domingo, 10 de outubro de 2010

Orando ao Buda




A religiosidade na Ásia reveste-se de aspectos mais filosófico-supersticiosos do que propriamente beatos. Ora-se ao Buda como forma de lembrar e respeitar os antepassados e com uma sensação de que "é melhor colocar aqui uns pauzinhos de incenso para dar sorte", não propriamente por medo de ir para o inferno. Busca-se sorte para os negócios, para os amores, etc. Ou, no caso de ser tarde de mais, busca-se a redenção através de formas mais extremas de agradar ao buda... No Vietname os pequenos altares descobrem-se um pouco por todo o lado, sempre com os pauzinhos de incenso prontos para serem inflamados e depositados nos sítios certos. Normalmente usam-se três pauzinhos: dois para os antepassados um terceiro para o Buda. A todos se pedem desejos. Nas fotos acima, tiradas no início da semana que passou, podem ver um destes casos: a jarra com os pauzinhos mesmo ao pé do altar construído estratégicamente numa colina sobranceira à nova refinaria do Vietname em Dung Quat. Espero que os mestres Feng Shui que escolheram criteriosamente o local tenham feito um bom trabalho: toda a ajuda é pouca para garantir o sucesso deste difícil parto industrial. Lançada em cooperação com os russos em 1991, só há uns meses a refinaria começou a trabalhar...

Nas outras duas fotos ficam a conhecer um caso que tem dado que falar na Conchichina. Vestido como um monge, o senhor que vêem desfocado espojando-se na berma da estrada é na realidade um médico que, por erro ou por ter acendido mal um pauzinho de incenso, acredita ter contribuído para a morte de uma criança no decorrer de um tratamento. Para se redimir está há uns meses a cumprir a promessa de caminhar de Saigão para Hanói num percurso de mais de três mil quilómetros. Para que não fosse assim tão fácil, desloca-se caminhando por cima de três leques avantajados, que coloca em fila abertos à sua frente, antes de dar os próximos passos. Quando chega ao fim espoja-se de novo, recolhe os leques que ficaram para trás e estica-os sobre os próximos metros, reiniciando mais um ciclo. Nestes preparos vai arrastando multidões, como a que aqui vêem. Quando me aproximava, o motorista teve que parar e avançar lentamente entre os voyeurs. Pensei tratar-se de mais um acidente. Afinal era o nosso médico-monge, já uns setecentos quilómetros a norte de Saigão, em busca da redenção.

Sem comentários: