terça-feira, 22 de abril de 2008

Regresso à Cochinchina


De novo na terra do melhor café do mundo (qual bica, qual Itália, nem mesmo o Nespresso lá de casa se aproxima ...), das massagens sumptuosas, de um mundo a mudar rápidamente, do paraíso dos fotógrafos mal jeitosos como eu. Estou a falar-vos, claro, do Vietname. Onde nem tudo é bom: a cacofonia constante das apitadelas do trânsito, a mania de espetar com um pedregulho de gelo dentro dos copos de cerveja, enfim...

Desta vez o asteróide tem singrado mais para Norte: começou em Ho Chi Min (Saigão), passou para Nha Trang, de praias excelentes e com uma das baías mais belas do mundo, agora paira sobre Danang, para onde voei esta manhã.

A moça da foto foi surpreendida através do vidro do restaurante onde almoçava, pelas 11 da manhã. Ela vendia jornais, eu comia galinha, apresentada na travessa com cabeça e tudo, acompanhada por umas saborosas flores cozinhadas a modos como se fossem grelos.

Fotos não faltam (falta é tempo para as publicar...), principalmente dos autóctones, espantosamente fotogénicos nas suas exóticas lides. Hoje consegui um par de horas disfarçado de turista, subindo a ladeira dos pagodes de Ngu Hahn Son e bebendo cerveja e petiscando na praia de Non Nuoc, quilómetros de areia branca em tempos apelidados de China Beach por um grupo de marines fazendo wind surf enquanto eram espiados pelos Viet Congs... Quanto a Hahn Son é a capital dos mármores, orgulhosa de ter fornecido o material para o mausoléu de Ho Chi Min em Hanói e onde estátuas de todos os tipos e dimensões se aninham no sopé de colinas verdejante, esperando pelos turistas para as comprar.


Até à próxima

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A gente da terra dos gerúndios

De facto “está faltando” relatar muita coisa sobre a minha foguetória passagem recente pelo Brasil, em duas semanas demasiado aceleradas entre final de Fevereiro e início de Março últimos. Foi uma semana no Rio, com base na Barra, e outra semana rodopiando por parte do país, com São Paulo a servir de dormitório e os seus aeroportos (usei os dois...) no papel de placa giratória. Dormir quatro horas em São Paulo entre o avião de regresso de Ipatinga, a Capital do Aço de Minas Gerais, e o pássaro que me levou no outro dia antes da alvorada para Camaçari, Bahia, não é propriamente fazer turismo... Ainda deu para passar de carro na Avenida Paulista há noite e nada mais. Do Estado de São Paulo acabei por conhecer, a 100 Km da grande cidade, a bucólica Quiririm, o maior contraste possível com a megapólis...

Como eventualmente já leram mais abaixo, estou em Singapura, agora como visitante apenas, mas sinto um certo remorso por ainda não ter declarado alto e bom som que SIM, é VERDADE, e só peca por defeito: o Rio de Janeiro é de facto a Cidade Maravilhosa! Que dizer do Rio? Vou guardar comentários para um post mais tarde, quando publicar no Picasa as fotos da cidade.

Ficam para já a estranheza desse país de uma força estonteante que é o Brasil, onde tudo é violento, ou belo, ou arrebatador, ou louco, ou uma mistura de tudo isto ao mesmo tempo. Este turbilhão é depois temperado pela exótica pitada do português falado já em conformidade com o Acordo Ortográfico que será assinado no ano de 2124... Quem se poderia lembrar de chamar a uma pen-drive USB de “chupa-cabra” se não os brasileiros?! E que dizer do “camelódromo”, que ao contrário do que possam pensar não é um sítio para corridas de camelos como no Dubai? No Brasil um “camelódromo” é um mercado de venda ambulante, sendo os vendedores itinerantes alcunhados de “camelos”.

O Brasil não consegue ser descrito, então por um falta de jeito como eu. Não sabendo como o descrever, vou dizendo que é o sítio onde por exemplo uma propaganda do Estado clama “O Candidato que Você Elegeu é Você Lá. Olho nele!”. Poxa vida... E que dizer das estatísticas? Dezassete assassinados por dia no Rio, quatro dos quais na Barra da Tijuca, supostamente um canto mais calmo, a 500 metros do meu hotel numa manhã em que devia estar a dar o mergulho das seis da manhã: bandidos mandaram granadas, abalroaram carro da polícia e finalmente foram feitos em picado, os quatro, a tiro de metralhadora. Outra estatística: uma média de dois moto-boys morrem diariamente no Rio (os moto-boy são os estafetas que compõem o sistema circulatório documental da cidade, porque correio não é fiável para os negócios). E as praias que nunca mais acabam, a praia omnipresente do Rio? Na realidade não se sabe bem o que é PRAIA antes de ter ido ao Rio... Tudo isto com um certo ar de familiaridade, como quando dei comigo, no único dia que parei para um chôp de fim de tarde na Praia do Pêpê, a cumprimentar um conhecido actor de novela que me foi apresentado enquanto passava de calção de banho e prancha debaixo do braço.

Para lá do Rio, nas minhas voltas, ficou a constatação que as línguas de raiz índia (Tupí-Guarani) se mantiveram fortíssimas na toponímia dos lugares. Estive em Quiririm e Caçapava no estado de São Paulo, em Camaçari na Bahia, em Ipatinga em Minas Gerais...

Bom, por hoje chega de Brasil... para lerem mais esperem que eu volte a ter tempo. Talvez em Maio, quando estiver de novo por aquelas bandas, desta vez apontado ao Recife. Entretanto já podem ver online um álbum de fotos da Bahia (desta vez pouco vi da Bahia, as fotos são de 2005 quando estive em Salvador) e outro de fotos à traição no Brasil desta última viagem: pessoas, animais e coisas apanhadas enquanto passava a correr...

Já com a consciência mais tranquila, deixarei agora o Asteróide subir para Norte, até ao Vietname que desta vez vou conhecer em maior extensão durante a próxima semana. Depois, uma saltada mais a Oriente, o meu recorde em teremos de deslocação para Leste: a Coreia. Não prometo quando voltarei a dar notícias!

Crime, crime, crime: o caso do terrível chihuahua malaio

Enquanto a crónica das escaldantes noites de Singapura (dark side...) se faz esperar, acho adequado mitigar-lhes a impaciência (já que tenho estado aqui por Singapura desde a última semana, de passagem) com um parente, embora pobre, do sexo: CRIME!

É assim que vos apresento o criminoso Liu Liangwu, que escapou por um triz a ser engavetado por 12 meses por ter sido apanhado a entrar na República de Singapura com uma arma proibida, na fronteira rodoviária com a Malásia. Safou-se pagando uma multa de 10,000 SGD (cerca de 4650 EUR ao câmbio de hoje), o que eu acho uma prova da doçura com que Singapura trata este tipo de empedernido facínora. Na imagem acima exponho-vos o Criminoso e a Arma do Crime (um Chihuaha de aspecto nitidamente letal, capaz de provocar uma mortandade na população local de pitons, iguanas ou coreanos por atentado à digestão).

À parte o Caso do Vil Chihuahua de Johor Bahru, ali do outro lado da ponte (de lá só vem desgraça, desde que o Sultão de Johor se aliou aos Holandeses para correr com os portugueses de Malaca) ficam as 10 acusações de maus tratos que recaem sobre uma senhora local. A pobre senhora está em risco de pagar 1500.00 SGD (700 EUR) de multa por ter repetidamente esmurrado, puxado os cabelos e dado com a colher de pau à sua empregada indonésia.

De resto, crime à parte, a vida é boa aqui em Singapura (excepto para mim, que trabalho como um cão – mas com gosto - deixando o Asteróide à deriva). Os preços de compra e aluguer de casas começam finalmente a travar a subida. Chegado o fim do prazo de entrega do IRS só 15% ainda não entregaram a declaração (ainda o podem fazer na net, como já fizeram cerca de um milhão de contribuintes, de um total de 1,5 milhões de pagantes). O Cristiano Ronaldo aparece todos os dias em pelo menos um jornal. O Singapore Flyer, a maior roda gigante panorâmica do mundo (165 metros de diâmetro deu finalmente a sua volta inaugural para fazer inveja ao London Eye. Os indonésios aqui do lado são gozados por um Presidente da Câmara estar a ameaçar uma dançarina-cantora de dangdut com uma proibição de actuar se não aceitar tornar o seu espectáculo menos sexy. “Jovens do sexo masculino disseram-me que ficavam sexualmente excitados quando vêem Dewi Persik actuar”, acusou uma líder religiosa indonésia, o que levou Dada Rosada (!) o Presidente da Câmara de Bandung, a proferir que “o que desperta o apetite sexual não é arte...”. Alamah! Fiquei com vontade de apanhar o ferry para Java...