sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Alguém viu o meu cavalo?

Passei os últimos dias em Londres, onde o frio e a chuvinha enregelante não me congelaram os neurónios, como alguns de vocês pensarão por enquanto, ao tentar relacionar o título do post com a foto... Já lá vamos.

Costumo gabar-me da sorte que normalmente tenho em Londres, onde contra todos os estereótipos costumo apanhar sol. Não desta vez... Só o facto de ter estado recentemente em Cleveland, que no Inverno parece o planeta Urano com 273 graus abaixo de zero, me deixou deambular por Londres sem apanhar uma depressão nem ver uma extremidade amputada. Quanto ao resto, Londres continua no seu melhor e um dos meus sítios preferidos. O "melting pot" mantém-se presente, mas sem ofuscar a elegância "very british" da gente que passa nem prejudicar a "cultura de pub" que nos possibilita matar a fome, elevar o espírito com fermentados de cevada e manter uma conversa profundíssima com um perfeito desconhecido em sítios quentinhos e acolhedores como só num pub de Londres, daqueles fundados hà 500 anos como todos os outros e que se encontram aos dois em cada rua. Carnegie está talvez demasiado "teen", mas Picadilly continua com o charme de sempre e os Táxis funcionam maravilhosamente. E na zona de Belgrave Square continua a aspirar-se o ambiente de bronzes e fachadas brancas entre colunas que define a elegância urbana de Londres como poucos sítios mais, entre Embaixadas e carros de luxo.

Basta de elogios. No que respeita a hotéis, o risco de pagar uma pipa de massa para ficar num hotel de quatro estrelas perto de Belgrave, de forma a ir a pé para onde tinha que ir pelas manhãs, e em resultado ficar a dormir num vetusto pardieiro que por 170 libras por noite me deixa ouvir Londres inteira entrando pelas janelas gemebundas dumas águas furtadas é, digamos, elevado. Ninguém diria que o Grosvenor Hotel (soa tão bem...) me surpreenderia desta maneira pitoresca, quando se entra no sumptuoso lobby e se fica esmagado com as madeiras, o piano, os panos, um ligeiro kitch que se atura porque parece querer indicar algo antigo e digno. Mas não, era velho e indigno... O serviço na recepção demorava eternidades, com os jovens de todo o mundo que ali trabalham a meter os pés pelas mãos e a demorar 15 minutos para fazer um check out que na América demora... 1 segundo! O bar fez o seu melhor para nos escorraçar de lá, com os lúgubres empregados polacos a tentar não nos verem. O ar condicionado do quarto era decerto barulhento porque tentava assim disfarçar o ruído da rua, mas que dizer do autoclismo ineficiente, das torneiras dos anos setenta a abanar, da cama estreitinha???

Foi por isso que pensei em inventar alguma coisa no fim da estadia que me valesse uma indemnização por todo o sofrimento (o menor dos quais não foi o ficar mais pobre umas centenas de libras...). O meu plano foi dizer que me tinham roubado o cavalo em que me deslocava. Estava ligeiramente ao corrente de uma lei dos anos cinquenta que obriga os hotéis em Inglaterra a indemnizar os hóspedes por extravio de bens, e como um cavalo desaparecido não está lá para nos corrigir poderia dizer que era um puro sangue árabe descendente em linha directa da pileca de Alexandre o Grande, valendo tanto dinheiro que até tinha que estar cotado em Bolsa. Bom, o hotel tinha de facto um catrapázio, informando simpaticamente que vigorava o Hotel Proprietor's Act de 1956 garantindo que seria indemnizado de qualquer perda. Excepto "motor-cars" ou... cavalos! Lá se foi o meu plano por água abaixo. Mas fiquei com um título para o blog.

Perguntarão vocês: mas o que é que o cavalo tem a ver com a foto? Não faço a mínima... Como sempre a minha colecção de fotos desta viagem é um amontoado de imagens borradas, desfocadas, encandeadas por flashes nos vidros dos taxis, aviões, comboios e riquexós que insistem em me levar alucinantemente de um lado para o outro. Ficou esta menos mal, com a sorte de ter apanhado uma espécie rara (a "águia dourada do enbankment"...) pousada no Big Eye. Tentarei apanhar um cavalo na roda gigante, para a próxima.

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