terça-feira, 1 de junho de 2010

Doce Junho e o fim do mundo

No post anterior bem me queria concentrar no viscoso relato da maré negra que na semana passada assolou a costa Sudeste de Singapura, mas a pena escorregava-me para o presente: o doce Junho que chegou a Portugal. Quando saí de cá há umas sete semanas atrás o sol só timidamente sobrevivia para lá das sete e trinta da noite, o tempo estava fresco, a latada que na foto de hoje vêm frondosa ainda estava despida, a gata ainda fugia dos cães e o dito da foto estava um pouco mais pequeno. E as tartarugas não tinham ainda fugido, nem o Matusalém dos peixes tinha morrido. Ou seja, num piscar de olho (um simples salto ao sudeste asiático complementado com uma escapadinha à Gringolândia) o meu pequeno mundo caseiro transformou-se irreversivelmente. Qual vulcão islandês, qual crise grega, qual euro fraco, qual PEC! O verdadeiro Sinal que o mundo vai acabar está todo nesta foto, em que a minha gata se prepara para passar ufana pelos bigodes do meu cão, com passo imperial a modos que de desprezo. E o pobre parece mirá-la em pontas dos pés, pronto a fugir ao mínimo assanho da rebitesa criatura, vergado ao papel de mero súbdito de Sua Alteza, Le Chat aqui da quinta.

Tirando este óbvio sintoma que o Armagedão está próximo e a morte do pobre peixe (às mãos de Sua Alteza, claro está...), tudo o resto parece na paz do senhor, tendo mudado para melhor. Embora não espere que as tartarugas me escrevam lá de Kathmandu, onde já devem ter chegado, a verdade é que a dispensa de alimentar suas excelências compensará as saudades. A vinha selvagem que compõe a latada cresceu súbita e desmesuradamente esta Primavera, a estrutura de madeira e arame que a carrega ajoujada ao peso de muito quilos de folhas e ramos que cresceram como nunca graças à água que a terra acumulou este Inverno. É bem agradável sentir o fresco desta sombra aqui na entrada da cozinha, quando as temperaturas já passam os trinta graus a maior parte do dia e este se prolonga quase até às nove da noite com luz solar. É um Junho doce, em Portugal.

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