domingo, 28 de novembro de 2010

Tão longe

- Esta noite... Vê lá se percebes... Não venhas comigo.

- Vou! Vou! Não te quero abandonar!

- Mas há-de parecer que me dói muito... Há-de parecer que eu estou a morrer. Tem de ser assim. Não venhas ver uma coisa dessas que não vale a pena.

- Vou! Vou! Não te quero abandonar! (...)

- Fizeste mal. Vais ter pena. Vai parecer que eu estou morto e não é verdade...

Eu continuava calado.

- Percebes?... É que é muito longe e eu não posso levar este corpo... É pesado de mais...

In O Principezinho, Saint-Exupéry

domingo, 21 de novembro de 2010

Obamobil

Acho que já aterrei no aeroporto da Portela umas 10.253 vezes, e não me lembro de alguma vez ter a sorte de sair de forma decente do avião, por uma manga. Talvez uma vez, mas mesmo essa em falso: fomos de de imediato obrigados a sair da porta da manga para o asfalto exterior para apanhar um autocarro que nos levou a dar uma volta pelo aeroporto até à entrada que leva ao controle de passaportes. Enfim.

Mas por uma vez gostei de sair para a pista. Ali mesmo ao lado estava o passarão da foto e tanto eu como a multidão de noruegueses que voou comigo, todos vindos de Oslo na passada sexta-feira, disparámos as nossas câmaras, iPods, telemóveis e tudo o mais com lentes e um botão como se não houvesse amanhã. Também conhecido por Air Force One, o agora Obamobil aguardava pachorrentamente pelo dono enquanto este dedicou dois dias do seu precioso tempo à Cimeira da NATO que teve lugar em Lisboa por estes dias. Não que a foto ficasse alguma coisa de jeito, mas pode-se passar uma vida sem conseguir tal encontro imediato... a não ser quando se leva a vida do Asteróide, o que faz com que coisas assim aconteçam semana sim semana não. Até prá semana, Obama. Não sei é onde será...

Beam me up, Scotty

O que vêem na foto é naturalmente um extraterrestre a passear pelos arredores de Oslo na sexta-feira dezanove de Novembro de dois mil e dez. Por cima do dito ET vêem, obviamente, a sua nave com o feixe de teleporte já accionado. O único detalhe que até este momento não corresponde à verdade neste post é o título, uma piscadela de olho à famosa frase do capitão Kirk do Star Trek e não uma reprodução fiel da comunicação entre o ET e a sua nave. Essa reprodução mais fiel teria de ser algo como "tira-me já daqui que está um frio de rachar, cum carago!", o que não daria um título tão fixe nem tão atreito a atrair navegadores desatentos no Google.

Não me custa a acreditar que a plausibilidade do que acima digo possa ser posta em causa por alguns leitores. Mas a a verdade é que tive receio de relatar outra possível explicação da mesma foto. Alguém acreditaria que um português estava num comboio norueguês no tal dia de Novembro de dois mil e dez, a cento e cinquenta à hora, quando sacou da câmera fotográfica e disparou cirurgicamente, de forma a apanhar uma gigantesca estátua pós-moderna plantada no meio da neve? No exacto momento em que o poste de um candeeiro cruzava a lente? Nã...

Deve ter sido do frio

Quem leu os três posts anteriores sabe que o Asteróide esteve pela Noruega a semana que passou e que estava frio. Mesmo na primeira noite, em Kristiansand (bem no sul, junto ao mar, ainda sem neve e com temperaturas positivas durante o dia), o frio era de rachar e depois de jantar foram preciso uns valentes whiskys irlandeses para aquecer as entranhas... Foi nesse estado (aquecido...) que pela enésima vez me vi num país distante e alienígena com vontade de devolver parte dos líquidos sorvidos em quantidade respeitável. Também pela enésima vez, deparei com simbolos estranhos nas portas das casas de banho que me fizeram duvidar de qual seria a entrada certa para evitar embaraços. Uma situação destas pode mesmo levar à lapidação ou à decapitação... Se não acreditam relembrem o que aconteceu ao Asteróide uns anos atrás na terra do Sandokan!

E lá estava eu, a olhar para um esquilo. Ora eu nunca consegui dizer se um esquilo era macho ou fémea, pelo menos ao vê-los ao "naturel". Estava escuro, nem a palavra "Herrer" nem outros detalhes se destacavam o suficiente e não tinha presente que o sentido de humor dos vikings é brutal e completamente óbvio. Quando me lembrei desse facto já estava a apertar as perninhas e consegui finalmente perceber qual era o esquilo que me cabia. Este que aqui vêem, naturalmente... E a escolha foi boa: pude-me finalmente aliviar (embora em bicos de pés, porque quem instala urinóis na Noruega nunca pensou que uns gajos baixinhos do Sul ali fossem ali beber whisky irlandês) e não me apareceu nenhum juiz islâmico ou valquíria gorda a quererem cortar-me um pedaço de carne.

Um salto de cem milhões

Uma rampa cheia de neve. Por ela abaixo uns malucos escorregam até à extremidade de onde se lançam voando, todos esticados e inclinadinhos para a frente até o peito tocar os esquis. Assim planam (se tiverem sorte) até aterrarem umas dezenas de metros mais abaixo, ainda em plano inclinado, para deslizarem mais uma enormidade até conseguirem parar.

Esta "rampa", que em termos técnicos se deverá chamar "trampolim", está para este desporto de malucos que é o salto de esqui como o Mónaco está para a Fórmula 1 ou o Estádio de Wembley para o futebol: uma catedral da coisa. Apesar do seu ar futurista, a verdade é que o Holmenkollen (nome da colina que deu o nome ao trampolim de 60 metros de altura e ao pólo de desportos de inverno que abriga) nasceu ainda no século XIX e já vai na enésima reencarnação. A última deu-se por estes meses: cem milhões de euros investidos para preparar este gigantesco palácio dos desportos de inverno para o campeonato mundial de esqui nórdico de 2011. Viva o petróleo! O único problema orçamental da Noruega é o facto de lhe sobrar muito dinheiro... e começaram a faltar estados soberanos com as finanças suficientemente sólidas para se lhes comprarem títulos de dívida! Vai daí é melhor gastar a massa para que uns tantos loucos se partam todos a cair lá de cima aos trambulhões...

Brrrrr...




Este Novembro na Noruega tem sido mais frio do que o habitual. Claro que quem por lá chega vindo do Sul espera um frio polar, neve e talvez até mesmo o Pai Natal em qualquer altura do ano... E tudo isso encontrei quando por lá estive esta semana, excepto o velhote da barba branca. A verdade é que os noruegueses normalmente só esperam temperaturas fortemente negativas e neve em Oslo (que fica bastante a sul) lá para meados de Dezembro. Não este ano, como podem ver por estas fotos: neve a rodos tanto quanto a vista podia alcançar, onze graus abaixo de zero durante a noite em Oslo e títulos nos jornais chocados com os -25ºC que já se experimentaram mais a norte. Até a malta da publicidade aproveita o frio para vender... Bom, não faço ideia o que estão a vender, mas espero que ajude os pobres bacalhaus da foto.
Na sexta-feira, quando regressava de comboio ao aeroporto para apanhar o voo que me trouxe de volta a Lisboa, ainda estariam uns seis abaixo de zero e as casinhas das quintas destacavam-se na neve como se fossem parte de um presépio. Lindo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nils Holgersson

Os telhados brancos de neve e o rendilhado despido das árvores que vejo da janela hoje de manhã em Oslo fizeram-me sentir menino de novo. Aqui estou eu abraçado à minha mãe a Maravilhar-me de novo com a Viagem de Nils Horgerson, da Selma Lagerlof. O Nils teve de voar pelos céus da Suécia durante sete meses montado num ganso para se tormar um rapazinho melhor, eu tive mais sorte e fiz a viagem sem deixar o ninho, pela mão da minha mãe ao longo dos anos em que me fiz homem.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Outono primaveril

Ainda ontem era Junho e uma Primavera magnífica enchia-me a casa de vida. Agora é Outono, o Asteróide já perfez mais umas valentes órbitas e está de novo de passagem pelo campo aqui na Lusitânia. O meu cão do post de Junho fez-se à estrada no dia 1 de Setembro e nunca mais o vi. A sua companheira acompanhou-o mas, decerto farta da vida que levavam, passados dois dias voltou para casa. A videira selvagem da latada cobriu-se de vermelhos e laranjas e desatou a soprar folhas para a piscina. O plátano está mais atrasado mas já manda uma ou outra folha avantajada cá para baixo também. A passarada, pelo menos a que poisa por aqui, está gorda e anafada e chilreia como nunca. Qual Primavera... Se até as flores de alguns vasos escolheram desabrochar agora! As primeiras chuvadas já deram o recado que o Inverno que se aproxima deverá ser tão diluviano como o último, mas agora o Verão de São Martinho está por aqui. E a vida continua. Literalmente, como podem ver pela aparição da foto, a última aquisição da família (candidato a substituto do pirata que fugiu...). Venha o Outono!

BA 500

Para vocês este post pode parecer em código, mas não é. Para mim "BA500" significa "casa" em "aeroportês". Mais propriamente em dialecto de Heathrow, Londres, onde com alguma frequência desaguo indo para ou vindo de qualquer lado. O momento foi semanas atrás, regressando do Oriente, e os neons da foto foram música para mim... Casa!

Vertigo




Não, não se trata do filme do Hitchcock mas si do bar com a melhor vista de Bangkok. O Vertigo escolheu bem o nome: no 61º andar do Banyan Tree Hotel, o sitio é esmagador e no minímo vertiginoso. A cidade fica aos nossos pés e à noite o espectáculo é avassalador. Não passei lá de dia, quando a minha velha Canon de bolso conseguiria prestar um melhor serviço, mas creio que o que as fotos não dizem deixam adivinhar. Um sitío memorável, que recomendo a todos os que passarem por Bangkok.

Snooker com pernas



Antes de vos deixar sair da Nana Plaza em Bangkok (se não sabem o que é espreitem o post anterior...) não posso deixar de partilhar três fotos que, sem grande sucesso, tentam dar-vos uma ideia da espantosa coreografia que uma série de garotas providenciaram enquanto jogavam snooker. Bom, pelo menos a maioria seriam meninas, uma minoria era um pouco alta demais... A cena esteve em palco no último bar onde bebi um copo antes de voltar ao hotel. Por uns momentos ainda pensei que a dança se destinava a atrair machos para acasalar, mas quando por minha vez joguei contra uma das moças já tinha percebido que não era nada disso. Trabalho é trabalho, cognac é cognac, e as meninas aparentemente estavam a fazer um intervalo e levavam mesmo a sério o jogo! Para elas era cognac, e não trabalho: os machos à volta não eram potenciais clientes mas sim alvos a abater, a esmagar na mesa verde! À paulada, ou seja, com os tacos de bilhar... Todas elas jogavam melhor que os turistas que por ali bebiam uma cervejola e que iam tentando jogar quando havia vaga. Quando com muita sorte à mistura ganhei a única partida que joguei a minha adversária ficou danada! Acusou-me de fazer batota e delicadamente deixei-a ficar a jogar: a coisa era ao perde-bota-fora e eu não quis arriscar levar com o taco...

O pecado mora ao lado



Neste caso mora ao lado do finérrimo JW Marriot de Bangkok, onde pernoitei umas semanas atrás, já depois de Pattaya e antes de voltar para casa via Singapura. Refiro-me à Nana Plaza e imediações, nas traseiras do JW, onde tirei estas fotos... A Pattaya do post anterior é a versão balnear do forrobodó que na realidade começa na capital da Tailândia, a metropolis do pecado carnal cujo ponto-G é a zona de Nana. Não é mais fino que Pattaya, mas dá-me ideia que é mais descontraído. Foi possível passear, beber um copo aqui e ali, e nem por isso fui devorado. E nas ruas podemos recorrer a umas carripanas com grelhadores ambulantes, onde autênticos "chefs" grelham insectos e outros organismos vivos deliciosos que nos permitem encher o bandulho com a mais refinada "haute cuisine" tailandesa.

Claro que na Plaza propriamente dita, onde os bares se amontoam em três níveis como se pode ver numa das fotos, evitei entrar nos antros dos andares superiores. Só espreitei rapidamente ao passar por um e ia sendo sugado para aquilo que parecia uma caverna cheia de corpos nus a trepar por uns postes acima, Brrr... Para a posteridade deixo-vos uma "short list" de nomes de bares, uma toponímia pitoresca e auto-explicativa:

G-Spot, The Biggest Go-Go bar of Bangkok!
Carnival, Asia's only double Carroussell! (nem quero pensar o que será isto...)
Fantasia
Pretty Lady
Sexy Lady
Angel Witch
Spankys (ui...)
Red Lips
Annie's Do Do (ena!)
Annye's Soapy Massage, World Famous since 1972! (confesso que fiquei curioso à brava relativamente a este último...).

Claro que onde há pecado há redenção. Antes ou depois da função, todas aquelas massagistas sexuais e de egos rumam a altares existentes mesmo no meio do bulício, pequenos e discretos como o da foto tirada num beco escuro entre dois bares, para rezarem. Não consegui ouvir o que a menina ajoelhada estava a dizer ao Buda, por não saber ler pensamentos (que ainda por cima deviam ser em tailandês...). Mas acho que consegui adivinhar.