quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A herança de Torquemada: os Homens da Nação em Amsterdão



Shalom. Que quer dizer paz. Como em "shalom aleikehm" ("a paz esteja convosco", em hebráico). Ou em "assalamu aleikum", em árabe, que soa praticamente igual. Tão elaborados cumprimentos dos cultos árabes e judeus ibéricos intrigaram os bárbaros cristãos durante a reconquista, dando origem uma palavra bem portuguesa: "salamaleques"... E esta fusão árabe-judia-lusitana leva-nos a este post e às fotos acima, só possíveis graças à
resiliencia bíblica (literalmente...) de um povo. Vejamos...
Após a destruição do Templo (o Novo Templo, uma modernice de Herodes destinado a ultrapassar em dimensão o antigo templo de Salomão...) no ano 70 da nossa Era, o povo judeu espalhou-se pela Europa. A diáspora caracterizou-se pela formação de duas comunidades distintas, a dos judeus que fugiram pela Russia e a dos que se fixaram na Peninsula Ibérica. Estes últimos são os Sefarditas, e é por causa deles que hoje ainda se fala português em comunidades judaicas um pouco por todo o mundo, de Israel a... Amsterdão. O outro ramo acabou por se estabelecer durante a Idade Média na bacia do Reno. Ambos os ramos acabaram por se encontrar na tolerante Amsterdão em grandes números, ao longo dos séculos. Em 1939 estima-se que 80,000 judeus vivessem em Amsterdão, mais de dez por cento da população. Em 1945 já só restavam 5,000, depois dos nazis terem feito descer a noite sobre a Europa.
Mas antes do terror nazi já os judeus tinham enfrentado tempos e personagens muito difíceis. Os Sefarditas em particular começaram a ter problemas quando os primeiros reis Visigodos na Peninsula Ibérica se converteram ao cristianismo (o rei Recared foi o primeiro a obrigar a comunidade judia a converter-se ao cristianismo). Depois veio a bonança, com a conquista Árabe. Que ironia... Com excepção de alguns períodos, Judeus, Árabes e Cristão mantiverem uma profícua colaboração ibérica sob o domínio mouro nas artes e ciências durante vários séculos, ao ponto da lingua árabe ter nessa altura influenciado a própria gramática hebráica. Depois veio a reconquista e os problemas voltaram, principalmente nos reinos que viriam a formar a Espanha, sob o domínio dos reis Católicos e do seu Inquisidor-mor Torquemada. O ano de 1492 não foi só o de descoberta da América... Foi também o da queda do reino de Granada, último bastião árabe e também a casa de muitos judeus. Noventa a cento e vinte mil (!) judeus, na maioria "conversos" (cristãos-novos) fugiram de Espanha, dos quais trinta mil para Portugal, tendo com isto um impacto enorme na sociedade do nosso país. A comunidade judaica duplicou no nosso país, e atingiu os 60,000 (8% da população de então). Quando D. Manuel "obrigou" os judeus a converterem-se (uma condição da noiva, filha dos Reis Católicos...) criou simultaneamente condições para que estes preciosissímos recursos humanos se mantivessem por cá, ao garantir por lei que durante vinte anos não haveria Inquisição para "verificar" se as conversões eram genuínas. Na realidade tal lei acabou por ser prorrogada para lá dos vinte anos e foi preciso a chegada ao trono do "beato" D. João III em 1521 para que a comunidade de "homens da nação" (assim se auto-apelidavam os cristãos-novos na nossa terra) se começasse a sentir ameaçada. E tinham razão: em 1536 a Inquisição chegou a Portugal.
O poder e importancia dos "homens da nação"na sociedade lusa de então permitiu no entanto adiar o primeiro auto-de-fé até 1540. Algumas famílias começaram a deixar-nos nessa altura, mas mesmo após este evento dramático a maioria dos cristãos-novos resistiram por cá muito mais teimosamente que os seus avós em Espanha no século anterior. Isto segundo David Cohen Paraira - seria Pereira? - o autor do delicioso "The Esnoga" sobre a Sinagoga Portuguesa de Amsterdão que me serve de guia para muito do que escrevo hoje aqui.
Finalmente D. Sebastião desapareceu no nevoeiro e levámos com o Filipe II de Espanha em Portugal, em 1580. Para os Homens da Nação foi a gota de água e o início de uma fuga em massa. Primeiro para Espanha, onde tentavam passar despercebidos (sem sucesso...). Depois mais para norte. Amsterdão foi um dos principais destinos. Em 1598 celebrou-se em Amsterdão o primeiro casamento português em Amsterdão, entre uma Maria e um Manuel, claro (Maria Nunes Homem e seu primo Manuel Lopes Homem, ambos de de Ponte de Lima). Os pais da noiva eram acusados de "judaísmo" pela Inquisição e estavam presos em Lisboa, mas a verdade é que os noivos se casaram clandestinamente pela Igreja Católica, assumindo publicamente um comportamento religioso prostetante. Protestantes-novos, de facto católicos, e ex-judeus? Parece um jogo de sombras... O judaísmo não era proíbido em Amsterdão mas a o catolicismo sim!
A comunidade portuguesa de origem judia em Amsterdão creceu de tal forma no início do século XVII que a partir de 1670 construiu uma das mais imponentes e conhecidas sinagogas do mundo. A Esnoga. Foi aí que tirei as fotos acima, mais uma vez de fraca qualidade devido às minhas experiências com a máquina para evitar flash em sítios escuros... O que interessa, porém, é a mensagem. Hoje um pouco mais solene do que habitual no Asteróide, cá fica uma vénia à resiliencia do povo judeu e uma homenagem ao preço que pagaram por ela: os milhões de vítimas dos tiranos, do visigótico Recared ao sanguinário Hitler, passando por Torquemada.
Shalom.

Urinadelas avançadas


O que acontece às pessoas nas sociedades modernas quando estas evoluem, evoluem, evoluem? Pelo menos em Amsterdão a resposta é simples: acabam a urinar pelos cantos, à vista de toda a gente, noite e dia, mesmo quando um tuga tarado anda por ali a disparar a câmera fotográfica de forma incontinente. Claro que o facto de serem avançados a este ponto não significa que os holandeses gostem de ser fotografados no acto, daí as fotos que vos apresento: granuladas pelo ISO elevado que seleccionei e pela distância a que as tirei. Mesmo assim, o senhor que dentro da jaula verde aqui vêem de coisa na mão apercebeu-se que estava a ficar famoso. E não gostou. Saiu de lá com ar de poucos amigos, pelo que me disseram. Eu não vi, já estava a assobiar para o lado e a tirar fotos ao mercado de flores flutuante ali perto, para disfarçar...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Reino das Bicicletas





Apesar das peripécias da última semana já depois de passar pela Holanda, em termos de blogosfera ainda não arranjei tempo para sair de Amsterdão... Isto apesar de já estar em Portugal há cinco dias, onde consegui chegar fugindo da neve. Em Amsterdão os brancos flocos chegaram na segunda-feira da semana passada, mas não foi o suficiente para me impedir de voar para Inglaterra nesse dia e daí pular para a Escócia na quarta-feira. Em Aberdeen a neve quase me caçou... Mas lá me safei e cheguei a Portugal na quinta-feira, com duas horas de atraso devido ao caos de Heathrow onde fiz escala. Sei hoje que foi mesmo a tempo! Mais uns dois dias por lá e ainda passava o Natal no aeroporto do mundo que mais odeio...

Por enquanto, meus amigos, têm de aturar mais uns estereótipos antes de Amsterdão vos deixar da mão... E cá vão umas fotos a fazerem jus a um dos três mais afamados estereótipos da capital holandesa: bicicletas em barda. "Bicacity" poderia ser uma alcunha de Amsterdão, tal como "Cidade do Trolóró" ou "Red Light City". Sobre esta última falaremos num próximo post.
E é mesmo uma "Bicacity". Até um autocarro a pedais passou por mim, como podem ver na foto. E um "ferry" ajouzado delas. E bicicletas por todo o lado... Estacionadas às centenas junto aos canais, aos milhares nos parques de estacionamento principais e aos milhões na rua a tentarem passar-lhes por cima... Não tenham ilusões: os holandeses passam-lhes mesmo por cima, sem dó nem piedade! Aquele passeio bem nivelado por onde vocês caminham romanticamente à beira de um canal é provavelmente uma pista para as bicas, portanto estão a segundos de serem passados a ferro. E os donos das bicicletas ainda vão ficar ofendidos! A não ser que fosse o dono da bicleta hippy da foto...

Isto das bicas trouxe-me à memória o que me contou um taxista árabe em... Oslo! É que na capital Norueguesa a malta também anda toda de bicicleta, como já lhes disse. À excepção por vezes de ex-primeiro-ministros a caminho da cerimónia de entrega do prémio Nobel da Paz, que apanham um taxi, como foi o caso a 10 de Dezembro último. Um dos grandes sinais exteriores de riqueza e status em Oslo (para além de apanhar um taxi...) é comprar por milhares de euros uma bicicleta xpto melhor que a do vizinho. É de facto uma excelente ideia, excepto se se for negro retinto, como um certo amigo do taxista de que lhes falo. Africano de sucesso em Oslo, o tal amigo negro comprou uma bicicleta xpto para chegar mais rápido ao emprego (dizia ele, eu acho que foi para fazer inveja ao amigo árabe...). Infelizmente logo na primeira viagem a polícia mandou pará-lo duas vezes. Após duas semanas já o tinham parado dezenas de vezes e chegava cronicamente atrasado a qualquer sítio onde se dirigia... Para a zelosa polícia norueguesa a braços com uma epidemia de roubos de bicicletas parecia óbvio: negro + bica xpto = ladroagem... O pobre homem ainda arranjou uma declaração do vendedor de bicicletas em como ele era o genuíno dono, mas nem isso ajudou. Acabou por vender a bicicleta a um norueguês louro. E provavelmente albino também.

Moral da história: as sociedades holandesa e norueguesa são muito evoluídas. Excepto se o assunto meter bicicletas...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Yes we can!

Pois podemos, mas não é a mesma coisa. Isto de entrar num "coffee shop" e dizer "ó faz favor" e depois pedir a coisa como se estivesse a pedir um galão não tem tanta piada como estar escondido atrás de um arbusto nas imediações do Café do Tó nos Olivais Sul.

De qualquer maneira foi bem bom despir as vestes e poses de trabalho e calcorrear ruas e
canais de Amsterdão, aspirando o ar perfumado da cidade do mesmo modo que o Presidente da Gringolândia o fizera antes. Aparentemente…

A acordeonista de Amsterdão

Ao frio de Oslo, onde os deixei no post anterior, seguiram-se uma catadupa de voos, sempre com frio e frequentemente com neve, pelo Noroeste da Europa. Começando por Amsterdão, onde cheguei a 10 de Dezembro para passar o fim de semana. Infelizmente as órbitas foram apertadas e só agora tenho tempo para vir aqui pôr a escrita em dia...

Nos próximos posts tentarei falar um pouco sobre esta cidade tão especial, por enquanto deixo-vos com a foto que mais me marcou. Desta vez nem sequer reduzi o tamanho da foto antes de a carregar no post, pelo que se clicarem na imagem vale a pena olharem para o sorriso mais de perto. Que diz muito sobre Amsterdão: um sorriso diurno bonito mas um pouco triste devido ao frio. Há noite a coisa é diferente, nesta cidade única...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Liu Xiaobo na neve




Claro que toda a gente associa os Prémios Nobel à Academia de Ciências Sueca, e as cerimonias de entrega dos ditos a Estocolmo... Mas não é sempre assim. O Nobel da Paz é decidido pelo parlamento Norueguês e o Noble Peace Centre encontra-se em Oslo.

Por isso, quando eu na sexta-feira 10 de Dezembro estava a sair do hotel junto ao teatro nacional em Oslo, ali a uns duzentos metros atribuia-se o Prémio Nobel da Paz a uma cadeira vazia. Ou antes, a Liu Xiaobo, que nesse momento estava preso a sete chaves pelo governo chinês, que só o deixou sentar no catre da cela àquela hora... E sem jantar...

Por coincidência lá estava o Asteróide no momento certo a sacar umas fotos raras. No parque em frente havia uma manif, umas poucas dezenas de pessoas a atrair uma data de cameras de TV e jornalistas de vários tipos. Para minha surpresa, não se tratava de um grupo de pombinhos brancos a falar de paz, mas sim uma bem organizada manif contra Liu Xiabo. Os manifestantes iam gritando umas coisas de acordo com a batuta do senhor do megafone, que já estava a olhar para mim com ar desconfiado. Todos os manifestantes eram chineses, muito deles com cabelo à escovinha assim a modos que acabados de sair do quartel. À excepção de um puro nórdico, aqui também fotografado, que os chineses devem ter contratado nas hostes locais mais excêntricas, só para fazer figura. Isto de ter um nórdico a falar contra o Liu Xiabo deve ter saído caro...

Um friozinho de nada...


Em Oslo no final da semana passada acho que bati o recorde... Refiro-me a andar na rua com frio. Pela hora de jantar estariam uns -13ºC quando a tirei a foto das bicicletas, a caminho de um wine bar de que gosto particularmente na zona de Aker Brygge, junto à àgua. As bicas não tinham sido abandonadas ali no Verão, não pensem: os seus donos estavam decerto nas imediações bebendo e rindo dentro de sítios quentinhos de boa comida e melhor bebida. Tudo caríssimo, claro.

Mas se acham esta coisa de ir de bicicleta jantar fora com -13ºC um pouco deslocada, o que dizer das meninas que tinha fotografado minutos antes, na Fridtjof Nansens, de vestidinho de verão, braços e pernas nus, a gritar histéricamente ao entrar para as limusinas??? Valha-me Deus...

Claro que o recorde foi mais tarde, já a sair de um bar não longe do hotel perto do Teatro Nacional. De acordo com várias testemunhas estariam uns -20ºC. Mas nessa altura já estava mais quentinho por dentro e cheguei ao hotel sem ter congelado nenhuma parte do corpo... Claro que não me arrisquei a tirar as luvas para sacar uma foto!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Portela, estás perdoada...

Poucas semanas atrás estava eu a mandar vir com o facto de no aeroporto da Portela ser quase sempre desembarcado na pista, tendo de apanhar um autocarro para chegar ao terminal. Mas esta revolta começa a ser subsituída por uma certa ternura para com o "meu" aeroporto.


Pois não é que noutros sítios, até em avançadas civilizações como a vikinglândia, também acontece o mesmo?! Com uma diferença apreciável, que talvez vislumbrem na foto, tirada enquanto eu dava pulinhos para chegar das escadas do avião que acabara de deixar até ao autocarro, no aeroporto de Oslo umas horas atrás. É que estavam dez graus abaixo de zero... Chiça... Quero voltar ao asfalto quentinho da Portela bem depressa!

De volta ao frio




O Asteróide voa e voa, mas não consegue ir aonde queria. Esse sítio tão longe que se fará esperar por algum tempo mais. Consciente finalmente que as suas órbita estão limitadas à sua terrena condição, e não conseguindo ir aonde queria nem reencontrar quem queria, voltou ao frio. Eis-me pois de novo na Noruega, depois de cá ter estado antes.
Deixo-vos alguma imagens deste encantador Inverno que chegou antes de tempo, mesmo para os padrões Noruegueses. Em Stavanger, onde estive desde ontem até hoje à tarde, o panorama é de conto de fadas. Hoje de manhã estava o céu azul e o branco da neve refulgia ao sol. O astro, envergonhadamente sempre próximo do horizonte, ao espalhar-se pela neve não deixou de ser amigo. Amigo, por exemplo, dos fotógrafos especializados em disparar pequenas Canon de dentro de taxis em movimento ou de aviões a levantar voo...

domingo, 28 de novembro de 2010

Tão longe

- Esta noite... Vê lá se percebes... Não venhas comigo.

- Vou! Vou! Não te quero abandonar!

- Mas há-de parecer que me dói muito... Há-de parecer que eu estou a morrer. Tem de ser assim. Não venhas ver uma coisa dessas que não vale a pena.

- Vou! Vou! Não te quero abandonar! (...)

- Fizeste mal. Vais ter pena. Vai parecer que eu estou morto e não é verdade...

Eu continuava calado.

- Percebes?... É que é muito longe e eu não posso levar este corpo... É pesado de mais...

In O Principezinho, Saint-Exupéry

domingo, 21 de novembro de 2010

Obamobil

Acho que já aterrei no aeroporto da Portela umas 10.253 vezes, e não me lembro de alguma vez ter a sorte de sair de forma decente do avião, por uma manga. Talvez uma vez, mas mesmo essa em falso: fomos de de imediato obrigados a sair da porta da manga para o asfalto exterior para apanhar um autocarro que nos levou a dar uma volta pelo aeroporto até à entrada que leva ao controle de passaportes. Enfim.

Mas por uma vez gostei de sair para a pista. Ali mesmo ao lado estava o passarão da foto e tanto eu como a multidão de noruegueses que voou comigo, todos vindos de Oslo na passada sexta-feira, disparámos as nossas câmaras, iPods, telemóveis e tudo o mais com lentes e um botão como se não houvesse amanhã. Também conhecido por Air Force One, o agora Obamobil aguardava pachorrentamente pelo dono enquanto este dedicou dois dias do seu precioso tempo à Cimeira da NATO que teve lugar em Lisboa por estes dias. Não que a foto ficasse alguma coisa de jeito, mas pode-se passar uma vida sem conseguir tal encontro imediato... a não ser quando se leva a vida do Asteróide, o que faz com que coisas assim aconteçam semana sim semana não. Até prá semana, Obama. Não sei é onde será...

Beam me up, Scotty

O que vêem na foto é naturalmente um extraterrestre a passear pelos arredores de Oslo na sexta-feira dezanove de Novembro de dois mil e dez. Por cima do dito ET vêem, obviamente, a sua nave com o feixe de teleporte já accionado. O único detalhe que até este momento não corresponde à verdade neste post é o título, uma piscadela de olho à famosa frase do capitão Kirk do Star Trek e não uma reprodução fiel da comunicação entre o ET e a sua nave. Essa reprodução mais fiel teria de ser algo como "tira-me já daqui que está um frio de rachar, cum carago!", o que não daria um título tão fixe nem tão atreito a atrair navegadores desatentos no Google.

Não me custa a acreditar que a plausibilidade do que acima digo possa ser posta em causa por alguns leitores. Mas a a verdade é que tive receio de relatar outra possível explicação da mesma foto. Alguém acreditaria que um português estava num comboio norueguês no tal dia de Novembro de dois mil e dez, a cento e cinquenta à hora, quando sacou da câmera fotográfica e disparou cirurgicamente, de forma a apanhar uma gigantesca estátua pós-moderna plantada no meio da neve? No exacto momento em que o poste de um candeeiro cruzava a lente? Nã...

Deve ter sido do frio

Quem leu os três posts anteriores sabe que o Asteróide esteve pela Noruega a semana que passou e que estava frio. Mesmo na primeira noite, em Kristiansand (bem no sul, junto ao mar, ainda sem neve e com temperaturas positivas durante o dia), o frio era de rachar e depois de jantar foram preciso uns valentes whiskys irlandeses para aquecer as entranhas... Foi nesse estado (aquecido...) que pela enésima vez me vi num país distante e alienígena com vontade de devolver parte dos líquidos sorvidos em quantidade respeitável. Também pela enésima vez, deparei com simbolos estranhos nas portas das casas de banho que me fizeram duvidar de qual seria a entrada certa para evitar embaraços. Uma situação destas pode mesmo levar à lapidação ou à decapitação... Se não acreditam relembrem o que aconteceu ao Asteróide uns anos atrás na terra do Sandokan!

E lá estava eu, a olhar para um esquilo. Ora eu nunca consegui dizer se um esquilo era macho ou fémea, pelo menos ao vê-los ao "naturel". Estava escuro, nem a palavra "Herrer" nem outros detalhes se destacavam o suficiente e não tinha presente que o sentido de humor dos vikings é brutal e completamente óbvio. Quando me lembrei desse facto já estava a apertar as perninhas e consegui finalmente perceber qual era o esquilo que me cabia. Este que aqui vêem, naturalmente... E a escolha foi boa: pude-me finalmente aliviar (embora em bicos de pés, porque quem instala urinóis na Noruega nunca pensou que uns gajos baixinhos do Sul ali fossem ali beber whisky irlandês) e não me apareceu nenhum juiz islâmico ou valquíria gorda a quererem cortar-me um pedaço de carne.

Um salto de cem milhões

Uma rampa cheia de neve. Por ela abaixo uns malucos escorregam até à extremidade de onde se lançam voando, todos esticados e inclinadinhos para a frente até o peito tocar os esquis. Assim planam (se tiverem sorte) até aterrarem umas dezenas de metros mais abaixo, ainda em plano inclinado, para deslizarem mais uma enormidade até conseguirem parar.

Esta "rampa", que em termos técnicos se deverá chamar "trampolim", está para este desporto de malucos que é o salto de esqui como o Mónaco está para a Fórmula 1 ou o Estádio de Wembley para o futebol: uma catedral da coisa. Apesar do seu ar futurista, a verdade é que o Holmenkollen (nome da colina que deu o nome ao trampolim de 60 metros de altura e ao pólo de desportos de inverno que abriga) nasceu ainda no século XIX e já vai na enésima reencarnação. A última deu-se por estes meses: cem milhões de euros investidos para preparar este gigantesco palácio dos desportos de inverno para o campeonato mundial de esqui nórdico de 2011. Viva o petróleo! O único problema orçamental da Noruega é o facto de lhe sobrar muito dinheiro... e começaram a faltar estados soberanos com as finanças suficientemente sólidas para se lhes comprarem títulos de dívida! Vai daí é melhor gastar a massa para que uns tantos loucos se partam todos a cair lá de cima aos trambulhões...

Brrrrr...




Este Novembro na Noruega tem sido mais frio do que o habitual. Claro que quem por lá chega vindo do Sul espera um frio polar, neve e talvez até mesmo o Pai Natal em qualquer altura do ano... E tudo isso encontrei quando por lá estive esta semana, excepto o velhote da barba branca. A verdade é que os noruegueses normalmente só esperam temperaturas fortemente negativas e neve em Oslo (que fica bastante a sul) lá para meados de Dezembro. Não este ano, como podem ver por estas fotos: neve a rodos tanto quanto a vista podia alcançar, onze graus abaixo de zero durante a noite em Oslo e títulos nos jornais chocados com os -25ºC que já se experimentaram mais a norte. Até a malta da publicidade aproveita o frio para vender... Bom, não faço ideia o que estão a vender, mas espero que ajude os pobres bacalhaus da foto.
Na sexta-feira, quando regressava de comboio ao aeroporto para apanhar o voo que me trouxe de volta a Lisboa, ainda estariam uns seis abaixo de zero e as casinhas das quintas destacavam-se na neve como se fossem parte de um presépio. Lindo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nils Holgersson

Os telhados brancos de neve e o rendilhado despido das árvores que vejo da janela hoje de manhã em Oslo fizeram-me sentir menino de novo. Aqui estou eu abraçado à minha mãe a Maravilhar-me de novo com a Viagem de Nils Horgerson, da Selma Lagerlof. O Nils teve de voar pelos céus da Suécia durante sete meses montado num ganso para se tormar um rapazinho melhor, eu tive mais sorte e fiz a viagem sem deixar o ninho, pela mão da minha mãe ao longo dos anos em que me fiz homem.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Outono primaveril

Ainda ontem era Junho e uma Primavera magnífica enchia-me a casa de vida. Agora é Outono, o Asteróide já perfez mais umas valentes órbitas e está de novo de passagem pelo campo aqui na Lusitânia. O meu cão do post de Junho fez-se à estrada no dia 1 de Setembro e nunca mais o vi. A sua companheira acompanhou-o mas, decerto farta da vida que levavam, passados dois dias voltou para casa. A videira selvagem da latada cobriu-se de vermelhos e laranjas e desatou a soprar folhas para a piscina. O plátano está mais atrasado mas já manda uma ou outra folha avantajada cá para baixo também. A passarada, pelo menos a que poisa por aqui, está gorda e anafada e chilreia como nunca. Qual Primavera... Se até as flores de alguns vasos escolheram desabrochar agora! As primeiras chuvadas já deram o recado que o Inverno que se aproxima deverá ser tão diluviano como o último, mas agora o Verão de São Martinho está por aqui. E a vida continua. Literalmente, como podem ver pela aparição da foto, a última aquisição da família (candidato a substituto do pirata que fugiu...). Venha o Outono!

BA 500

Para vocês este post pode parecer em código, mas não é. Para mim "BA500" significa "casa" em "aeroportês". Mais propriamente em dialecto de Heathrow, Londres, onde com alguma frequência desaguo indo para ou vindo de qualquer lado. O momento foi semanas atrás, regressando do Oriente, e os neons da foto foram música para mim... Casa!

Vertigo




Não, não se trata do filme do Hitchcock mas si do bar com a melhor vista de Bangkok. O Vertigo escolheu bem o nome: no 61º andar do Banyan Tree Hotel, o sitio é esmagador e no minímo vertiginoso. A cidade fica aos nossos pés e à noite o espectáculo é avassalador. Não passei lá de dia, quando a minha velha Canon de bolso conseguiria prestar um melhor serviço, mas creio que o que as fotos não dizem deixam adivinhar. Um sitío memorável, que recomendo a todos os que passarem por Bangkok.

Snooker com pernas



Antes de vos deixar sair da Nana Plaza em Bangkok (se não sabem o que é espreitem o post anterior...) não posso deixar de partilhar três fotos que, sem grande sucesso, tentam dar-vos uma ideia da espantosa coreografia que uma série de garotas providenciaram enquanto jogavam snooker. Bom, pelo menos a maioria seriam meninas, uma minoria era um pouco alta demais... A cena esteve em palco no último bar onde bebi um copo antes de voltar ao hotel. Por uns momentos ainda pensei que a dança se destinava a atrair machos para acasalar, mas quando por minha vez joguei contra uma das moças já tinha percebido que não era nada disso. Trabalho é trabalho, cognac é cognac, e as meninas aparentemente estavam a fazer um intervalo e levavam mesmo a sério o jogo! Para elas era cognac, e não trabalho: os machos à volta não eram potenciais clientes mas sim alvos a abater, a esmagar na mesa verde! À paulada, ou seja, com os tacos de bilhar... Todas elas jogavam melhor que os turistas que por ali bebiam uma cervejola e que iam tentando jogar quando havia vaga. Quando com muita sorte à mistura ganhei a única partida que joguei a minha adversária ficou danada! Acusou-me de fazer batota e delicadamente deixei-a ficar a jogar: a coisa era ao perde-bota-fora e eu não quis arriscar levar com o taco...

O pecado mora ao lado



Neste caso mora ao lado do finérrimo JW Marriot de Bangkok, onde pernoitei umas semanas atrás, já depois de Pattaya e antes de voltar para casa via Singapura. Refiro-me à Nana Plaza e imediações, nas traseiras do JW, onde tirei estas fotos... A Pattaya do post anterior é a versão balnear do forrobodó que na realidade começa na capital da Tailândia, a metropolis do pecado carnal cujo ponto-G é a zona de Nana. Não é mais fino que Pattaya, mas dá-me ideia que é mais descontraído. Foi possível passear, beber um copo aqui e ali, e nem por isso fui devorado. E nas ruas podemos recorrer a umas carripanas com grelhadores ambulantes, onde autênticos "chefs" grelham insectos e outros organismos vivos deliciosos que nos permitem encher o bandulho com a mais refinada "haute cuisine" tailandesa.

Claro que na Plaza propriamente dita, onde os bares se amontoam em três níveis como se pode ver numa das fotos, evitei entrar nos antros dos andares superiores. Só espreitei rapidamente ao passar por um e ia sendo sugado para aquilo que parecia uma caverna cheia de corpos nus a trepar por uns postes acima, Brrr... Para a posteridade deixo-vos uma "short list" de nomes de bares, uma toponímia pitoresca e auto-explicativa:

G-Spot, The Biggest Go-Go bar of Bangkok!
Carnival, Asia's only double Carroussell! (nem quero pensar o que será isto...)
Fantasia
Pretty Lady
Sexy Lady
Angel Witch
Spankys (ui...)
Red Lips
Annie's Do Do (ena!)
Annye's Soapy Massage, World Famous since 1972! (confesso que fiquei curioso à brava relativamente a este último...).

Claro que onde há pecado há redenção. Antes ou depois da função, todas aquelas massagistas sexuais e de egos rumam a altares existentes mesmo no meio do bulício, pequenos e discretos como o da foto tirada num beco escuro entre dois bares, para rezarem. Não consegui ouvir o que a menina ajoelhada estava a dizer ao Buda, por não saber ler pensamentos (que ainda por cima deviam ser em tailandês...). Mas acho que consegui adivinhar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fast food


Depois de Saigão no início de Outubro o Asteróide voou para Bangkok num voo da Airfrance. Durante o voo teve que choramingar e fazer olhinhos à hospedeira mais nova para conseguir pôr a mão numa garrafinha de tinto ao lanche. A outra hospedeira, velhota e mal encarada, já tinha frisado que o avião ia a caminho de Paris, só fazia escala em Bangkok, e que só no segundo trajecto é que o Baco desataria a regar os passageiros com Bordeaux. Foi assim que, apesar do Baco não ter colaborado, cheguei já de noite a Bangkok prontinho para ser levado seraficamente para Pattaya Beach pelo motorista que me calhou, a 140 numa autoestrada quase toda em linha recta os cerca de cem quilómetros, metade deles a ressonar, que nos separavam deste resort tailandês.
No pouco tempo que passei naquele triste lugar apenas tive tempo para dar uma volta pelas onze da noite, nas imediações do hotel onde me quedei, até conseguir encontrar um sítio decente para comer (o lanche da Air France não foi propriamente pródigo...). Para isso e para uma reunião rapidissima no dia seguinte de manhã, antes de voar baixinho com outro motorista de volta a Bangkok.

Como definir Pattaya? Imaginem um super mercado do sexo onde sessentões em crise se derramam sobre uma multidão de corpinhos frágeis que pululam no meio de um sítio que parece ter sido gerado por um cruzamento da Cova do Vapor com Torremolinos, com bares e boites porta-sim-porta-sim. Deve haver uma praia ali perto, pelo que transparece das fotos que tirei a partir do hotel. Mas nem a vi, seria penoso tentar chegar lá...

Nadando no Céu


No final do mês passado, antes de marchar para o Vietname e daí para a Tailândia, pude finalmente visitar o já famoso Sky Park de Singapura. Já aqui falei deste novo ex-libris de Singapura quando passei por Singapura em Abril, altura em que o jardim do céu ("sky park"...), com a sua piscina no topo do hotel do Casino Marina Sands, estava prestes a ser inaugurado. Desta vez lá deu para trepar ao enésimo andar do hotel do Marina Sands (estava num evento ali mesmo ao lado no novíssimo centro de conferências) num intervalo do trabalho. As fotos não fazem justiça a uma das melhores vistas urbanas do mundo, ao nível do The Peak de Hong Kong, porque foram tiradas com o telemóvel. A minha fiel câmera tinha ficado no quarto... A vista é de facto deslumbrante, em todas as direcções: do lado Norte pode-se nadar à vista das torres da City, para Sul a vista estende-se até às ilhas da Indonésia mais próximas e ao cardume de navios que constantemente saem do Estreito de malaca. A Leste está outro Ex Libris, o Singapore Flyer, a maior roda do mundo. Vista do Sky Park fica um pouco menorizada, coitada...