domingo, 30 de maio de 2010

Maré negra no Estreito




Na quinta-feira, três dias atrás, estava eu ainda em Singapura quando finalmente a "maré negra" a que também tivemos direito por aquelas bandas deu à costa. Estava no último dia de uma prolongada estadia na "minha" Singapura e já a fantasiar o regresso ao meu cantinho, ao Portugal de Junho, de calores e terra perfumada, de onde agora vos escrevo. Ainda faltam dois dias para o mágico mês, mas aqui onde me sento parece que já chegou! Já me estou a perder...

Voltando à passada 5a feira, estava eu com uma sensação de dever cumprido a planear o dia (último relatório, emails de despedida, fazer as malas e pouco mais) quando ao pequeno-almoço li a notícia no Straits Times que me fez dar um salto ao East Coast Park. Na madrugada de terça-feira anterior 2500 toneladas de crude haviam sido derramadas quando um petroleiro colidiu com um cargueiro numa passagem mais estreita no final do já de si Estreito de Malaca, à saída das águas de Singapura na direcção Sudeste, a 6 Km da ponta de Changi (o extremo leste de Singapura, onde se encontra o aeroporto e onde durante a segunda guerra os japoneses criaram um campo de prisioneiros britânicos que ficou imortalizado no livro "King Rat", de James Clavell, mais conhecido por ser o autor do badalado e televisionado "Shogun"). Lá estou eu a dispersar-me de novo...

Resumindo: na quarta-feira ao fim do dia o crude deu à costa, apesar de todos os esforços de uma mini-frota de dezanove embarcações e cento e vinte pessoas que com recurso aos mais modernos meios tentaram conter a mancha negra. E se Singapura está bem preparada para tal... Como não poderia deixar de ser: basta olhar para a foto do post anterior ou uma das fotos acima para se poder deduzir que, com tal volume de tráfego marítimo permanentemente a poluir a linha do horizonte, estranho mesmo é que acidentes destes não aconteçam mais vezes! Quando finalmente o Asteróide chegou às praias do East Coast Park já cerca de 7 km de linha de costa, desde a ponta de Changi até ao Big Splash, tinham sido atingidos pelo crude. Entretanto o impacte no areal tinha sido minimizado e colocado nos sacos de plástico negros que acima se vêem. Portanto a visão não era tão cataclísmica como eu cheguei a rechear. Mas as ondas ainda se enrolavam viscosas, e os banhos estavam naturalmente interditos. Foi a minha despedida desta enésima visita a Singapura, uma estadia de sete semanas entrecortada com um "saltinho" à Gringolândia via Toquio.

Agora os cães dormem à sombra da vinha selvagem que cobre a pérgula por cima da porta da cozinha, a gata não pára longe, embora sempre de olho nos canídeos, as tartarugas não param já, porque fugiram do canto onde as confinávamos e estarão algures pelos campos agrícolas que me rodeiam procurando o sentido da vida para anfíbios de trinta centímetros de comprimento, o peixe parou de vez, um verdadeiro matusalém dos peixinhos de aquário que só entregou a alma ao criador depois de ver a casa esparramar-se no chão da cozinha, onde passou 24 horas a estrebuchar até se cansar. Com os cumprimentos da sádica gata. Fui eu buscá-la ao cimo do meu pinheiro para isto... Bom, em suma: férias em casa durante uma semana!

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