quarta-feira, 19 de maio de 2010

O país dos mexilhões poliglotas

Acho que já vos tinha dito, mas fica de qualquer modo parte da justificação do título: em Singapura não há uma, nem duas, nem sequer três linguas oficiais... São quatro, aqui bem expressas neste placard de uma obra vizinha: o Inglês, o Mandarim (a língua-franca da China), o Malaio (que mais coisa menos coisa se fala também na Indonésia) e o Tamil (linguarajar do Sul da Índia, de onde a maior parte da migração de etnia indiana que ajudou a construir Singapura é proveniente).


Para além desta multitude de etnias, religiões e culturas, que o governo desta Cidade-Estado gere "com pinças", Singapura caracteriza-se ainda por uma elevadíssima população estrangeira, que atingiu 1,78 milhões em 2009 (cerca de um terço da população total). Mais um, que sou eu, que frequentemente por aqui ando também a agitar o cachecol do Benfica.

Ser uma folha ao vento da História e dos poderes demográficos e geopolíticos globais leva o Estado de Singapura a extremos de planeamento e antecipação estratégica. Se os 240 milhões de indonésios aqui do lado espirram (a Indonésia é o maior país muçulmano do planeta) ou os malaios enlouquecem (ainda mais...), ou os chineses se pegam com a Índia, ou... Quem soube descrever bem o estado de espírito aqui do burgo foi o fundador da Pátria, Lee Kwan Yew, quando há muitos anos inventou este analogismo, a propósito da Guerra Fria: "quando dois elefantes lutam, quem sofre é a relva...". Uma versão asiática do "quem se lixa é o mexilhão...".

O filho de LKY acabou por suceder ao pai como primeiro-ministro, ou seja, o "boss" actual. O Presidente de Singapura, por acaso de etnia indiana, ocupa um cargo pouco mais que protocolar, ainda manda menos que o Cavaco... LKY, embora reformado, continua no entanto a deixar cair umas gotas de sabedoria aqui e ali e a fazer visitas de estado que são seguidas internacionalmente com atenção. O seu cargo é agora o de "Minister Mentor", ou seja, uma espécie de Avô Cantigas da política internacional. O que perdeu de autoridade executiva ganhou em sentido de humor: numa visita dias atrás à China foi instado a actualizar a sua analogia dos elefantes, agora no contexto da bipolaridade EUA - China. "Quando duas baleias lutam, o mar fica bravo... Quando duas baleias fazem amor: o mar fica bravo também!". Uma pérola...

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