugir ao Mao nos anos 50. Ao embarvar em Moscovo, o bafo: 29C dentro do comboio! A boa notícia: para já somos só dois no nosso compartimento para quatro... As latrinas de inox, sem papel higiénico que se veja, a alcatifa senenta no corredor, os frisos e alavancas metálicas para abrir e fechar as portas, a passagem pela Sibéria entre vagons: tudo indicaria que vamos a caminho do gulag, não fosse o oásis do vagon restaurante. Esse, é russo - e aparecerá noutro post.








terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Aquele momento

Aquele momento do nervoso miudinho, da expectativa, do abandono ao trajeto. Não se tem disto em aviões... Até já algures na Sibéria, e mais além. Para mais momentos daqueles.

Música na tela

Acho que afectei a inspiração do artista, mas não resisti... Na tela como na foto, o Conservatório de Moscovo e a estátua de Tchaikovsky.




Uma manhã normal em Moscovo

O Facebook e o Instagram transbordam de posts feéricos, fotos e vídeos destes três dias em Moscovo, desde que o Asteróide aqui aterrou na estação de Bieloruskaya. Fica a foto dessa aterragem, mas por enquanto deixo para o Facebook o que é do Facebook, incluindo o Ano Novo, recebido em festa na Praça Vermelha, ontem à noite.

Por aqui prefiro partilhar manhãs normais, como a de hoje, saindo de ‘casa’ na Voznesenskiy Pereulok e caminhando para sul para apanhar o metro na Arbatskaya, Linha 3 direção Pyatniskoe Shosse. O destino é a estação de Smolenskaya, um pulinho de uma paragem apenas, para evitar caminhar a rua Arbat de uma ponta à outra. Já o fiz um destes serões e vale a pena, uma rua pedonal pejada de restaurantes e animação natalícia. Mas hoje é de novo uma manhã normal e eu sou mais um moscovita a caminho de um destino matinal prosaico, no meu caso uma clínica onde vou mudar o penso de um dedo maroto que infectou quando não devia.

Ao fundo da minha rua viro à esquerda, onde uma pequena igreja ortodoxa assentou arraiais. Já lá espreitei durante uma cerimónia e recomendo: onde um templo católico é solenidade e eco, o espaço ortodoxo é um ninho acolhedor de sons abafados e coros melancólicos, sob um tecto baixo coberto de frescos.


A Nikitaskaya que percorro apenas uns metros para noroeste antes de virar à esquerda para a Kalashny, está deserta. Os moscovitas dormem, recuperando da passagem de ano, apesar de já passar das nove da manhã. No metro, que apanho uns 10 minutos de caminhada mais à frente, muito pouca gente também - ideal para apreciar estes palácios subterrâneos de mármore, candelabros e esculturas que se estendem pelo metropolitano moscovita. O céu é de chumbo, a temperatura amena (-5C) mas nem por isso os pombos parecem menos enregelados... Mais dramático é o caso do sem-abrigo com quem me cruzei, encolhido numa esquina junto com o seu carro de supermercado cheio de tralha. Hoje não está mau, mas o que acontece quando chegaraos -20C? Fiquei a pensar nele nesta manhã normal enquanto o Dr. Andreyi, na luxuosa clínica que foi o meu primeiro destino de hoje, me refez o penso e me elogiou a excelente cicatrizaçào. Estou pronto para embarcar no transiberiano.











sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

De Chenai com o Velho Testamento

David (pai) e Isaac (filho), são cristãos - nem outra coisa seria de esperar de quem ostenta nomes do Velho Testamento na India de hoje. Pai e filho voaram para Paris via Dubai, e agora partilham o compartimento connosco até Varsóvia - onde mudarão de carruagem, coisas de planeamento de última hora. De Moscovo voarão para Pequim e passado um par de dias um comboio de alta velocidade para Hong Kong, fim da linha e voo de regresso a casa. A família tem feito estas viagens quando podem, mas desta vez a Grace (filha que está a acabar medicina) e a mãe (que se reformou) ficaram em casa, para que a Grace possa acabar os seus exames. E assim se cruzaram duas rotas, tão diferentes e tão parecidas...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Sobre carris e memórias


E cá vamos de novo. Sempre acompanhado das memórias de carris passados. Nestes momentos em que arrasto as malas pela platforma e encontro o nosso comboio, as viagens de infância à Beira Baixa com os meus avós também fazem uma reaparição - nos anos setenta, com a bagagem espalhada por uns 15 sacos de plástico bem atadinhos, a epopeia era comparável à que hoje começo. Na rota para Moscovo conto também senti o cheirinho de viagens para lá da Cortina de Ferro nos anos 80, quando carris parecidos me levaram a Praga. Ou na mesma época, uma épica viagem de Praga a Berlim Leste - e daí passando para Berlim Oeste de ‘metro’... com o calor qie agora faz aqui no compartimento, quem sabe se não me sentirei de novo na Linha do Oeste em pleno Verão, com bons amigos a caminho de São Pedro de Moel! Por enquanto, a realidade enquanto nos arrumamos os quatro na nossa casa dos próximos dois dias: eu, o meu filho, e o David com o filho Isaac, ambos da Índia. Acho qie vão até Moscovo e de lá voam para Hong Kong. Talvez mais há frente entenda o que o Isaac de 18 anos e estudante de Gestão em Chenai procura em Hong Kong. Entretanto o comboio já em marcha e uma voz diz qualquer coisa em Russo, que não faço ideia do que seja.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A promessa

Esta viagem começou mais de uma década atrás, mais ou menos pela altura em que nasceu o Asteróide. Sem mais me alongar, direi que se trata de uma promessa feita ao meu filho. Que se começa a cumprir neste dia de Natal de 2018, quando eu, os meus trinta e dois quilos de bagagem e o meu filho embarcámos na Gare do Oriente em Lisboa. Destino? Fiquem por aí.