domingo, 8 de março de 2009

Bye bye Olivais


Como o refrão do Asteróide diz, "é aos Olivais que gosto de voltar sempre que regresso a Portugal". Parece que tenho de substituir o "gosto de voltar" do filho pródigo pelo "gostaria de voltar " lacrimejante de quem se desliga do seu canto para assentar arraiais noutras paragens... Os meus Olivais... Onde ia comprar o benzovaque nas imediações do café do Gordo, com um olho no burro e outro no cigano para que não me gamassem os trocos. O das correrias a fugir dos Pimenta, dos namoricos pelas sombras do Vale do Silêncio, das futeboladas no Maracangalha e dos barcos piratas em que transformávamos os choupos. Das bombinhas vermelhas de tostão, e das verdadeiras bombas de um escudo com as quais fazíamos voar garrafas vazias de Camilo Alves... Do cão da amiga que morreu atropelado a cruzar a nossa rua. No tempo em que a fronteira proibida que dava para o mundo exterior era essa mesma rua. E que fazer quando um chuto desmiolado levava a bola para o outro lado da rua? Quem se atrevia a afrontar a Lei da colher de pau?! Os meus Olivais... Das correrias pelo Largo das Mamas, do acertar com um chuto nos postes de básquete ao pé dos correios para marcar três pontos, do rabo a arder com duas palmadas depois de um dia a brincar na rua a fazer orelhas moucas à voz que nos chamava lá da janela... Do Café do Tó dos amigos chegando nos dias soberbos de férias escolares. Do primeiro cigarro lá para baixo nos Viveiros e dos que se lhe seguiram às escondidas na cave do prédio. Das hortas e veredas transformadas em campos de batalha e de aventuras, agora para sempre cobertas pelo cimento do Shopping... Tempo de mudar!

terça-feira, 3 de março de 2009

Cantos infectos, raios incríveis e crise nos mares do Sul da china


Ainda não inventaram fotos com cheiro, se não esta decerto teria um impacto maior e mais merecido... Não há nada como voltar a um sítio seguro e organizado como a "minha" Singapura para encontrar estas pérolas. Neste caso, um vão de umas escadas de acesso a um parque de estacionamento subterrâneo, não longe da mui "chick" Orchard Road. Reconfortante (mas intrigante) deparar com tal aviso num sítio onde não é suposto esperar que alguém se atreva a urinar pelos cantos! A Singapura onde nem pastilhas elásticas são toleradas? Nããã... Bom, foi intigrante um par de dias antes desta foto, mas no Sábado passado, quando estacionei de novo no mesmo sitío e subia as escadas para a rua: voilá! Fez-se luz! Aliás, fez-se cheiro... Tudo pintadinho de fresco, incluindo o aviso na parede, e á vossa direita uma monumental poça de mijo tresandando... a isso mesmo.

É bom ver que apesar de toda a civilização imposta ainda há alguma fraqueza humana por aqui. Sendo "aqui" a Singapura que mais uma vez visito durante uma breve semana e onde com muito prazer volto de quando em vez. A rotina habitual: trabalho a potes, rever os amigos, cuscar nos jornais as notícias únicas deste canto do mundo. Hoje, por exemplo, um estudante universitário indonésio apunhalou até à morte um seu professor, pelas costas e inopinadamente (o agressor acabou por morrer pouco depois ao cair pelas escadas a baixo, ao que parece). Tudo muito limpo, desde o uso cirúrgico da faca até à quebra do pescoço sem derrame de sangue... Muito mais fantástico (e agourento...) é o facto de ontem um raio ter atingido o simbolo da cidade, a estátua do Merlion, esse ser mítico que podemos ver com a sua cabeça de leão a cuspir um jacto de água para a baía, sob os arranha céus da "City". Bom, o Merlion jaz agora com um buraco na cabeça, todo entaipado com andaimes, e já não cospe nada... E eu, que consegui fugir aos muitos raios que cairam por aqui Domingo á tarde, não evitei uma molha a correr para o carro quando quis sair de East Coast Park, onde tinha acabado de desgustar uma bela mariscada.

E a crise? Bom, ao deambular pelos bares de Clarke Quay, pelos restaurantes de Dempsey, ou nos passeios ao redor das Orchard Towers (o maior ninho de meninas da vida que já vi a borbulhar, e eu já vi muita coisa...), não vejo sinais da crise... Talvez a malta esteja por aqui a beber, a comer e, enfim, mais algumas coisas como se não houvesse amanhã! Que é o que se espera de uma crise, não nos trazer nenhum amanhã... Olhando mais de perto a crise está de facto aí: o PIB de Singapura vai baixar 5% em 2009. Mas há números que me deixam ainda mais boquiaberto e são sinais de algo ainda pior do que estamos á espera: os fretes marítimos no Mar do Sul da China para um cargueiro típico de 20,000 ton cairam a pique, de 70,000 dólares diários há dois anos para algo em redor de 5,000 dólares neste momento!

Tenho mais umas bocas curiosas para vos transmitir sobre o burgo, mas estou deveras cansado... Até breve!