segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fast food


Depois de Saigão no início de Outubro o Asteróide voou para Bangkok num voo da Airfrance. Durante o voo teve que choramingar e fazer olhinhos à hospedeira mais nova para conseguir pôr a mão numa garrafinha de tinto ao lanche. A outra hospedeira, velhota e mal encarada, já tinha frisado que o avião ia a caminho de Paris, só fazia escala em Bangkok, e que só no segundo trajecto é que o Baco desataria a regar os passageiros com Bordeaux. Foi assim que, apesar do Baco não ter colaborado, cheguei já de noite a Bangkok prontinho para ser levado seraficamente para Pattaya Beach pelo motorista que me calhou, a 140 numa autoestrada quase toda em linha recta os cerca de cem quilómetros, metade deles a ressonar, que nos separavam deste resort tailandês.
No pouco tempo que passei naquele triste lugar apenas tive tempo para dar uma volta pelas onze da noite, nas imediações do hotel onde me quedei, até conseguir encontrar um sítio decente para comer (o lanche da Air France não foi propriamente pródigo...). Para isso e para uma reunião rapidissima no dia seguinte de manhã, antes de voar baixinho com outro motorista de volta a Bangkok.

Como definir Pattaya? Imaginem um super mercado do sexo onde sessentões em crise se derramam sobre uma multidão de corpinhos frágeis que pululam no meio de um sítio que parece ter sido gerado por um cruzamento da Cova do Vapor com Torremolinos, com bares e boites porta-sim-porta-sim. Deve haver uma praia ali perto, pelo que transparece das fotos que tirei a partir do hotel. Mas nem a vi, seria penoso tentar chegar lá...

Nadando no Céu


No final do mês passado, antes de marchar para o Vietname e daí para a Tailândia, pude finalmente visitar o já famoso Sky Park de Singapura. Já aqui falei deste novo ex-libris de Singapura quando passei por Singapura em Abril, altura em que o jardim do céu ("sky park"...), com a sua piscina no topo do hotel do Casino Marina Sands, estava prestes a ser inaugurado. Desta vez lá deu para trepar ao enésimo andar do hotel do Marina Sands (estava num evento ali mesmo ao lado no novíssimo centro de conferências) num intervalo do trabalho. As fotos não fazem justiça a uma das melhores vistas urbanas do mundo, ao nível do The Peak de Hong Kong, porque foram tiradas com o telemóvel. A minha fiel câmera tinha ficado no quarto... A vista é de facto deslumbrante, em todas as direcções: do lado Norte pode-se nadar à vista das torres da City, para Sul a vista estende-se até às ilhas da Indonésia mais próximas e ao cardume de navios que constantemente saem do Estreito de malaca. A Leste está outro Ex Libris, o Singapore Flyer, a maior roda do mundo. Vista do Sky Park fica um pouco menorizada, coitada...

sábado, 16 de outubro de 2010

Os Deuses dos Três Pastorinhos reencarnaram em Saigão!



No século passado, andava eu em pleno fervor farrista, escolhia assiduamente os Três Pastorinhos no Bairro Alto para abanar o capacete. Havia algo que me caía bem por lá no final dos anos 90, não sei se por por mérito da música se dos gins que já tinha emborcado noutras capelinhas antes de lá chegar. Os anos passaram e nos dias que correm o corpo já grita só para levantar um joelho, quanto mais para saltar freneticamente comme il faut... Mas, eis se não quando, vejo-me no início deste mês em Saigão o tempo suficiente para pernoitar por lá durante quase uma semana. Deu tempo para espreitar os templos nocturnos locais. Que afinal não se limitam àqueles bares esconsos dos quais nos desviamos para não acabar agarrados por uma matilha de vampiras que nos sugam para dentro, cravam bebidas e ainda nos põem a jogar snooker a dinheiro contra sessões de stripe-tease! E ainda por cima jogando bem... Dizia eu, afinal Saigão não é só esse tipo de lugares de perdição, que eu ouvi dizer que existem. Afinal à vida para além da vampiragem. Aconselho-os vivamente a beber um copo no Vasco's ou a dançar como se não houvesse amanhã no Apocalipse Now. Claro que as fotos de tais sítios não são das melhores, mas cá vai: a Alexandra que vêem a jogar snooker em grande estilo é a dona do Vasco's (o bar-disco adoptou o nome do seu filho), a danceuse de costas não faço ideia quem seja (nem o que queria) e, finalmente, os olhares desfocados da terceira foto foram captados no Apocalipse Now, uma discoteca à maneira sempre a bombar mesmo aos dias de semana. Por incrível que pareça, os deuses dos Três Pastorinhos reencarnaram no Apocalipse Now e os meus joelhos moveram-se de novo!

Às compras em Saigão: la derniére voyage du SS Normandie...





Saigão continua óptimo para comprar umas pechinchas, nomeadamente artesanato. Uma oportunidade óbvia são as miniaturas de navios em madeira, em alguns casos verdadeiras obras de arte que decerto consumiram umas centenas de horas de trabalho ao artesão e que estão disponíveis em lojinhas de rua por umas dezenas de dólares americanos. O problema é depois: como trazer a pechincha, que pode ocupar um caixote de proporções avantajadas, de volta a casa... Difícil, mas não impossível: foi o caso do SS Normandie, comprado na famosa Minh Hanh no District 1 ali nas imediações do Hotel Caravelle. Desde o momento em que o vêem ao colo do manganão da foto acima até ao topo do piano de minha casa aqui no no meio dos lusitanos sobreiros, o Normandie voou pela minha mão de Ho Chi Mon para Bangkok, de Bangkok para Singapura, de Singapura para Londres et, last but not least, de Londres para Lisboa no passado fim de semana. Os estragos foram mínimos e agora domina garbosamente a nossa sala como antes dominou o Atlântico Norte nos anos 30, batendo recorde sobre recorde de velocidade na travessia entre Le Havre e Nova Iorque. Se acham que pagar 55 dólares por este brinquedo para depois o carregar para o outro lado do mundo é chato, podem sempre recorrer à alternativa: comprarem um modelo idêntico na internet (não sei se tão perfeito...) e ficarem à espera que o entreguem em casa. Preço: 1500 dólares...

Já agora que estamos a recordar Saigão e compras, deixo-vos também mais umas fotos bem específicas do mercado local, desde as cobras e escorpiões "engarrafados" do mercado Ben Thanh (onde se pode comprar de tudo, nomeadamente excelente roupa de marca - palavra! - a preços da uva mijona) às cenas do comércio de rua, bem no centro de Saigão: as vendedoras de fruta que pululam em cada esquina e o reparador de bicicletas, ainda um dos principais meios de locomoção no Vietname.

domingo, 10 de outubro de 2010

Noivas de Saigão


As imediações da Catedral de Nôtre-Dame (a de Saigão, não a de Paris...) são um dos locais favoritos para os jovens casais de noivos encenarem as sessões de fotos da praxe. Deixo-vos com duas fotos do passado fim de semana: numa delas a noiva parece não querer desistir do papel de Miss Saigon...

Esturjão na estrada de Vung Tau




A estrada que liga Ho Chi Min a Vung Tau é uma séria candidata ao título de pior estrada do mundo... Pejada de carros, camiões e motas em trajectórias imprevisiveis para evitarem os buracos (por vezes crateras com dezenas de metros de extensão...) e se desviarem uns dos outros, a estrada liga os dez milhões de habitantes de Saigão à "capital do offshore", a estância balnear de Vung Tau, pouco mais de cem quilómetros a leste. Apesar de não ser longe, pode levar-se mais de três horas a tranpôr a distancia!

Encontrar um bom restaurante para jantar na passada segunda feria à noite, ao regressar de Vung Tau para HCM, seria portanto a última coisa que esperaria conseguir. Mas aconteceu! Entre duas casas abarracadas das muitas que acompanham quase toda a estrada de ambos os lados, uma parede de alvenaria mais bem construída exibia um portão que dava acesso a um extenso restaurante. Era constituído por vários pátios em torno de um lago interior e uma área onde a "comida" ainda viva podia ser apreciada e escolhida fresquinha. Aqui estão as fotos, desde os mais arrojados pitéus (as rãs que se comem inteiras e as cobras aos bocadinhos) aos mais raros: esturjão! É raríssimo encontrar um na russia, quanto mais num restaurante na berma da estrada de Vung Tau... Mas aqui está a prova que os milagres acontecem (devo ter acertado com um pauzinho de incenso no G-Point do Buda uns dias antes...). Escolhemos um dos dois esturjões que estavam a nadar e imediatamente o fizeram saltar para a balança, e depois para o tacho. Mmmh... Do melhor. Este já não dará caviar, mas deu um jantar opíparo do melhor que já provei!

Orando ao Buda




A religiosidade na Ásia reveste-se de aspectos mais filosófico-supersticiosos do que propriamente beatos. Ora-se ao Buda como forma de lembrar e respeitar os antepassados e com uma sensação de que "é melhor colocar aqui uns pauzinhos de incenso para dar sorte", não propriamente por medo de ir para o inferno. Busca-se sorte para os negócios, para os amores, etc. Ou, no caso de ser tarde de mais, busca-se a redenção através de formas mais extremas de agradar ao buda... No Vietname os pequenos altares descobrem-se um pouco por todo o lado, sempre com os pauzinhos de incenso prontos para serem inflamados e depositados nos sítios certos. Normalmente usam-se três pauzinhos: dois para os antepassados um terceiro para o Buda. A todos se pedem desejos. Nas fotos acima, tiradas no início da semana que passou, podem ver um destes casos: a jarra com os pauzinhos mesmo ao pé do altar construído estratégicamente numa colina sobranceira à nova refinaria do Vietname em Dung Quat. Espero que os mestres Feng Shui que escolheram criteriosamente o local tenham feito um bom trabalho: toda a ajuda é pouca para garantir o sucesso deste difícil parto industrial. Lançada em cooperação com os russos em 1991, só há uns meses a refinaria começou a trabalhar...

Nas outras duas fotos ficam a conhecer um caso que tem dado que falar na Conchichina. Vestido como um monge, o senhor que vêem desfocado espojando-se na berma da estrada é na realidade um médico que, por erro ou por ter acendido mal um pauzinho de incenso, acredita ter contribuído para a morte de uma criança no decorrer de um tratamento. Para se redimir está há uns meses a cumprir a promessa de caminhar de Saigão para Hanói num percurso de mais de três mil quilómetros. Para que não fosse assim tão fácil, desloca-se caminhando por cima de três leques avantajados, que coloca em fila abertos à sua frente, antes de dar os próximos passos. Quando chega ao fim espoja-se de novo, recolhe os leques que ficaram para trás e estica-os sobre os próximos metros, reiniciando mais um ciclo. Nestes preparos vai arrastando multidões, como a que aqui vêem. Quando me aproximava, o motorista teve que parar e avançar lentamente entre os voyeurs. Pensei tratar-se de mais um acidente. Afinal era o nosso médico-monge, já uns setecentos quilómetros a norte de Saigão, em busca da redenção.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Três anos de Asteróide

Daqui a menos de uma hora o Asteróide perfaz três anos. Por coincidência a rota actual trá-lo de volta ao Sudeste Asiático. No meio do autêntico super mercado do sexo que é Pattaya Beach na Tailândia, onde os afazeres me trouxeram para uma noite e uma reunião rápida no café da esquina, o espírito do Asteróide esmorece um pouco, mas não podia deixar de assinalar a ocasião. Cá voltaremos para contar, mas por enquanto a intenção é soprar as velinhas. E prestar a devida homenagem ao verdadeiro autor do Asteróide, o artefacto que vêem na foto. É esta lente maníaca que não consegue ficar quieta, para depois me obrigar a seleccionar alguma coisa de jeito de entre milhares de fotos... Mas eu perdoo a minha pequena Canon, é uma companheira inseparável que nunca me deixou ficar mal. Desde meados de 2006, antes do Asteróide nascer aqui perto, em Singapura, que esta menina me acompanha. Na realidade foi por acidente que nos encontrámos. Outra muito parecida a antecedeu por uns meses, comprada no início de 2006 quando me mudeia para a Ásia. Mas a pobrezita faleceu poucos meses depois, durante umas férias em Portugal em que entre outras coisas menos recomendáveis para quem já não tem vinte anos me armei em espeleólogo e dei uma queda quando tentava escalar-me de volta à saída no poço de uma gruta. Esborrachada no Algar do Ladoeiro perto de Minde: RIP...


O azar de umas é a sorte de outras, e cá está a minha "nova" velhinha Canon, comprada na Sim Lim Square de Singapura depois de algum regateio, quatro anos atrás. Parece pouco, mas quatro anos é muito tempo para quem leva a nossa vida! Aqui está perante vós, agradecendo a atenção com que têm olhado para a sua obra, toda riscada e com o cabo de corda já no fio, mas orgulhosa por sair por fim do anonimato... Obrigado a ela e a vocês por estarem por aí a ler isto!

Motolândia



Apesar do Dó Mói de que falo no post anterior, há coisas que não mudam no Vietname. Uma delas são os milhões de motas que continuam a assolar estradas e ruas e a forma como os Vietnamitas as usam. Deixo-vos uns poucos exemplos, desde a típica família de quatro (já as tenho apanhado aos cinco na mesma mota...) onde os pequenos dormem a sono solto enquanto o pai guia a coisa no meio da maior confusão, até à moto-cargueiro perto de Dung Quat, passando pela admiração da pequenita que de repente vê este extra terrestre da Bô Dào Nha a tirar-lhe uma foto! Se estão a ler o Asteróide é porque gostam de sítios estranhos, por isso recomendo que cliquem no link para saberem mais sobre Bô Dào Nha...

Dó Mói


Dó-Mói em Vietnamita significa "mudança". E mudança não falta na Conchichina, a passos largos. Do Moi é também o termo escolhido pelo Estado desde 1991, quando a queda da União Soviética deixou o Vietname sem as ajudas dos camaradas e a ter de fazer pela vida... É um termo que está para o Vietname como "Perestroika" para a Russia e estabeleceu uma série de novas regras que têm aos poucos feito a economia do Vietname funcionar de forma mais parecida com uma economia de mercado.

Desde que comecei a visitar o Vietname com frequência no início de 2006 cada seis meses permitem notar diferenças, principalmente em Saigão (Ho Chi Min City, alcunha HCM). As ruas e estradas ainda são um rio de motas, mas agora imensos carros navegam nessa corrente de motociclos. Não era assim há cinco anos atrás. Muitas páginas do meu passaporte depois (cada visto à chegada consome uma página inteira...) é possível hoje tirar uma foto como a deste post, tirada dias atrás em HCM: um espectacular arranha céus (não me lembro de ver este em Outubro quando estive por cá a última vez...) contrasta com a senhora da fruta, que como muitas colegas de profissão continuam a calcorrear a cidade vendendo fruta, água de coco e garrafas de água mineral que, claro, apenas contêm pouco recomendável àgua da torneira. Ou o último modelo da BMW passando pela foice e martelo de forma muito natural...
Desde que chegou ao Vietname na passada sexta feira o Asteróide adquiriu uma sub-órbita bem cansativa, de HCM voando para Dung Quat e Danang no centro do país, ou penando de carro três horas para ligar HCM a Vung Tau, uns meros 100 Km de pesadelo. Esta estrada continua uma das piores do mundo, ouço dizer que a Do Moi só resolverá o assunto daqui a uns dois anos...

Saigão foi bom. Como de costume fotos há muitas, tempo para as partilhar é que escasseia. Tentarei contar-vos mais em breve... Agora já me mudei para a Tailândia, pelo que será difícil pôr a escrita completamente em dia!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Do Lamborghini amarelo ao búfalo de Mindanao, passando pelo caixão da Miss Kitty



Quem liga alguma coisa ao Asteróide sabe que este tem um certo fascínio pelas notícias dos jornais asiáticos, em particular as recolhidas em Singapura. Estando de novo de passagem pela Lyon City, e antes de marchar para a Conchichina logo à tarde, não podia deixar de partilhar aqui mais umas notícias pitorescas.

O Sr. Koh está preso. Assim ficará, pois não consegue pagar os 1,5 milhões de dólares de fiança que lhe foi estipulada. Não consegue porque estourou todo o dinheiro que gamou no cumprimento do seu trabalho ao serviço do Estado, como funcionário público. Estourou a massa toda a tentar passar despercebido: apartamentos de luxo, Mercedes à pazada e, para que de uma vez por todas não se pudessem aperceber que ele era apenas um honesto manga de alpaca vivendo do seu salário no Estado, um Lamborghini que custou um milhão e meio de dólares...
Quem já ultrapassou estas preocupações mais terrenas (por exemplo ler as intruções de uso do Lamborghini) dedica-se à arte. É o caso de um grupo de idosas que como terapia para reduzir a angústia da morte pintam os seus próprios caixões. Sábiamente conscientes que a maquillage não se vai aguentar muito bem quando descerem à terra, usam esta maneira mais duradoura de se apinocarem.

Enquanto Mr. Koh acelerava no seu Lamborghini e a nonagenária Miss Kitty dava umas pinceladas no seu caixão, algures na cidade uma "made" filipina ou indonésia enrolava-se com o seu namorado bangladeshi. Uma em cada duzentas criaditas internas que as famílias de Singapura importam à pazada, através de agências, acabam repatriadas porque cometem a imprudência de engravidarem. Diz o Sr. Silva (sim, é mesmo Silva, Martin de sua graça...), dono de uma dessas agências, que são as mais "experientes" (leia-se estarem aqui enterradas longe de toda a família há uma data de anos), com acesso a telemóvel e com um diazito de folga ao Domingo (estragam-nas com mimos!), que acabam por dar estes "problemas".

No dia do Juízo Final uma quermesse venderá o espólio de todos os Kohs deste mundo às velhinhas ricas que não querem morrer sem dar uma volta de Lamborghini e o dinheiro obtido será oferecido às mades filipinas de Singapura. Estas poderão voltar à sua aldeia no meio da selva em Mindanao, construir boas casas, ter filhos do seu amor local e passar as tardes estiraçadas de costas em cima do seu bufalo, a olhar para o céu azul enquanto este rumina plácidamente com àgua pelo joelho no meio dos arrozais. As suas mãos vão beliscando a pança do animal para saber quando este finalmente encheu a barriga. Com o sol já a pôr-se, voltará montada no bicho para o seu lar. Os seis filhos gritarão de prazer ao vê-la chegar e o pai deles, que já não precisa de andar embarcado, sorrirá para a sua amada. A criada Singapurense já pôs a mesa e começa imediatamente a servir o jantar.