sexta-feira, 23 de maio de 2008

Pairando sobre São Conrado, Rio de Janeiro


Pois foi assim, desta forma que a foto não consegue descrever devidamente dado o adiantado da hora, que este enviado do Asteróide fez jus ao título do post.

Trinta segundos antes da imagem captar o último sol Carioca do dia 20 de Maio do ano da graça de 2008, estava a correr pela rampa de voo livre da Pedra Bonita, um íngreme acidente rochoso coberto de selva que faz parte do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, mesmo ao lado da Pedra da Gávea (800 metros de rocha arraçada de Pão de Açúcar subindo directamente da margem do mar). Para lá chegar tinha trepado pelo morro num buggy negro, o pedaço de carro mais barulhento do hemisfério Sul, carregando as minhas asas e mergulhando na Favelinha e na selva do Parque. Encomendando a minha alma ao criador enquanto corria apontado para Sudeste, olhava só em frente enquanto dava à perna, só em frente, para a lua nascente no mar sobre o arquipélago das Ilhas Cagarras, os tons alaranjados do fim do dia, a praia de São Conrado e os blocos de apartamentos encostados à mesma, um quilómetro adiante. Nunca para baixo, seiscentos metros mais abaixo, onde à selva do morro se sucediam depois as luzes do trânsito fluindo do final da Niémeier e na autoestrada Lagoa-Barra, a caminho do Elevado do Joá, um dos pedaços de estrada mais bonitos do mundo, com as suas faixas sobrepostas penduradas sobre a ravina à beira-mar...

Passados uns intermináveis e palpitantes 1000 milisegundos correndo, precipitava-me no espaço, precariamente pendurado numa asa delta junto com um voador encartado. Foram doze minutos de voo planado soberbo, com uma vista de cortar a respiração, até dar a volta sobre o mar e aterrar suavemente na praia. As fotos tiradas com a máquina de comando remoto fixada na ponta da asa não estão grande coisa mas o filme, com outra câmera e acompanhando todo o voo, reflecte mais honestamente uma experiência recomendável a todo o tipo de passeante no Rio, mesmo aos que como eu, com roupa de Ver-A-Deus (que é como quem diz de visitar clientes...), se limitou a ceder a um impulso de fim de dia.

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