quarta-feira, 8 de abril de 2009

Crónicas da Gringolândia 3: AK47 e Focas

Circunstancias várias têm-me feito voltar com frequência a terras do Tio Sam. E a procissão ainda vai no adro... Mais vale portanto não puxar muito pela cabeça para inventar um título para cada passagem por estas paragens, porque vão ser muitos. Depois do Bienvenidos a Houston de há um ano atrás e do trautear do genérico do Dallas (a série...) de há um par de meses atrás, fico-me portanto agora pelo singelo Crónicas da Gringolândia 3. Ou talvez não, pois acabei por não resistir em retocar a coisa com um sub-título guerreiro.


Estou mais uma vez pelo Texas, e apercebo-me agora que talvez não tenha sido por acaso que Bush O Jovem tenha sido gerado por aqui. Tentar fazer um filho rodeado destes horizontes poeirentos e de gente que não diz coisa com coisa... A pobre Laura decerto não conseguiu melhor que o dito cujo. Mais valia ter tomado precauções, o que por aqui é fácil: elas (as precauções) até já se compram em Take Aways sem sair do carro! Bom, pelo menos é o que esta foto tirada ao virar da esquina do hotel sugere.

Estou para aqui a escrever e não digo nada... Mais uma vez é quase só trabalho, mas desta feita com mais conversas de corredor com colegas Texanos. Os temas de conversa derramam-se em direcções que nos levam a pensar que afinal o que vemos nos filmes americanos de pancadaria são meras aproximações da realidade. Vejamos...

Take 1: um filme publicitário mostra uma boazona em casa, falando com os filhos por telefone, mandando beijinhos aos papás, desejando ao marido que volte da sua viagem de negócio. Entretanto vê-se um gajo meio marreco com todo o ar de serial killer de pilinha pequenina a aproximar-se da casa, espreitando pelas janelas, sorrateiramente a chegar-se à porta com faca na mão. A singela Dama, por artes de quem filma, parece um autêntico carneirinho pronto a imolar. O manganão baba-se sobre a barba mal feita, lança a mão à porta e força a fechadura com a facalhona. Último take: a loiraça vislumbra o meliante pelo canto do olho, saca de uma metralhadora AK47 da gaveta do móvel do telefone e rajá-tá-tá-tá que aqui vai disto! Disto é a porta, o vaso da entrada e o Lobo Mau, tudo pulverizado numa fracção de segundo. Moral da história: não fique à espera que a sua vida acabe como um filme de terror, vá já ao virar da esquina comprar uma AK47. Ou uma bazuca. Ou um tanque.

Take 2: ainda a rir-se depois de ver o Lobo Mau a ir pelo ar, outro colega, à vista da AK47, informou que também possuia uma destas maravilhosas ferramentas de costurar botões de chumbo nos costados do próximo. E logo se queixou do Obama. Pois não é que as ameaças do Presidente em limitar o acesso a armas e munições provocaram uma autêntica corrida às balas??? O nosso amigo está nervoso pois não consegue dar de comer à AK47, ainda no outro dia uma loja próxima recebeu um camião de munições que se esgotaram em 4 horas, antes de ele ter tempo de lá chegar...

Take 3: como a conversa ia para o lado do tiro neles, um outro colega relata orgulhosamente a ligeira amizade com um vizinho de rua, um Seal reformado. Literalmente traduzido, "seal" é uma "foca", mas Seal é na Gringolândia a designação de uma tropa especial que gosta de chegar ao campo de batalha a nadar. Ora este cinquentão ex-Seal pôde reformar-se por algo que considero dever ficar no topo da lista do Livro dos Records das razões mais estúpidas para viver à conta dos contribuintes: um joelho da foca começou a fazer barulho. Tric-trac, tric-trac, isto enquanto se desloca em bicos de pés, como quando se aproxima por trás de um Taliban para lhe cortar a garganta, acção cujo sucesso depende naturalmente do mais sepulcral silêncio. Terrível destino o do Foca, carimbado como inepto para degolar inimigos pela calada da noite. O pobre homem descreveu presurosamente ao meu colega como tal facto o impedia assim, para todo o sempre, de praticar o cerebral desporto de fazer guerra psicológica ao inimigo: entrar-lhe no acampamento com lua nova, penetrar numa grande tenda onde todos os valorosos guerreiros inimigos ressonam sem sentinelas, verdadeiro Grendel dos tempos modernos só que sem o Bewoulf à perna, cortar a garganta silenciosamente ao que dorme no centro e sair sem que ninguém note. Na manhã seguinte todos os (mais de 30, seguramente) Talibans se arrepiam com o sangue derramado e não mais conseguem dormir com a perspectiva de não acordarem na manhã seguinte. Passadas duas noites já nem conseguem rezar e à terceira noite começam a matar-se uns aos outros, acusando-se mutuamente da primeira morte.

Minha nossa senhora... Mais Crónicas da Gringolândia são esperadas lá para o início de Maio. Mas antes disso espero voltar com relatos de novas paragens. Fiquem por aí.

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